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Crítica

Crítica: Toro

Faltou ferocidade
 
toro_belas-artes-rgbEm suas múltiplas facetas, já dissemos algumas vezes e não cansamos de repetir, o cinema independente nacional começa a ter o seu valor, embora nem todas as produções realizadas sejam realmente interessantes. Nesse meio, São Paulo vem se tornando um grande produtor de obras cinematográficas e entre muitos exemplares temos a Trilogia da Vida Real, de Edu Felistoque.
 
O primeiro filme, “Insubordinados”, foi lançado em 2014 e somente agora os outros dois longas chegam a algumas salas. As continuações não necessariamente acompanham diretamente o primeiro longa, mas assistir a obra como um todo lhe dá uma dimensão maior sobre a narrativa e como ela se estabelece no primeiro e segue para “Hector” e “Toro” – este último que aprofundaremos aqui.
 
O filme traz uma parte da história sobre Carlão (Rodrigo Brassoloto), que depois de ser preso acaba virando um policial investigativo, mas após abusar de sua autoridade acaba sendo afastado e para sobreviver vira motorista de táxi. Atormentado pela vida criminosa que levava, seu passado constantemente vem à tona e para relaxar faz parte de uma espécie de “clube da luta”, onde Toro é invencível. Paralelo a isso, uma série de crimes contra taxistas começa a acontecer e o protagonista acaba conhecendo a jornalista Alice (Naruna Costa), que também segue as pistas para desvendar o mistério.
 
O diretor é também responsável pelo argumento, mas a roteirização foi realizada por Júlio Meloni, que tentou criar uma atmosfera séria, psicologicamente perturbadora, cheia de suspense e nuances amorosas, mas a tentativa não rendeu o que deveria. Na criação da expectativa e em todo o seu desenvolvimento não conseguimos nos apegar a nenhum personagem, nem conseguimos recolhê-los de uma maneira verossímil. Sem profundidade, quando a verdade vem à tona, não esboçamos nenhum sentimento, afinal, não houve apego e de maneira bem filosófica, quando juntamos um mais um, sabemos que o resultado dá dois e não somos surpreendidos.
 
Quanto à direção, caímos no mesmo processo com a falta de profundidade, ainda que Edu pudesse saber como queria contar a história. Se em “Insubordinados” tivemos uma direção precisa e cuidadosa, em “Toro” foi uma representação de “vamos fazer assim e ver no que dá”. Comparar um com o outro não é a melhor opção, mas dada a belíssima execução do primeiro, isso acaba sendo inevitável. As cenas de lutas são bem coreografadas, mas o resultado da execução ficou bem aquém do esperado.
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Não entraremos muito no mérito da direção de fotografia entre as duas produções porque é uma diferença desesperadora. No “primeiro capítulo”é predominantemente em p&b, esteticamente superior à azulada e, por vezes, estourada na visual continuidade narrativa. E a maquiagem de efeito? As cicatrizes, o sangue… Bom, acho que precisavam achar melhores profissionais para essa área se quisessem manter o estilo cinematográfico.
 
A trilha sonora, composta por Guilherme Picolo, é o clichê que dá certo. Usando as múltiplas referências usadas para a criação do protagonista (o filme “Touro Indomável”, de 1985, o próprio animal, usado nas antigas touradas na Espanha, e a descendência espanhola por parte da mãe) para criar melodias latinas com tons flamencos. Porém, quando tende ao rock, como maneira de urbanizar SP, não tem o mesmo efeito e se torna um pouco massante.
 
Compondo o elenco, ainda fica a pergunta de quão representativa é a expressão de Naruna Costa, que não convence como Alice. Talvez sua interessante nuance venha como par romântico, não como jornalista. Rodrigo Brassoloto desenvolve um bom Carlão, sempre com um olhar de “rabo de olho”, suspeitando de todos e tendo uma interpretação mais introspectiva. Enquanto o destaque fica para Sérgio Cavalcante, que interpreta o ex-parceiro policial Latrina e a travesti Jocasta. Embora não sejam as melhores atuações, esses dois conseguem distanciar bem um personagem do outro.
 
“Toro”, que é um spin-off do spin-off, se transformou na continuidade para a Trilogia da Vida Real. Explicando melhor, o primeiro longa da trilogia deu origem à uma série intitulada “Bipolar”, de 12 episódios, exibida pela Warner em 2014, e por conta disso originou esse longa e também “Hector”. Mas a qualidade não foi mantida. Pecados foram realizados e saímos de um longa que facilmente merece um 8.8 para esse que não consegue nem uma média.

 

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Paulo Olivera é mineiro, Gypsy Lifestyle e nômade intelectual. Apaixonado pelas artes, Bombril na vida profissional e viciado em prazeres carnais e intelectuais inadequados para menores e/ou sem ensino médio completo.

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