Dos anos 30 aos 70, o tipo de filme que dominava os cinemas era o faroeste. Popular na época como os super-heróis são hoje, atualmente o gênero em seu formato original foi marginalizado, porém, seu espirito se mantém vivo no que é chamado de “neo-western”, que são histórias contemporâneas que carregam as suas temáticas e até mesmo técnicas cinematográficas. Um dos principais nomes desse subgênero nos últimos anos é Taylor Sheridan, o roteirista de “Sicario: Terra de Ninguém” (2015) e “A Qualquer Custo” (2016), que agora, além de escrever, também dirigiu seu novo filme “Terra Selvagem”.
O enredo conta a história de Cory Lambert (Jeremy Renner), um caçador que, enquanto trabalha em uma reserva indígena em Wyoming, encontra o corpo de uma jovem com sinais de violência sexual. Para determinar a jurisdição do crime, o FBI envia a agente novata Jane Banner (Elizabeth Olsen) para averiguar a cena, porém, quando tecnicalidades impedem que uma investigação oficial aconteça, os dois se unem para resolver o caso.
O roteiro de Sheridan faz um bom trabalho em prender a atenção do telespectador não somente pelo mistério – que acaba se mostrando bem simples – mas pelos seus personagens, que são o foco do filme. Lambert carrega fantasmas do seu passado, que são revelados progressivamente ao longo da trama e deixam, aos poucos, sua motivação mais clara. Revelação essa que não é somente direcionada a audiência, mas também para Banner, com quem tem uma ótima dinâmica.
Se o script se compromete em fazer um faroeste moderno, a direção consolida essa intenção. Simulando os filmes western, Sheridan usa muitos planos gerais que, privilegiando uma paisagem de neve, são uma lembrança constante de que os protagonistas estão isolados de qualquer ajuda rápida, além de remeter aos cenários grandiosos das produções antigas, mas substituindo o cowboy cavalgando no deserto por um caçador com uma moto de neve em uma imensidão branca.
A trilha sonora, composta por Nick Cave e Warren Ellis, também ajuda a aumentar a imersão na atmosfera de nevasca e natureza da reserva indígena, usando de instrumentos de sopro e vocalizações que soam como barulho do vento justamente nas cenas nas quais os personagens vão investigar locais mais afastados.
A dupla que estrela o filme, Jeremy Renner e Elizabeth Olsen, se encaixam muito bem em seus papeis. Olsen consegue passar perfeitamente a falta de experiência e a dedicação de Banner com o caso, enquanto Renner da um ar misterioso e de sofrimento ao seu personagem, deixando claro desde o principio que ele tem uma história a ser contada. O único defeito é que talvez o papel fosse melhor beneficiado, principalmente levando em conta as origens de Lambert na reserva, se o interprete fosse um nativo-americano. Já o elenco de apoio também é excelente, com destaque para Gil Birmingham, que faz o pai em luto da vítima.
Mesmo com um material de qualidade, o longa ainda apresenta alguns deslizes. O uso de certos clichês, como a comparação dos predadores que Lambert é pago para caçar com o assassino, acaba soando meio canastrão quando equiparados ao restante da produção. Também é questionável a decisão de anunciar o filme como “inspirado em eventos reais” quando a história é uma ficção, tal fato sendo justificado por Sheridan como um alerta para casos similares que ocorrem em várias reservas indígenas.
A mensagem final da produção corrobora com essa ideia, com uma cartela avisando que não existem dados nos Estados Unidos referentes a desaparecimento de mulheres nativo-americanas. O problema com isso é que não parece ter muito a ver com o filme, já que o caso investigado é um assassinato e em nenhum momento a trama leva atenção ao desaparecimento da jovem – e inclusive faz o contrário, com o pai da mesma explicando que não prestou queixas pois confiava na filha.
No geral, “Terra Selvagem” é um filme sólido, que pode ser visto como um mistério de investigação ou como um faroeste moderno. Apesar de algumas escolhas duvidosas sobre a mensagem que quer passar, Sheridan se prova ser um diretor competente com seu próprio material, e enquanto esse longa não é necessariamente um futuro clássico, ele pode ser um grande passo para a produção de um.
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