Fórmula pronta: basta aquecer
“Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!” diz o Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas. No mundo real e com uma série de tarefas a cumprir, está Amy Mitchell (Mila Kunis), jovem mãe de dois pré-adolescentes e tão esbaforida – e atrasada – quanto o coelho da famosa história de Lewis Carroll. Suas funções são apresentadas em sequência já no início do filme e narradas pela personagem, que leva uma esnobada das peruas-mães-em-tempo-integral Gwendolyn James (Christina Applegate), Stacy (Jada Pinkett Smith) e Vicky (Annie Mumolo). Elas tentam fazer com que Amy se sinta culpada por trabalhar. Por tocar nesses pontos e pelo que vem a seguir, é bem provável que muitas mães se identifiquem e se divirtam com o filme. Mas ainda que haja boas interpretações, o longa não passa de uma sucessão de clichês e não apresenta nada de novo.
Escrito e dirigido por Jon Lucas e Scott Moore, os mesmos roteiristas de “Se beber não case”, “Perfeita é a mãe” tenta divertir com as “transgressões” de três mulheres que chutam o balde e juntas fazem loucuras, assumindo que não são perfeitas em seus papéis maternos. Kiki é a esposa submissa, isolada socialmente e oprimida pelo marido, interpretada por Kristen Bell, a mais natural e convincente do trio, embora Kathryn Hahn, como a desbocada Carla, pareça roubar a cena várias vezes. Sim, ela é engraçada e surpreende no começo; mas depois sabemos que o que sempre sairá de sua boca é uma enxurrada de palavrões e a personagem acaba se tornando previsível e ao mesmo tempo cansativa, quase uma caricatura.
As “aventuras” em que as três se envolvem se sucedem de uma forma um tanto aleatória. Por exemplo: Amy diz que o marido – que ela já havia expulsado de casa, aliás – está com a amante; Carla decreta: “Você tem que transar!” e de imediato tanto ela quanto Kiki passam a analisar o guarda-roupa de Amy para uma noite de caça. Este momento finalmente tem boas falas, realmente engraçadas; diálogos espirituosos não são maioria no filme.
Christina Applegate faz uma vilã venenosa e manipuladora, a loura má que não desce do salto e não dá o braço a torcer. Destaca-se também a atriz mirim Oona Laurence, como a filha nerd de Amy, ansiosa em relação a fazer parte do time de futebol não porque goste do esporte, mas porque aos 12 anos já planeja sua entrada em uma universidade de ponta.
A trilha sonora é estridente e animada; não poderia ser diferente e é o que de certa forma costura e segura o filme. Muitas tomadas são clichês e repetidas de forma cansativa, como nas cenas em que o carro arranca em alta velocidade; a câmera lenta enquanto as mães saem de casa vestidas para matar, ou quando o viúvo gostoso aparece pela primeira vez no filme. A fotografia é clara e brilhante demais, como se todos os dias fossem de sol.
Interessante mesmo é a inserção de depoimentos informais das mães das atrizes após o final do filme. Todas confessam coisas absurdas que fizeram durante a infância das filhas. É divertido ver as duplas rindo dos fatos e de como todas as filhas “sobreviveram” apesar dos deslizes maternos, o que reforça a ideia de que é humanamente impossível ser perfeita.
O filme peca pela falta de originalidade, mas pode ser uma ótima catarse para mães sobrecarregadas. Desde que elas encontrem tempo para vê-lo, claro.
Neuza Rodrigues
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