Musical RENT continua atual ou A vida é um aluguel
A história sobre um grupo de jovens que não têm dinheiro para pagar o aluguel poderia ter sido escrita hoje. Jovens sem perspectiva de futuro vivem com dificuldade de pagar o aluguel devido a seus fracassos pessoais. Com a enorme quantidade de moradores de rua e prédios ocupados em São Paulo, o tema parece dialogar com conflitos de 2017, embora tenha sido composto por Jonathan Larson nos anos 90.
Na Broadway, o musical está em cartaz desde 1996. Em 2005 virou filme com parte do elenco original do teatro. Por aqui, primeira montagem estreou em 1999, década de retomada do teatro musical no Brasil. Agora, o público pode conferir esta nova montagem de “Rent”, em cartaz São Paulo.
Quando a platéia entra no Teatro Frei Caneca, o elenco já está no palco. Após o terceiro sinal, um ator vem a frente e inicia a peça. É dele a energia motriz do espetáculo. Nitidamente com a maior vivacidade em cena, Bruno Narchi é também o produtor e diretor geral da peça. Sua garra para conseguir tornar a montagem possível é um fio condutor visível em cena, através do cineasta Mark, que saiu da casa dos pais para tentar a vida na cidade grande.
O elenco é coeso e todas as vozes emprestam técnicas perfeitas às emoções com muitos momentos a cappella. Arthur Berges vive um Roger com entrega e Ingrid Gaigher empresta um timbre forte para Mimi, a vizinha que se apaixona pelo músico mal sucedido.
O dueto mais instigante desta montagem, “Take Me or Leave Me” (“Me Aceita ou Some”), é interpretado com verdade por Thuany Parente (Maureen) e Priscila Borges (Joanne). A relação de Guilherme Leal (Collins) e Diego Montez (Angel) tem enorme força cênica e torna-se o plot point final com a morte de Angel. Destaque também para a segurança de Lívia Graciano, que é a solista da canção mais famosa de “Rent”.
A banda é precisa. O regente Willy Verdaguer mantém os detalhes da direção musical de Daniel Rocha, que também está na produção com Bel Gomes e Bruno Narchi.
A direção artística de Suzana Ribeiro criou marcações com liberdade, deixando um ou outro ator de costas propositalmente. Da direção de movimento e coreografia de Kátia Barros, destaque para o criativo tango em que os atores chegam a dançar com um case e “La Vie Boheme” – a coreografia mais empolgante do grupo.
A cenografia de André Cortez trás o palco sem caixa preta, ou seja: sem pernas de coxia nem cortina de fundo. De um lado, estão os músicos e em um canto do proscênio, várias barracas de camping e bancos que se transformam em todos os móveis. Uma estrutura de metal sem paredes no centro do palco simboliza o prédio onde se passa a peça. Os detalhes do visagismo de Leopoldo Pacheco – que estudou Artes Plásticas antes de teatro – dá um toque artístico final.
Fause Haten assina um figurino urbano com cores cinza, marrom e bege, que deixam claras as mudanças das estações do ano. O estilista, que começou a assinar figurinos em 2010, é um dos mais disputados do teatro contemporâneo brasileiro.
Não tem como sair do teatro sem cantarolar “Five hundred twenty-five thousand six hundred minutes“!
Por Pitty Webo
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