Aluísio C. Santos já é conhecido no cenário de quadrinhos independentes por participar do selo QUAD juntamente com Diego Sanches, Eduardo Ferigato e Eduardo Schaal, o qual publica uma série de quadrinhos pós apocalípticos e ficção científica. Apesar do bom trabalho junto ao coletivo o roteirista e ilustrador decidiu partir para uma aventura solo abordando uma temática bem diferente do usual. Em Drop Dead ele lança mão de um roteiro que pende para um drama espiritualista bastante introspectivo.
William é um jovem adolescente de 14 anos que passa por um trama profundo com a morte do pai, passando a viver somente com a mãe e enfrentando inúmeras dificuldades emocionais, sociais e financeiras. É justamente nesse contexto que ele desenvolve o dom de enxergar fantasmas e espíritos. Assustado com a novidade, ele não poderá contar com as mesmas forças sobrenaturais que lhe trouxeram esse dom, na verdade precisará se colocar em uma jornada de autoconhecimento e revisitar diversas situações mal resolvidas do passado.
A morte, essa entidade tão temida pelos seres humanos, passa a acompanhar William enquanto ele vagueia pela cidade com seu skate em busca de respostas. Uma coisa é certa, sua vida nunca mais será a mesma após o despertar desse dom. Com isso o adolescente se vê num dilema de abandonar pessoas, amigos e situações que já não fazem mais sentido em sua vida. Nem mesmo a solução através de ajuda especializada de psicólogos ou guias espirituais parece satisfazer a mente sempre em ebulição do rapaz. Então somente com muita dedicação e fé William conseguirá vencer seus próprios fantasmas internos.
Com uma temática totalmente nova em relação ao que já produz em QUAD e trabalhando praticamente sozinho em todo o projeto, Aluísio enfrentou o desafio de desenvolver um roteiro complexo e uma história em quadrinhos muito mais extensa. Tentando fugir do mote autobiográfico, já que o próprio autor também perdeu o pai, Aluísio mesclou pitadas de elementos sobrenaturais ao drama existencial de William. Trabalhando exaustivamente por quase cinco meses, contou apenas com ajuda da Mariana Calil, que foi responsável pelas cores chapadas de base.
A primeira coisa que fica muito evidente ao terminarmos de ler Drop Dead é que facilmente a história poderia ter mais páginas de modo a desenvolver o desfecho em um ritmo cadenciado. Esse é um problema recorrente em quadrinhos independentes, a limitação de recursos financeiros obriga os autores a condensarem a história de modo a diminuir custos de gráfica. Dessa forma algumas coisas no roteiro acabam ficando atropeladas e os conflitos do personagem não são explorados tão a fundo quanto poderiam, tornando a HQ ainda mais densa.
Se por um lado o roteiro apresenta essas pequenas falhas, de outro as artes estão muito bem elaboradas. Após os diversos trabalhos já publicados pelo selo QUAD o traço de Aluísio já atingiu uma maturidade que lhe permite criar cenas em total sinergia com o drama do roteiro, sejam passagens dinâmicas ou momentos de introspecção. Os enquadramentos e a própria diagramação dos quadros nas páginas contribuem para uma harmonia realmente bem planejada em toda a HQ. A paleta de cores também acompanha de forma criativa os sentimentos em cada passagem.
Um bônus muito inusitado da graphic novel é a disponibilização da playlist no Spotify contendo músicas de Offspring, Nirvana, Suicidal Tendencies e Faith No More que William escutou em seus rolês de skate.
Ao contrário dos álbuns da QUAD que foram fomentados por financiamento coletivo como o Catarse, dessa vez Aluísio optou por buscar recursos para este título no ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, e foi contemplado. Portanto agora está sendo comercializado de forma independente em lojas especializadas como a Ugra e a Monkix, além do site da própria QUAD.
Ficha Técnica:
Drop Dead de Aluísio C. Santos
Editora: QUAD Comics
Formato: 21 x 30 cm
Páginas: 82
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