“Tudo ou Nada” conta a história de Sylvie, ma mãe solteira com dois filhos, que trabalha em uma boate por horas a finco nas noites. Uma dessas noites, seu filho mais novo sofre um acidente no qual ele acaba tendo queimaduras. Por conta do hospital ter que ligar para um órgão estatal, o conselho tutelar retira o filho caçula de Sylvie de sua guarda, levando-a a fazer todo o possível para recuperar a custódia dele.
A obra segue o mesmo estilo de narrativa pelos quais o diretor Ken Loach é conhecido em seus filmes, com um protagonista de classe econômica baixa enfrentando todos os trâmites e burocracias possíveis, na esperança de fazê-lo desistir, deixando o Estado livre para avançar em sua agenda, independentemente das circunstâncias. No entanto, neste caso, o foco recai sobre a perspectiva de uma mulher nesse contexto, rompendo com o padrão usual de protagonismo masculino, e é um dos aspectos que se destacam no filme.
A obra insiste em retratar ambientes desbotados e frios, pintando um quadro de uma França melancólica, onde a história se desenrola em cenários sem vida. Isso reflete a jornada da protagonista, que aos poucos vai perdendo o controle à medida que a trama se desenvolve, agravando-se com as dificuldades que ela enfrenta em cada momento em que luta para se aproximar de seu filho mais novo e tenta entender as mudanças pelas quais seu filho mais velho passa.
Claro que o filme não carrega o mesmo peso dramático dos filmes de Loach citados anteriormente, pois a diretora introduz algumas diferenças em seus personagens para evitar comparações diretas. Isso é evidente na abordagem do desenvolvimento das relações familiares de Sylvie com seus filhos, irmãos e amigos. O desenvolvimento funciona bem até o ponto em que se torna necessário explorar o mundo interior de Sylvie.
No início, Sylvie é uma personagem cativante, mas a direção a leva a se tornar uma figura explosiva que, por vezes, beira a histeria. Além disso, há um excesso de cenas em que a atriz reage da mesma maneira explosiva, o que acaba diminuindo o impacto que deveria ser entregue nos momentos mais cruciais. É importante observar que o filme tenta explorar questões sociais além do drama de seu filho, como em certos momentos em que sugerem que a protagonista encontre um companheiro amoroso,, o que, acreditam, poderia ajudar em sua briga jurídica.
Ao mesmo tempo que a obra critica a postura do estado que parece estar acima do amor de uma mãe (um ponto enfatizado pela direção), há um desenvolvimento lamentável da protagonista. Deveríamos torcer por ela, mas, ao longo da história, ela acaba afetando a todos ao seu redor, especialmente aqueles que mais ama. A narrativa quase chega a uma conclusão deplorável, sugerindo que a mãe talvez não esteja pronta para cuidar dos filhos a quem tanto ama. Esse resultado parece ser mais uma questão relacionada à direção e ao roteiro do que à própria protagonista.
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A direção flerta muito com a câmera na mão como uma forma de representar a instabilidade do que vai acontecer em relação à protagonista com seus filhos. A direção decide também não colocar trilha sonora ao longo da obra, retirando qualquer meio harmônico ou desarmônico sobre a narrativa e deixando o espectador bastante incerto sobre como tudo vai se desenrolar no final das contas.
“Tudo ou Nada” consegue comunicar a crítica que enfatiza ao longo de quase 2 horas, porém, acaba transformando sua protagonista de maneira pejorativa. Isso faz com que a crítica em relação ao papel do estado em intrometer-se até nas relações mais íntimas, como a das mães com seus filhos, se torne contraditória. Um grito necessário, mas que acaba engasgando com sua própria raiva.
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