“The OA” é a mais nova série original Netflix a sair em Dezembro. Dirigida por Zal Batmanglij e criada por ele próprio e Brit Marling, que também protagoniza a série, ambos criam nada menos que uma das melhores séries do ano. A dupla já vêm trabalhando juntos desde outros dois filmes de Zal Batmanglij: Sistema (“East”, 2013) e A Seita Misteriosa (“The sound of my voice”, 2011). Mas pode-se dizer que Brit Marling seja mais conhecida por outros dois filmes: A Outra Terra (“Another Earth”, 2011) e O Universo no Olhar (“I, Origins”, 2014).
Zal Batmanglij faz um ótimo trabalho, apesar de poucas vezes ter trabalhado como diretor – também é escritor. Brit Marling atua bem nas tantas personas de sua personagem. A inocência e a bondade provam ser um desafio para a atriz que as incorpora muito bem. O elenco tem rostos conhecidos, como Scott Wilson (“The Walking Dead”), Phyllis Smith (“The Office”), Patrick Gibson (“The Tudors”), Riz Ahmed (“The night of”) e, como antagonista, Jason Isaacs, protagonista das duas incríveis séries “The Awake” e “The Dig”.
Seu teor de mistério e drama não deixa nada a desejar. Já em seu primeiro episódio tira o ar do espectador por sua narratividade tão original e bem explorada para a televisão.
Prairie Johnon (Brit Marling) chega à cidade onde cresceu com sua visão de volta. Seus pais a encontram num hospital depois de pular de uma ponte por motivos desconhecidos. Ela se recusa a contar sua história para seus pais e o FBI, reservando a cinco desconhecidos o direito de ouvir a história de onde esteve nos últimos anos e também uma missão.
“The OA” tem tudo para ser algo lento, mas a história de Prairie apenas fica mais envolvente com a naturalidade e – por que não? – banalidade dos eventos mais fantásticos, como em Haruki Murakami. Quase todo diálogo é permeado de uma profundidade filosófica e psicológica de certa maneira pouco vista na tevê. Talvez, justamente por isso, a série seja Netflix. Muitos são seus temas e inomináveis também os são. Isso, pois, apesar de se referir a muitas coisas, como à ficção científica, à obsessão científica ou, mesmo religiosa, por sentido na vida, digna de “A Fonte da Vida” (“The Fountain”, 2006) com o vilão Dr. Hunter Hap (Jason Isaacs), pouco é certo sobre tais, assim que, apesar das referências, “The OA” consegue ficar num limbo de mistério narrativo e conceitual que nada parece vir de lugar nenhum e ao mesmo tempo parece ter diversas fontes, surpreendendo o público e suspendendo-o na expectativa por explicações que podem muito bem não vir.
A série se mostra mais profunda por sua tematização da vida e, como se percebe nela, não há outra forma de o fazê-lo sem encarar sua contrapartida, a morte. O que é ser mortal? O que é morrer? O que é a viagem interior? Talvez tudo soe vago ainda aqui, mas é essa a impressão que “The OA” nos passa também. Pois, como em “A Sete Palmos” (Six Feet Under, 2001) somos levados a um tour pelo espírito humano. E quão obscuro é esse…
No fundo, “The OA” é uma série sobre story telling, sobre como contar histórias. A cada episódio, Prairie senta-se com seus amigos e conta com movimentos, sussurros, gritos e lágrimas a história de sua vida de forma tão vívida para estranhos que a ouvem e que ouvem a uma estranha, que, nessa arte, como as histórias que os pais contam a seus filhos antes de dormir, apenas podemos repetir na noite seguinte: “de onde paramos mesmo?”
Por Paulo Abe
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