Um musical surrealista, uma comédia de erros, um drama melancólico, uma fábula de perseverança, um romance trágico e um filme de câmara com uma sugestão de sobrenatural. Essas são as histórias contadas no Original Netflix “The Ballad of Buster Scruggs”, a primeira aventura dos Irmãos Coen na produtora de streaming. O longa é uma antologia com seis contos passados no velho-oeste americano que mostram como a famosa dupla de diretores, com seu humor negro característico, continuam afiados e criativos quase 35 anos após o seu trabalho de estreia.
Amarrados pelo virar das páginas de um livro que apresenta cada narrativa como um conto folclórico de faroeste, os curtas na antologia são bem variados: o pistoleiro debochado Buster Scruggs (Tim Blake Nelson) encontra um rival a sua altura; os planos de um bandido (James Franco) de assaltar um banco vão de mal a pior; um artista deficiente viajante (Harry Melling) e seu empresário (Liam Neeson) têm problemas quando começam a perder seu público; um velho prospector (Tom Waits) procura com determinação um “bolsão” de ouro em uma terra não tocada pelo homem; a jovem Alice Longabaugh (Zoe Kazan) se encontra sozinha em uma caravana para o Oregon quando seu irmão morre e começa a desenvolver um relacionamento com Billy Knapp (Bill Heck), o líder do grupo; e por último, um grupo de cinco estranhos se encontra em uma estranha viagem de diligência e trocam histórias sobre suas vidas.
Desde os típicos planos gerais do gênero até os enquadramentos mais diferenciados, como um dentro de um violão, a direção de Ethan e Joel Coen chama atenção por sua versatilidade, com um estilo diferente para cada um dos curtas-metragens. A câmera se movimenta constantemente para acompanhar o protagonista da primeira história, que constantemente quebra a quarta barreira conversando com o telespectador e começa números musicais espontâneos, enquanto no último conto, que se passa quase todo dentro de uma diligência, os planos são mais estáticos, simulando um filme no estilo dos anos 1930 ou 1940.
Essa mudança também é perceptível na fotografia, que também dá uma identidade diversa para cada narrativa. As histórias mais alegres têm uma luz clara, mais natural, enquanto as mais melancólicas são banhadas por um filtro azul e a última, que flerta com o sobrenatural em sua trama, fica progressivamente mais escura e esverdeada enquanto a carruagem se aproxima de seu destino.
Isso tudo funciona graças ao bom roteiro, escrito pelos irmãos Coen, porém com dois dos contos baseados em histórias de terceiros. Variando entre comédias exageradas e dramas pesados, os elementos que prendem todas as histórias juntas são o humor negro e o cinismo, com a maioria delas tendo conclusões niilistas e melancólicas, como de costume para a dupla. A subversão de clichês dos faroestes também é um dos pontos fortes da produção, como o personagem de Buster Scruggs, que é o pistoleiro mais rápido da região que mata diversos dos seus adversários, mas sempre com uma atitude exageradamente alegre e improvisando canções, ou a cena de assalto a banco na qual o maior perigo presente é o atendente do estabelecimento e não o ladrão.
Todos os curtas apresentam também um ótimo elenco, mas com alguns que se destacam mais que outros, principalmente Liam Neeson e Harry Melling na terceira narrativa, que nunca têm um diálogo, mas passam toda a informação necessária de suas interações pelas suas expressões faciais. As performances de Tom Waits e Tim Blake Nelson são a principal atração de suas respectivas tramas, assim como os cinco estranhos na diligência, que entregam bem um enredo construído em volta da conversa entre desconhecidos em um cenário mínimo.
Somando a isso tudo um ótimo design de produção e bons efeitos especiais, “The Ballad of Buster Scruggs” é tudo que se pode esperar de um filme dos irmãos Coen: humorístico, cínico e ocasionalmente violento. Definitivamente um dos melhores “Originais Netflix” lançados nesse ano.
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