Definir “Por Lugares Incríveis” como um romance adolescente pode ser um erro de interpretação. No entanto, à primeira vista o filme produzido pela Netflix pode dar essa impressão, já que conta com o nerd deslocado que começa um relacionamento com uma garota popular de uma High School norte-americana. Os dois formam um casal pouco comum em um ambiente dominado pelo preconceito adolescente típico desse tipo de produção. Ela, evidentemente, pertence ao grupo de elite, digamos assim. Ele, é o freak que se senta com os seus iguais durante as aulas e intervalos, se isolando dos ditos normais. Realmente, se todo o arquivo de filmes da sessão da tarde fosse exposto, essa mesma história apareceria em noventa porcento dos casos, o que faria a nova obra interpretada por Elle Fanning ser previsível. Felizmente, não é o caso.
Primeiramente, “Por Lugares Incríveis” não é apenas um romance comum, ele trata de temas mais complexos, como doenças mentais e luto. Para contextualizar, o roteiro de Liz Hannah e Jennifer Niven (baseado no livro da própria Niven) é sobre Violet Markey (Fanning), que cai em uma tristeza profunda após perder a irmã em um acidente de carro. No dia do aniversário da irmã, quando ela faria 19 anos, Violet vai até a ponte onde aconteceu a tragédia e fica em pé no parapeito, como se quisesse cometer suicídio. É neste momento que conhece o alegre Theodore Finch (Justice Smith), que está em sua corrida matutina. O rapaz a convence a sair do parapeito e começa, a partir daí, a tentar fazer com que ela veja o lado bom da vida. Após o início da amizade, eles começarão um projeto escolar que visa conhecer os locais mais bonitos da cidade onde moram. Ou seja, uma ótima oportunidade para recomeços.
Contudo, Theodore possui problemas psicológicos, que vêm da infância vivida com um pai abusivo. Não é dito qual a doença que o rapaz possui, mas tudo que acontece entre o primeiro e o segundo ato leva a crer que se trata de uma profunda depressão. Então, se o relacionamento já não seria fácil em meio as pressões sociais, fica ainda mais difícil por causa das condições de ambos. Mesmo assim, o clima é de otimismo e felicidade com o início do namoro e com a melhora de Violet, que passa a superar o luto, mesmo que Finch comece a se entregar aos seus demônios interiores. O fato é que o roteiro deixa claro que a superação dela tem mais a ver com a aceitação das agruras da vida, enquanto ele luta contra algo que é mais cruel e implacável. O diretor Brett Haley expões isso com simbolismos, como o que faz com a água e com as cores.
Para não entregar muito, basta dizer que o momento de “libertação” de Violet se dá quando ela retira as roubas pesadas, que cobrem quase todo o seu corpo, e mergulha junto de Finch em um lago, sentindo-se leve, como se a água purificasse seus sentimentos, enquanto ele quer sair do mundo em que vive e mergulhar em um outro diferente, que está nas profundezas. A morte é assim representada. Se ela, inclusive, se livra da roupa que a mantém presa, ele nunca altera a dualidade nas cores escolhidas para as peças. Sua camisa branca está, na maior parte do tempo, coberta por um casaco marrom, o que externa a confusão de alguém que tem dentro de si a vontade de viver, mas que se sente açoitado pelo exterior que o persegue desde a infância. De fato, as cores em tons pastéis do restante de seu figurino revelam a dificuldade dele em se firmar no mundo.
Aliado a isso, há a fotografia super colorida e iluminada de Rob Givens para lembrar que, independente do desfecho, se trata de uma história com tons otimistas, e as boas atuações da dupla central ao conseguirem variar as expressões de seus personagens entre o contentamento e a angústia. De resto, “Por Lugares Incríveis” funciona de forma satisfatória ao agregar elementos mais urgentes em uma história romântica. Entretanto, se não fossem por eles, talvez caísse na banalidade dos filmes de amor mais estéreis.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Netflix
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