As instituições políticas, jurídicas e de imprensa do Brasil discutem há muito tempo a questão da violência na sociedade. Todos os tipos dela, mas principalmente as contra as minorias sociológicas, como as mulheres, homossexuais e negros. Em “Regra 34”, a experiente cineasta Júlia Murat discute essa violência através da história de Simone (Sol Miranda), uma futura defensora pública que estuda para o cargo durante o dia, mas que durante a noite faz shows eróticos pela internet. Além disso, a garota, em suas aventuras sexuais, acaba se interessando pelo o que muitos podem entender como violência durante o sexo, como se cortar e cortar o companheiro com objetos afiados e a asfixia erótica.
Murat monta seu filme entre cenas diurnas e noturnas. Nas manhãs do curso, Simone é defensora das mulheres contra qualquer tipo violência, já na no final do dia na internet, ela se interessa gradativamente pela dor que lhe dá prazer. A asfixia é sua preferida, então há vários momentos em que ela enrola plásticos em sua cabeça, é enforcada por um amante ou fica submersa na água até quase morrer afogada. A psicologia da personagem também se deteriora, e ela vai se afastando de sua melhor amiga Lucia (Lorena Comparato), que tenta alertá-la sobre os riscos que envolvem tais práticas.
O roteiro de “Regra 34” faz com que o espectador reflita se a busca pela dor e por atos violentos da protagonista é por ela se sentir culpada pelo sofrimento das outras mulheres atendidas na defensoria pública ou se é um reflexo da sociedade patriarcal na qual ela vive. Tal resposta não é dada durante a projeção, e isso acaba se tornando um problema, já que, ao invés do assunto principal do filme ser discutido, perde-se muito tempo com o excesso de discursos panfletários. Por isso, o texto escrito pela própria Murat junto com Gabriel Bortolini fica parecendo um manifesto político de esquerda que sai das bocas dos atores superficialmente, atrapalhando até mesmo o trabalho de Sol Miranda, que não consegue fazer muito por sua personagem.
Claro que é importante que o filme aborde essas questões, no entanto, a forma como elas são inseridas deixam a desejar nos quesitos cinematográficos. Afinal de contas, o cinema deve ser a imitação da vida real, mas o que se vê aqui são diálogos falsos demais para que qualquer comparação com a realidade seja feita, infelizmente.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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