O teatro é uma arte que pode ser um importante instrumento de inserção social e política do sujeito. E a peça “Elevador Social” faz uma crítica social bastante responsável, não apenas com o texto de Danilo Moraes mas também com um belo projeto de inclusão que contou com leituras dramáticas, apresentações gratuitas aos domingos e ainda oficinas de produção.
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O argumento já é interessante desde o início. Juntar dois indivíduos para um embate de realidades sociais distintas é genial, já que os elevadores são espaços claustrofóbicos, cotidianos, onde as interações são, em geral, frias e fugazes. Além disso, há o componente simbólico das subidas e descidas nas vidas dos trabalhadores.
O texto, porém, rompe a superficialidade dos encontros de elevador ao colocar Cláudio (Manoel Madeira), um típico representante da elite do atraso brasileira junto com o ascensorista Jorge (Anderson Negreiro), um trabalhador exercendo um trabalho pouco valorizado, mas que garante o seu sustento.

É impressionante a variedade de temas sociais abordados no espetáculo. Logo no início, quando Cláudio e Jorge ficam presos no elevador sem saberem o porquê, Cláudio que tinha uma importante reunião com um investidor-anjo, quer que Jorge dê um jeito de abrir a porta, mesmo que o ascensorista tenha explicado com clareza os riscos e consequências dessa ação. Contudo, nenhum risco, para si ou para Jorge, parece ser mais importante que seu compromisso com o investidor. Ou seja, o lucro e satisfação pessoal de Cláudio são colocados acima de um ganho coletivo.
Jorge, é claro resiste. E Cláudio se coloca em posição de superioridade, desmerecendo a profissão e as motivações de Jorge, na conhecida atitude “você sabe com quem está falando?”. Jorge resiste da única forma possível, e não vê outra saída para conter Cláudio além do confronto físico.
No confronto, Jorge consegue acesso ao celular e aos dados pessoais de Cláudio e a partir daí, Jorge toma controle da situação se valendo da malandragem, esperada das pessoas menos favorecidas na sua luta diária pela sobrevivência. Se essa malandragem, é justificada ou não, na peça ela tenta despertar alguma humanidade em Cláudio, ao mesmo tempo em que coloca Jorge em situação de superioridade.

Diversos embates acontecem ao longo do espetáculo, com alternâncias de poder entre eles. Mas vale destaque ainda para a crítica da meritocracia, tão defendida pela elite, mas que quase sempre vem acompanhada pelo nepotismo, paradoxalmente criticado por essa mesma elite. Jorge descobre que o tal investidor-anjo é pai da namorada de Cláudio, o que derruba toda imagem de sucesso que tentou construir.
A qualidade do texto é seguida de perto pelo trabalho de direção, também de Danilo Moraes, que consegue elevar o talento dos dois atores no cenário de Taísa Magalhães, que simula com perfeição um elevador. Os atores Anderson Negreiro e Manoel Madeira são potentes, e despertam sensações que transitam entre a raiva, a perplexidade e também a alegria. Afinal, o riso também é uma forma de resistência.
Por fim, a peça “Elevador Social” é necessária para os tempos em que vivemos, onde a consciência de classe é vital para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

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