Ontem estive no Insensato, uma casa no centro da boemia carioca, na Lapa. O espaço é muito bem localizado, fica quase colado ao tradicional Carioca da Gema. Bem ali na muvuca mesmo. Apesar de não ser muito grande, o local tem um astral muito bacana, começando pelo ótimo atendimento dos seus funcionários e donos.
A programação de Sábado era de muito samba e pagode e o nome do evento era “Resenha do Digão”. Até ai nada demais certo?! Afinal, nada mais parece que uma programação comum da noite carioca onde um cantor ou grupo fazem seu show de samba e pagode enquanto o povo se entope de cerveja e combos de vodka. Provavelmente seria mais uma noite que as pessoas sairiam para beber e curtir sem nem lembrar quem foi a atração. Sem ter uma conexão bacana com o artista. Este, seria apenas um elemento comum e facilmente substituído por qualquer outro. Um enfeite na estante. Quem é Digão? O que mudaria ser Digão, José ou João?
No entanto, aquela noite estava longe de ser comum. Pelo menos para este colunista que vos escreve. O convite foi especial e feito por um grande amigo: o Digão. O motivo do convite era o lançamento da sua carreira solo. Queria que eu conhecesse a nova fase do seu trabalho e, por consequência, caso eu gostasse, me tornasse produtor artístico do mesmo. Que responsabilidade, meu amigo! Eu fico muito feliz com esses convites e ao mesmo tempo apavorado, admito! Ainda mais vindo de um cara que admiro demais pela batalha diária e pela pessoa que é. Imagina se eu não curto o trabalho? O que dizer para um amigo nessa hora? Apesar da experiência como produtor me deixar um pouco mais a vontade para ser totalmente honesto nessas situações, sou humano, e é sempre difícil falar certas coisas quando tratamos do sonho de alguém. É necessário um cuidado enorme e, nesse caso, proporcional ao carinho que tenho por ele. Fui então acompanhado da minha sócia, Thaísa Timon, que também foi convidada para realizarmos esse trabalho juntos. “Mas, Gustavo, dá para me dizer logo quem é Digão?”. Aposto que estão pensando isso.
O cantor e compositor carioca Rodrigo Silveira, Digão, de 32 anos, possui já uma vasta experiência no mundo da música. Acompanhou grandes ícones do samba como Nelson Sargento, Délcio Carvalho e Aluísio Machado. Integra o carro de som da Vila Isabel e Acadêmicos da Rocinha, além de ser intérprete da Mocidade Unida do Santa Marta desde 2004. Fora os 7 blocos da Zona Sul do Rio de Janeiro que participa, agitando todo período de Carnaval. Depois de fazer parte de um grupo de pagode que tocou com Sorriso Maroto, ImaginaSamba, Chrigor, Swing e Simpatia, Os Morenos etc, Digão agora investe em sua carreira solo com um amplo repertório que mostra toda sua qualidade e versatilidade.
Vamos então falar do show. O show não poderia começar melhor. A escolha da primeira música foi ” Fé em Deus”. As primeiras frases “A luta está difícil mas não posso desistir / Depois da tempestade as flores voltam a surgir” já retratavam o sentimento do artista com aquela nova fase da carreira. E a mudança já era percebida também em sua postura e visual. Saía de cena um cara tímido, um pouco travado no palco e sem mostrar muita confiança nele mesmo e entrava um artista firme, seguro e solto, com um visual mais moderno. Como um camisa 10 de um grande clube, capaz de prender toda a atenção do público em um grande jogo, Digão não sentiu o peso da responsabilidade e não só marcou um golaço como em vários momentos chamou e inflamou a galera que não estava mais ali somente para curtir uma boa noite. Estavam todos realmente interessados em conhecer mais sobre aquele cara no palco.
O repertório versátil passeou pelo samba e pagode, sertanejo e até clássicos da MPB como “Aquele abraço”, “Bem que se quis” e “Flor de Lis”. A direção musical do show foi feita por Alan Moura, da banda A Quebrada, e a excelente banda formada pelos integrantes Alan Moura no teclado, Caio Silva no surdo, Jefferson Serafim no pandeiro, Marcio Luy no baixo, Leonardo Mendonça na bateria, Léo Costa (Maninho) tantã, Nildo no violão e Léo Nejm no cavaco, deram um toque especial ao trabalho. Estavam todos em plena sintonia e totalmente ensaiados. Isso tudo somado ao grande talento individual mostrado por todos eles.
O evento começou as 22 horas e eu só cheguei em casa as 06 horas da manhã. Com isso já dá para ter uma ideia de como foi bom né?! Eu realmente não conseguia ir embora até o último momento do show. Fiquei emocionado. Por trabalhar diretamente com isso, me enche de orgulho e felicidade ver a evolução de um artista. Ver um artista chegar a esse nível de profissionalismo e talento. Está cantando demais. Está voando!
Bem, o show chegava ao fim e era necessário então tomar uma decisão. Depois disso tudo vocês tem alguma dúvida? Não poderia ser diferente. Seríamos muito estúpidos se fosse o contrário. Digão, diante do que vi, e pegando o gancho da coluna do domingo passado, sobre o casamento entre músicos, posso afirmar: pra você eu digo SIM! E para você que ainda não conhece, anota esse nome. Ainda vão ouvir falar muito dele.
Por Gustavo Sanna
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