Entenda as polêmicas envolvendo Emilia Pérez na corrida ao Oscar
Essa temporada de premiações tem sido intensa, não só pela indicação de Fernanda Torres e do longa “Ainda Estou Aqui” nas categorias principais, mas pelos concorrentes, modo geral, estarem cercados de polêmicas, dos quais um dos principais envolvidos (e nomeados) é o longa francês “Emilia Pérez”, sobre violência no México com cartéis, e a experiência trans. Veja a nossa lista citando todas as controvérsias.
1. A recepção no México
A recepção de “Emilia Pérez” pelos mexicanos, e latino-americanos no geral — mas deles sobretudo — foi desastrosa, e precisa ser dividida em vários subtópicos.
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1.1 Perspectiva colonizadora
Um dos pontos que mais atraíram revolta de todos os setores da sociedade mexicana, tanto à esquerda quanto à direita, foi a postura do cineasta francês Jacques Audiard, responsável pelo filme, ter dado um par de declarações que não foi bem
Entrevistadora: “O quanto você teve que estudar sobre o México para fazer esse filme?”
Jacques: Não estudei tanto. O que eu tinha que entender eu já sabia um pouco. E, bem, foi seguramente mais sobre detalhes, os quais vimos bastante aqui no México. Para ver atores, lugares, decoração, etc.
O diretor chegou a pedir desculpas por tal, posteriormente.
“Se tem uma coisa que soa escandalosa em Emilia, peço desculpas. O que eu queria dizer é que não estou tentando dar respostas. O cinema não entrega respostas; o cinema apenas faz questões. E talvez as questões feitas em Emilia estão incorretas. Talvez eu só as tenha achado interessantes. Não queria, e não quero soar pretensioso.”
Diretor em entrevista para a CNN.
Outra coisa que ficou marcada foi uma entrevista da diretora de escalação do filme, na qual ela comenta em como eles procuraram por toda a América Latina e não encontraram uma atriz autêntica à altura, o que acendeu mais ainda a ira de mexicanos, que viram na produção um tom paternalista e condescendente com a América Latina, reduzindo sua complexidade.
Agrego: La directora de casting de Emilia Pérez dijo que al inicio querían actrices mexicanas y que buscaron por América Latina, pero que las "mejores" fueron europeas o gringas. Me parece un poco inapropiado.
— Reinas Pop 👑 (@reinas_pop) December 17, 2024
Encima, Adriana Paz, quien sí es mexicana, es parte del elenco…🤔 https://t.co/millNkLzyz pic.twitter.com/PkU9QkgPrH
Complicado, porque Jessi, Rita e Emilia eram todos personagens mexicanos. Então fizemos uma grande pesquisa, estávamos abertos, e fizemos uma grande procura [por atrizes] no México, e nos EUA, e na Espanha e em toda América Latina. E então… queríamos mantê-lo bem autêntico, mas, no final das contas, os melhores atores, que encarnam esses personagens, são aqueles que temos aqui, certo? Então tivemos que averiguar como ajustar autenticidade, o que eu estou certa que vocês garotas fizeram — com os sotaques — e… não ser necessariamente mexicanas nativas. Foi uma grande procura, vimos um montão de atrizes por toda parte, e para o papel de Emilia o Jacques queria que fosse autêntico, e queria uma atriz trans para fazer o papel; não havia questionamento a respeito disso, e nisso nos agarramos ao longo de todo o processo.
1.2 “Johanne Sacreblu” e complexo de salvador
Aproveitando o último tópico, a retratação da violência dos cartéis no México tambéu gerou revolta nas redes. Por utilizar uma narrativa em musical de forma tão branda para falar sobre corrupção, desaparecidos pela violência, e glorificando, através de uma protagonista e arrependida na forma ex-membra de cartel, uma situação que é dramática para milhões de mexicanos.
Pelo elenco e produção serem essencialmente por europeus — com a exceção da atriz Adriana Paz (Epifanía), a produção foi acusada de reproduzir “complexo do salvador”, termo que se refere a alguém que crê ser responsável por ajudar/salvar outras pessoas, especificamente aqui em que se atribui não-agência a pessoas não-brancas, como uma forma glamourizada de lucrar — financeiramente e/ou imageticamente — a partir da desgraça alheia.
Em resposta, a atriz Camila Aurora, trans e mexicana, lançou uma resposta-paródia à “Emilia Pérez” que viralizou as redes sociais: “Johanne Sacreblu”, em que satiriza a França a partir de estereótipos da mesma forma que faz o filme de Audiard. O mini-filme já conta com mais de 1.6 milhão de visualizações só no YouTube e mais de catorze mil avaliações no Letterbox, com uma média de 4.6, o dobro de Emilia Pérez.
Para os interessados, a sinopse é a seguinte: Johanne Sacreblu é uma mulher trans de uma cidade chamada Villa Croissaint, na França, onde se produzem muitas baguetes. Sua perspectiva revolucionária do mundo é transformá-lo a partir do amor, mas ela se apaixona por Agtugo Ratatouille, um rapaz islamifóbico proveniente de uma família inimiga.
1.3 Karla Sofía Gascón e redes sociais
Primeira mulher trans indicada à melhor atriz no Oscar, Karla Sofía Gascón tem tido uma corrida à estatueta bem conturbada, visto que também não ficou calada sobre a repercussão negativa do filme. Em dado momento, chegou recentemente a comparar aqueles que criticam-na de serem como os nazistas.
Hoje alguém me perguntou se havia alguma campanha orquestrada contra minha nomeação e contra Emilia Pérez. É mais que óbvio que temos um grande problema que nos espreita, de novo, à humanidade.
Como advertia [Karl] Poper: Tolerar o intolerante termina em intolerância.
Cuidado em seguir passando os discursos de ódio por alto, começaram assim na Alemanha e acabamos em campos de concentração. Cuidado ao rir de piadas com líderes que pretendem cortar nossos direitos, cuidado com comprar o medo que estão te vendendo. Cuidado porque aqueles que mais riem hoje serão os mais prejudicados amanhã.Causa/efeito
[Em imagem, Karla recebendo um prêmio com a legenda: “A luz sempre ganha da escuridão]
Tradução de tweet da atriz, no X.
Karla também não está satisfeita com comentários realizados por brasileiros em suas redes sociais, mas isso deixaremos para o ponto 3.
Dizendo mais respeito à comunidade hispânica, o filme tem sido muito criticado pelo conteúdo de suas letras, apontada como tendo sido fruto de inteligência artificial. Não ajudou que a equipe do longa confirmou o uso de IA para corrigir a voz do elenco.
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Selena Gomez não escapou dessa: seu sotaque em espanhol tem sido duramente criticado e espectadores a acusam de não falar espanhol fluentemente — a personagem, que não é uma nativa, viralizou com a canção original “Bienvenida”, atraindo hate na internet por rimar particípios (venerada, excitada, extasiada, likeada…), pelos vocais estapafúrdios, e conteúdo. Deixamos abaixo fragmento de “El Alegato”, que sintetizaria comentários sobre as letras serem genéricas.
No es ningún cuento de hadas
Es una historia de amor
Vuelvo a los hechos (violencia, amor)
¿De qué hablamos hoy y ahora? (Violencia, amor)
¿De justicia que se compra? (Amor)
2. Comunidade LGBT
Espectadores LGBT, sobretudo público trans, tem criticado a boa recepção de filmes em festivais como fruto de uma grande falta de bom senso. A principal crítica é como a personagem principal, Emilia, é representada como um espantalho e estereótipo de trans raivosas, e como ela “soa” e “tem cheiro” como de um homem, além do longa girar em torno de sua “redenção moral” a partir da redesignação de gênero.
A cereja do bolo vai para a canção “La Vaginoplastia”, que banaliza procedimentos feitos por pessoas trans enquanto trata a transição de gênero de forma reducionista e risível, contemplada pela letra, que deixamos abaixo.
Olá, muito prazer em te conhecer / Eu gostaria de saber sobre a cirurgia de mudança de sexo / Entendo, entendo, entendo / Homem pra mulher ou mulher pra homem? / Homem pra mulher / De pênis pra vagina / É pra você? / Para mim? Não / O que você quer saber a respeito, madame? / Quero saber sobre tudo, qual é o protocolo? / As técnicas e os riscos? Quantas operações / Quanto tempo precisa? / Mamoplastia? / Sim! / Vaginoplastia? / Sim! / Rinoplastia / Sim! / Laringoplastia? / Sim! / Mamoplastia? / Sim! / Vaginoplastia? / Sim! / Rinoplastia / Sim! / Laringoplastia? / Sim! / Condrolaringoplastia? / O que é isso? / Redução do pombo de adão / Sim! Sim! Sim! Sim! / Vaginoplastia / Vaginoplastia / Rinoplastia / Rinoplastia / Laringoplastia / Laringoplastia / Mamoplastia / Mamoplastia / Vaginoplastia / Vaginoplastia / De homem pra mulher / De mulher pra homem / De homem pra mulher / De mulher pra homem / De homem pra mulher (Vaginoplastia faz esse macho ser válido) / De mulher pra homem / …
“La Vaginoplastia”, Zoe Saldaña
3. Sobre “Ainda Estou Aqui” e Fernanda Torres
Sofía Gascón tem recebido ataques e comparações, com pessoas importunando-na em redes sociais. Chegou ao ponto de Fernanda Torres fazer um video pedindo para o ódio parar, comentando uma boa história que teve com a atriz, que foi super simpática com ela e a ajudou a se introduzir para outros famosos.
Ainda ontem (28), no entanto, Gascón soltou outra declaração polêmica em entrevista para a Folha de São Paulo:
Pessoalmente, creio que Fernanda Torres seja uma mulher maravilhosa, além de uma atriz incrível que merece todo o reconhecimento do mundo, e tenho certeza que ela fez um bom trabalho. Pessoalmente, eu não o vi ainda, desculpe, porque não tive tempo de ver nenhum trabalho de ninguém durante a promoção do filme e acredito que seja uma mulher que merece todo reconhecimento desse mundo, fico muito feliz por seu Globo de Ouro. Isto não é uma competição: há pessoas que gostam mais de um trabalho que outro. Se ela ganhar, fantástico, se eu ganhar, também. O que, sim, eu não gosto é que há uma equipe de pessoas em redes sociais que trabalham ao redor de todas essas pessoas tentando desmerecer o trabalho de outros, como o meu e de meu filme, porque isso não leva a lugar nenhum. Para ressaltar o trabalho de uma pessoa, você não precisa destruir o do outro. Eu, em nenhum momento vi alguém falando mal da Fernanda Torres ou do filme da Fernanda Torres. Mas, por outro lado, vejo muitas pessoas que trabalham com a Fernanda Torres que falam mal de mim e de “Emilia Pérez”, creio que isso fala mais sobre eles e de seu filme do que de mim.
4. Selena Gomez chora por deportados
Em seus stories, Selena Gomez postou no dia 27 de janeiro um vídeo em que, aos prantos, lamenta a deportações de milhares de imigrantes dos EUA. Internautas apontaram seu choro como falso, tendo decidido chorar em frente as câmeras, e uma estratégia de campanha para promover um filme sobre pessoas latinas.
Como resposta, a atriz não só deletou os stories como, em tom passivo-agressivo, disse que sairia das redes sociais. Internautas apontaram comicamente que essa era a vigésima vez que ela o fazia, ao menos era a primeira vez em 2025.
“Emilia Pérez”. Imagem Destacada: Divulgação/Netflix
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