Anderson Di Rizzi, aos seus 38 anos, já participou mais de uma novela do Walcyr Carrasco e esteve em filmes, como “Tô Ryca” (2016) e “O Concurso” (2013). Seu projeto mais recente foi o longa “Eu te levo”, que estreou no final do mês passado nos cinemas brasileiros, com a direção de Marcelo Muller e Rosi Campos como parte do elenco.
O ator paulista marcou inúmeras pessoas pelo seu lado humorístico, com personagens como Sargento Xavier em “Morde e Assopra” (2011), Carlito em “Amor a Vida” (2013) e, o último papel, na novela “Eta mundo bom!” (2016), como o caipira Zé dos Porcos. Além desses trabalhos, na televisão, Di Rizzi fez parte do quadro “Dança dos famosos” em 2014, e deu vida a Carlito, personagem apaixonado por Valdirene (Tatá Werneck), na novela “Amor a Vida”. Esse último lhe rendeu o prêmio “Melhores do ano” no “Domingão do Faustão”.
Algo curioso de sua vida seria o fato de que ser ator não foi o seu primeiro sonho. Ele queria ser jogador de futebol. Inclusive, passou por times como Guarani e Ponte Preta. Depois, desistiu, participou de algumas propagandas publicitárias e, nos anos 90, se formou em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes. Ao todo, foram mais de 100 comerciais.
Ainda sobre o seu mais recente trabalho no cinema, o longa produzido pela Academia de Filmes, conta a história de Rogério (Anderson Di Rizzi), um cara caladão, que adora rock e mora com a mãe (Rosi Campos), no interior de São Paulo. Seu pai havia morrido poucos dias antes, deixando um negócio para administrar, gerando no filho uma necessidade adiada há anos de resolver o que fazer da vida. Rogério, a quem o foco narrativo está atrelado, precisa declarar uma tardia independência, mesmo paralisado pela ideia de assumir responsabilidades.
A Woo! Magazine teve o prazer de entrevistar esse artista multitalentoso, que abre o jogo e nos conta como funciona a sua preparação de personagens. Ele ainda revela suas opiniões sobre as reflexões deixadas no seu mais novo trabalho, que é o foco central das perguntas abaixo. Ademais, contou parte da sua vida pessoal, como foi seu crescimento e os conselhos que ele pode dar por meio de suas experiências.
Morg Melo – É notória sua participação com personagens marcantes como Sargento Xavier e Zé dos Porcos na Rede Globo. A sua formação é, basicamente, feita na tv ou também veio do teatro e do cinema?
Anderson Di Rizzi – Bom, minha formação é no teatro mesmo. Eu fiz personagens muito densos, em tragédias gregas, Shakespeare, etc. Aí, me vi fazendo comédia na televisão. Engraçado que, quando surgiu a oportunidade do Sargento Xavier, eu vi que era comédia, que era um personagem cômico, eu até fiquei um pouco assustado. Falei: “Nossa, mas eu não sou um ator engraçado, né? Não vou saber fazer. ” Fiquei tenso, sem dormir, nervoso (risos). Tive a ideia de dar uma relaxada. Era uma grande oportunidade, queria dar o melhor de mim. Foi muito louco que, quando as pessoas me viam na rua, me falavam que eu era engraçado. Acho que sou engraçado, já as pessoas estão falando. Então, acho que está dando certo. Mas, é isso… eu vejo minha linha de trabalho muito para a do Rogério, mesmo. Essa linha mais dramática é uma que eu gosto muito de seguir. Mas, também me divirto muito fazendo comédia. Tem gente que me vê e fala: “Ah, Anderson, eu adoro o seu trabalho, me conta uma piada”. Eu respondo: “Olha, eu sou péssimo para contar piada. Aliás, nem me peça isso.” Acham que eu sou engraçado assim na vida, né? Mas eu sou um cara mais na minha. Mais quieto. Tem gente que me vê e estranha um pouco. Acham que eu sou um cara que chega já brincando, falando as coisas, mas não é assim. Sou brincalhão, mas sou mais para quietinho.
MM – Na sua carreira novelística, você tendeu para o lado do humor. Como foi fazer a transição do Zé dos Porcos para o Rogério, um personagem monossilábico?
ADR – Na verdade, eu rodei o filme depois que eu fiz “Amor à vida”, que eu fiz o Palhaço. Então, primeiro veio o Rogério e, depois, o Zé dos Porcos. Então, você vê que são três personagens diferentes. Eu sou um ator que pesquisa muito. Para o Zé dos Porcos, eu fiz uma pesquisa de 8 meses com a Bia Svartman, uma pesquisa mais corporal. Mas, na verdade, o Rogério, por ser monossilábico, me interessou muito fazer, porque é um cara muito introvertido, introspectivo, enigmático. Essa é uma linha que eu queria muito seguir. Tem um trabalho muito interno. Você vê que o filme gira em torno do olhar desse cara, como ele vê as coisas. Então foi um exercício riquíssimo para mim como artista, sabe? Sobre transição, é isso… eu gosto de pesquisar, de estudar. Então, do Rogério, o andar dele, a gente tentou, junto com o Marcelo Muller, fazer um andar um pouco mais para frente. Como se fosse quase uma dança, um “rockzinho”, andando com o tronco sempre um pouco para frente, com a cabeça mais baixa. É um cara que encara, mas não encara muito, entendeu? A gente tentou algo tipo: você não sabe muito bem o que ele está pensando, se ele vai te dar um abraço ou se ele vai te xingar. Tem quase uma psicopatia leve. Um cara estranho, mais ou menos, como o Marcelo queria e o que eu acreditava também.
MM – O filme relata bem as frustações e questões da Geração Canguru. Mas, será que não poderíamos refletir, com a ajuda do filme, sobre uma hipótese de Geração Maternal/Fraternal Canguru também? Isto é, será que não existe a possibilidade de os pais ajudarem nesse amadurecimento tardio?
ADR – Então, eu acredito na importância de os pais estarem perto nesse crescimento dos filhos. Acredito que se a pessoa tiver uma oportunidade, financeiramente, de os pais poderem sustentá-la, tendo a própria casa, seguindo com a vida, em outra cidade, talvez, estudando, fora do Brasil e tentando a vida, é o jeito que eu acredito mais. Uma pessoa que está ali, morando com os pais, durante muitos anos, não é exatamente como é o mundo lá fora, que não tem essa proteção. Então, de certa maneira, tem um acolhimento ali que, talvez, a pessoa fique com medo de encarar a vida como, de fato, ela é. Não sei se consegui me explicar muito bem…. Eu acho que pode ajudar no amadurecimento, quando os pais dão livre arbítrio para o filho e falam: “Vai lá, encara a vida. Vai lá e batalha, consiga as suas coisas e, se precisar, a gente está aqui.” Acho que também pode ser você morando na sua casa em outro lugar e seus pais morando na deles, você indo os visitar de vez em quando. Porque, comigo, aconteceu assim: Eu saí da casa da minha mãe quando eu tinha 17 anos. Fui morar em São Paulo, minha família é de Campinas e fui morar com a minha tia. E aí, claro, Campinas é pertinho, gostava sempre de estar aqui. Eu sou muito família, gosto de estar perto dos meus pais. Me preocupo, sou um cara que está sempre perto, procurando saber como eles estão e ajudando também. Então, eu sinto falta disso, mas acho importante encarar a vida, longe da casa deles, sabe?
MM – Convivendo com o seu personagem, tem o jovem Cris, que se enquadraria no termo “ jovens nem nem”. Ou seja, os adultos de 18-25 anos que nem trabalham, nem estudam. Você acha que o relacionamento do Cris com o Rogério foi traçado pelo diretor Marcelo Muller com algum propósito de comparação?
Eu acho. Eu acho que o Rogério se vê ali mais jovem no Cris e pensa que a vida dele passou, ele já está com 30 anos e não mudou nada. Ele não quer que, de repente, aconteça a mesma coisa com o menino. Ele consegue perceber que o Cris, sendo mais jovem, teve mais coragem que ele quando tinha essa idade. Então, é o espelho dele. Acredito que o Cris seja o espelho do Rogério. Tanto é que, tem até uma discussão ali. O Rogério, não aceitou o Cris de cara, porque ele se vê muito nele. Depois, passou a ter um carinho muito grande por esse menino, porque, na verdade, é o espelho. O Cris é ele mais jovem.
MM – Em relação ao Rogério não contar a verdade para Lucas, irmão de Cris, sobre o que realmente o irmão caçula anda aprontando, seria devido à sua compreensão com o período que o menino vive, por ver o Rogério mais novo no Cris?
ADR – É, o que eu acabei de falar: Com certeza, tem uma proteção ali, porque ele sabe que o Cris é um bom menino, só que ele quer viver a vida, sabe? Ele não está feliz ali naquela cidade, pequenininha, tendo a vida que ele tem. São Paulo é uma cidade gigante, de grandes oportunidades profissionais, de conhecer gente diferente e do mundo todo, eu diria. E, com certeza, ele se vê muito ali, né? Então, na verdade, o fato dele não ter falado para o irmão foi uma maneira de proteger o Cris e, de certa maneira, ter a sensibilidade de saber que é importante ele passar por isso. Afinal, porque o Lucas é um cara coxinha, que eles falam. É o cara que casou, ficou ali quietinho, na vidinha dele e quer que o irmão também tenha isso, não sendo também o que o Rogério quer. Ele vê o menino muito próximo dele. Então, tem uma proteção, sim.
MM – Ainda na questão do relacionamento do Rogério com o Cris, poderíamos concluir, na sua opinião, que o Rogério seria uma continuação do que o Cris se tornaria um dia ou a geração do personagem do Giovanni Gallo levaria a um outro fim, o de querer sair da casa dos pais o quanto antes, mesmo sem saber o que quer, de fato, fazer?
ADR – Eu acho que o relacionamento dele com o Cris, na verdade, é tão aposta do Rogério de se ver nessa situação e de falar: “Caramba! Quero ver até onde esse menino vai. ”, porque é até onde eu iria, digamos assim. Ele torce para que o Cris vá até mais longe. Faltou essa coragem ao Rogério e é um cara que ele quer acompanhar a trajetória dele, porque os dois têm a mesma vibe, digamos que a mesma linha. É um menino que ele quer que tenha a coragem que ele não teve. Acho que ele vê isso ali no Cris. Agora, o personagem do Cris, se não sair da casa dos pais, acho que é um menino que precisaria ter uma conversa muito boa, em relação a drogas e esses tipos de coisas, porque eu vejo esse personagem até mais “despirocadinho”, sabe? (risos). Ele gosta de experimentar coisas e é até um caminho perigoso, se não tiver muito a base dos pais – o que eu acho muito importante. É muito importante conselho dos pais, o pai e a mãe sempre perto, indicando o melhor caminho para o filho. Eu não acho que ele tenha que ficar solto no mundo, sozinho. Acho que ele tem que ir para o mundo, mas com os pais por perto sempre, dando conselho… é esse o caminho que eu acredito e, foi o meu caminho. Minha mãe, por exemplo, ela falou para mim: “ Ó, você anda de cabeça erguida, tá? Sempre faça as coisas certas na sua vida”. Meus pais sempre me mandavam nunca abaixar a cabeça para o dono da padaria. Tipo assim, não vai na padaria e faça uma coisa errada, como comprar e não pagar, alguma coisa assim… Ande sempre de cabeça erguida. Então, eu sempre cresci com esse pensamento, sabe? Sempre tive esse tipo de apoio dos meus pais.
MM – Quanto ao final, o que você acredita que acontecerá, dali para a frente, na vida do Rogério?
ADR – Em relação ao final, eu acho que o Rogério não sabe muito bem o que ele quer da vida. Ele queria ser polícia, para ser bombeiro. Aí, ele pega e desiste, não quer mais. Ele resolve viajar. Aí, na hora de viajar, ele não vai e volta para casa da mãe. Acho que ele ainda está muito confuso. É um menino bom, tem só umas questões ali, com ele mesmo, que ele precisa resolver sozinho. Mas, acredito que ele vai ficar ali mesmo em Jundiaí. Ele deve voltar a tocar bateria, que ele gosta e tocar a loja do pai, junto com a mãe. Eu vejo muito a mãe dele trabalhando ao seu lado depois, sabe? Eu acho que seria isso. Do Cris, já acho que é um menino que jamais ficaria ali, em Jundiaí. Ele é do mundo, sabe? É muito jovem, é um menino que está experimentando coisas e que precisa conversar muito com ele para não se perder em drogas, essas coisas. Mas, é um menino que arrisca, que gosta de coisas novas na vida. Experiências, situações, coisas assim.
MM – Como há um estudo que aponta um número crescente da Geração Canguru, o que você aconselharia aos “Rogérios” do nosso país?
ADR – Bom, o que eu aconselharia? Quem sou eu para aconselhar? Eu falo por mim… Como eu já disse, eu saí da casa dos meus pais com 17 anos para morar em São Paulo com a tia da minha mãe. Fui lá para ficar uma semana e acabei ficando dois anos com ela, coitada! (risos). Fui estudar teatro. Mas, São Paulo é pertinho de Campinas, então sempre estava ali na casa da minha mãe para ficar pertinho deles, porque eu sou muito família. Gosto muito de estar com ela. Então, acho que tem que ter um certo cuidado ali, porque você morar durante muito tempo com pai e com a mãe é uma proteção que não é, assim, o que a gente tem lá fora. A vida la fora é cruel, te cobra. Ela não passa a mão na sua cabeça, igual ao seu pai e sua mãe fazem. E, também, o pai e a mãe, eles podem frear muita coisa da pessoa. Sabe? “Ah, isso não vai dar certo! ”, “não faz isso, não! ”, “Não, você ainda mora comigo. Eu que decido se você vai fazer isso ou não. Você me deve satisfações”. Entendeu? Então, tem uma cobrança ali que pode frear um pouco a evolução da pessoa, tanto profissional, como pessoal. Eu acho que esse desligamento da casa é importante nesse sentido. Agora, se a pessoa mora com o pai, com a mãe, os dois são tranquilos nessas coisas que eu falei, então a pessoa pode aproveitar esse momento dela, desde que ela saiba que, mesmo morando com eles, deve guardar o dinheiro, que não gasta com aluguel e as contas, para investir no próprio negócio mais tarde. Precisa saber que está guardando o dinheiro para estudar e investir depois, em uma empresa, apartamento… Aí, eu acredito. Agora, você morar com seus pais por proteção, porque ali você é o “menininho da mamãe” e tem toda proteção e carinho do mundo, é legal, mas não nesse sentido, sabe? Seus pais vão estar lá. Qualquer momento você volta, dá um beijo neles, um abraço, fica um pouquinho e vai seguir sua vida, se você tiver essa oportunidade. Claro, têm casos em que o filho está ali com os dois, porque eles são doentes. Ou se ele não tem dinheiro para pagar um aluguel ainda. Tudo isso eu super respeito. Agora, ficar só por proteção, não! Aí, eu acho que não vai fazer bem.
MM – Para terminarmos, quais são seus projetos para o futuro? Algo em vista? Em breve, iremos vê-lo no cinema, tv ou teatro?
ADR – Eu estou em cartaz com “Quarto estado da água” no Top Teatro, em São Paulo. Eu, Herbert Richers Junior, Kiko Pissolato. Direção de Bia Svartman, que fez a minha preparação para o Zé dos Porcos. É um teatro físico, experimental, muito legal. A gente vai até junho, depois vamos viajar pelo interior de São Paulo para, depois disso, ir para o Rio de Janeiro. Na peça, eu faço um personagem mais denso, mais dramático. O que é diferente da tv, por exemplo. Eu também quero ter oportunidade na tv nesse sentido. De mostrar um outro lado meu, como ator. Fazendo drama e personagens parecidos com o Rogério, alguma coisa mais assim. Eu devo fazer uma novela na Globo, agora, no final do ano. Eles pediram ainda para não falar o que é. Eu sigo contratado lá até 2019. Graças a Deus! E, no cinema, eu vou rodar um filme no meio do ano, com direção e roteiro do Tiago Luciano, que é sobre a legião estrangeira. Tá lindo, o filme. Eu faço o protagonista da produção, junto com a Lucy Ramos, que é a mulher do Tiago e está, agora, na novela das 9. A gente vai fazer marido e mulher.
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