Sendo caso raro na atualidade, “Um Ato de Esperança” chega enfim ao Brasil, dois anos depois da data de lançamento original. É curioso que, dentro do contexto atual, no qual filmes e séries possuem estréia simultânea mundial, uma produção possa demorar tanto tempo como esse para chegar aos nossos cinemas. Difícil até não remeter ao passado, quando vários títulos deixaram de chegar ao circuito comercial brasileiro, ou chegando meses após seu lançamento no exterior. A maior ironia de todas pode ser, ainda, o fato de que “Um Ato de Esperança” é um filme britânico, o que naturalmente remeteria a tão famosa pontualidade britânica.
Não é preciso que se passe muito tempo de projeção para que o espectador perceba que Emma Thompson é a grande estrela aqui. A atriz inglesa, uma das maiores de sua geração, apresenta muita maturidade e desenvoltura, convencendo tanto nos momentos de serenidade e dureza quanto nos momentos mais emocionais e fortes. Grande parte dos dramas aqui tem sua personagem como foco, para não dizer a maioria. No entanto, seria um trabalho incompleto de sua parte se não tivéssemos o jovem Fionn Whitehead fazendo seu contraponto cênico. É a partir da dinâmica dos dois que as temáticas polêmicas envolvendo religião, ciência e legislação tomam corpo e se desenvolvem ao longo de todo arco dramático contemplado pelo roteiro.
Esses eixos de discussões são outro ponto interessante de “Um Ato de Esperança”. Na falta de apuro técnico mais apurado ou mirabolante, é notória a aposta dos realizadores na força do drama que o longa carrega e em seus personagens. Não existe direção que chame a atenção, fotografia ou mesmo figurinos e produção de arte. Todos os aspectos técnicos são bastante simples e cumpridos de forma minimalista, quase burocrática. Nesse sentido, é possível até mesmo afirmar certa pretensão teatral no filme. Infelizmente, ele talvez não ouse o tanto quanto deveria e perde intensidade pelo que poderia dar sustentação a ele, como o elenco de apoio ou mesmo a interpretação de Fionn Whitehead. Há bons diálogos, embora seja frequente que oportunidades de intensas conversas entre os personagens sejam jogadas fora. O jovem não é indiferente como os figurantes e personagens secundários, porém não se encontra no mesmo patamar de Emma Thompson, o que faz com que a atriz carregue a produção nas costas por algumas vezes.
O drama é, portanto, eficiente, apenas não memorável. Vale pelo trabalho da protagonista e pela relação construída com o menino, que passa por momentos obsessivos e também outros quase maternais. Já os conflitos referentes a religião que permeiam a produção são tratados de maneira um pouco superficial, não se diferenciando de outras vezes em que vimos tais assuntos no cinema. “Um Ato de Esperança” poderia ser melhor, mas carrega consigo bastante dignidade. Vale, ainda, por ser um respiro do cinema norte-americano e mostrar um pouco da forma britânica de produzir obras dramáticas com carga emocional forte. Se vivemos em um momento caracterizado pelas franquias e universos compartilhados com tendência predatória, assistir algo que fuja disso já se mostra bem-vindo por si só.
Fotos e Vídeo: Divulgação/A2 Filmes
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