A crise climática, que vem dificultando a vida de milhões de pessoas no mundo inteiro, é amplamente discutida por cientistas e políticos constantemente. Não por menos, já que todos os dias há notícias de locais que estão passando por crises hídricas, com a seca matando a população ou causando queimadas de proporções gigantescas, enquanto em outros há alagamentos que causam destruições de cidades inteiras. A imprensa é a primeira a relatar esses fatos alarmantes com reportagens por vezes reveladoras. No entanto, é preciso que a arte use seu poder de sensibilizar para também abordar o tema com o intuito de atingir o público em seu íntimo, como tenta fazer o semidocumentário “Virar Mar” – que foi lançado em 2020, mas só chega nos cinemas brasileiros agora pela Vitrine Filmes.
O filme dirigido pelo brasileiro Danilo Carvalho e pelo alemão Philipp Hartmann transita entre uma pequena cidade da Alemanha, que será alagada intencionalmente, e um vilarejo no Brasil que sofre com a falta de água. Em ambos os lugares há personagens que se recusam a seguir o que lhes é imposto. Na Europa, um homem segue morando em sua casa mesmo com a ordem de evacuação por causa do alagamento. No semiárido brasileiro, o povo sabe que precisa de um açude para que não morra de sede, e por isso pede ajuda de um cineasta gringo para fazer um filme que servirá para dramatizar um drama real. Só assim, talvez, eles sejam notados por quem tem o poder da construção.
Indo e voltando de um país para o outro, Carvalho e Hartmann conseguem entregar suas mensagens de forma satisfatória entre uma cena e outra. Um exemplo é a sequência que mostra uma senhora regando suas plantas para depois seguir para uma missa que acontece praticamente no quintal de sua casa. Antes disso, por meio de passagens oníricas, o roteiro entrega a sua intenção de transferir a divindade de Deus para a água quando vemos um Jesus afundando em um rio ao invés de andar sobre ele. O Jesus em questão diz que perdeu seu poder por causa da ação poluidora do homem. Mais claro que isso impossível.
Ainda há outros momentos bonitos de se ver no núcleo brasileiro, como o banho de garotas em um rio e um pai e filho enviando um “foguete” de água para o céu. Enquanto elas se banham nas águas que ainda lhes restam, eles tentam fazer chover por meio de seu experimento. Por parte dos Alemães, é comovente ver a solidão de um homem em uma casa decrépita que, enquanto aguarda as águas tomarem conta de sua vida, toca em seu piano notas intensas com tom de urgência.
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“Virar Mar” só não alcançara todo o seu potencial porque acaba, como vários outros títulos, caindo naquele nicho de filme feito para cinéfilos e festivais. Sua linguagem poética não conseguirá atrair um público amplo, o que é uma pena, já que seu conteúdo é muito importante em um mundo cada vez mais desgastado pelas mudanças climáticas. Pouca gente conseguirá vê-lo, infelizmente.
O filme estreia em dia 28 de julho.
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