Um dos mais interessantes e profundos momentos da experiência cinematográfica se dá depois de assistirmos aos filmes, enquanto conversamos e discutimos sobre eles. São esses instantes que proporcionam troca de ideias com outras pessoas com outras percepções sobre o que foi assistido, seja para discordar ou concordar, e por isso tanto agregam para quem pretende se aprofundar na sétima arte. No entanto, não é sempre que isso é possível, já que nem todo longa-metragem provoca a vontade de haver conversas para prolongar o que foi visto. Nesse sentido, obras que provocam reações mais acaloradas são as mais eficientes, sendo pelo amor ou pelo ódio.
Dentro dessa temática, é possível afirmar que “Poderia me perdoar?” é um desses casos em que discussões mais profundas e densas acerca do que foi observado durante a projeção não só são indesejadas como também sem propósito. A sinopse é interessante e um tanto inesperada, de forma que não apenas poderia ter rendido melhores resultados como também discussões mais profundas, uma vez que a homossexualidade e sua marginalização são temas presentes de forma implícita. Tratá-los de modo menos conservador e incutir junto debates sobre frustração e solidão seria o ideal e daria a “Poderia me perdoar?” o diferencial de outros lançamentos cinematográficos da época de grandes premiações. Assim, temos uma dupla de protagonistas que funciona bem, porém que é bastante rasa em seu desenvolvimento e que, por consequência, diminui a eficiência do filme por ele se basear fortemente nos dois personagens.
Todo resto é bastante burocrático, seja a direção, trilha sonora ou até mesmo direção de arte. A Nova York de anos atrás, que é palco de todo filme, parece tão genérica que o espectador dificilmente poderia saber em qual ano a trama se passa se isso não fosse informado através de diálogos e legendas. Parece até irônico que uma das cidades mais referenciadas no cinema, talvez a mais referenciada, não possua brilho particular em “Poderia me Perdoar?”, nem mesmo os clichês. Não é uma história que tem a cidade como elemento principal e isso é completamente razoável, mas o grande problema é a falta de caracterização de espaço e tempo que existe, tornando esses elementos inócuos.
Em suma, “Poderia me Perdoar?” é o tipo de filme bastante falado em premiações e possui muitas das características para tal, podendo ser considerado um oscar bait. É uma pena que algumas ideias e discussões que podiam estar no coração da obra, tornando-a mais densa e completa, se façam completamente ausentes e tornem-a tão indiferente. Vem de um desejo dos realizadores de deixar o filme mais leve e amigável e que, no entanto, acaba sendo prejudicial a própria criação. Como bem sabemos por outros ótimos exemplos, leveza e densidade não estão necessariamente separados e podem coexistir de forma harmônica.
Fotos e Vídeo: Divulgação/20th Century Fox
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