O Brasil também teve um Lord Byron, seu purgatório de delírios expressos nos versos de Álvares de Azevedo.
Para muitos, a poesia romântica não passa de Romance de formação do Brasil e projetos de nacionalização, com claras intenções de caracterizar a cultura local. Mas é na segunda geração deste movimento que surge o poeta confundido entre a libertinagem devassa e os estudos conservadores.
O famoso autor do clássico “Lira dos Vinte Anos” deixou marcas profundas na nossa Literatura tropical e foi na contramão dessa perspectiva que romanceava nossas bananeiras e índios. Extremamente influenciado pelo mal que assolava o século XIX- a tuberculose -, pelo tédio, a dúvida e o sofrimento, produziu trabalhos que reproduzem os amores e dissabores da vida, relatando essa com amigos e sociedades secretas, fruto da agitação do meio acadêmico frequentado por ele, e que posteriormente se transformou em estética assombrosa onde ruínas, morbidez, amores impossíveis, desilusões e embriaguez eram a marca registrada como podemos conferir em “Noite na Taverna”: ” – Quero que todos se levantem, e com a cabeça descoberta digam-no: Ao Deus Pan da natureza, àquele que a antiguidade chamou Baco o filho das coxas de um deus e do amor de uma mulher, que nós chamamos melhor pelo seu nome- o vinho.” Também intitulado “Romantismo negro”, esse tipo de escrita que exalta a decadência, deu origem ao livro e está dividido em sete capítulos abrindo com um personagem que dialoga com Satã, artifício ainda controverso nos dias atuais.
Fortemente influenciado pelos góticos da Idade Média, além do poeta inglês Lord Byron, as narrativas desse paulistano, estudante de direito, soam extravagantes e por vezes polêmicas para a época. E quem o lê, talvez não se dê conta da brasilidade em seus versos já que o culto a subjetividade, o fantástico, mortes e vampiros são frequentes em suas histórias. Há outros poetas que fizeram parte desta fase pós-independência brasileira, podemos citar Bernardo Guimarães, mas sem dúvida Azevedo deu o tom representativo dos jovens que nada tinham a ver com um Brasil idealizado, inclusive por morrer muito novo, aos 21 anos, fazendo jus à sua identidade poética errônea.
Atrevo-me a dizer que diversos artistas, especialmente os marginais, não teriam visibilidade se outrora contos e relatos desse poeta que precedeu temáticas como a loucura, o erotismo e a dor retratada através do adultério, do incesto, do canibalismo e da heresia, mudando o foco dentro da Literatura nacional não tivessem sido publicados.
“(…)Dei um último olhar àquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí… Não sei se a noite era límpida ou negra — sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera até a última gota o vinho do deleite.”
As obras de Álvares de Azevedo são de domínio público, você pode encontrar diversas delas em PDF na internet ou mesmo comprando um livro. Seus contos de “Noite na Taverna” foram reproduzidos diversas vezes em obras teatrais.
Boa viagem à loucura romântica!
Por Susana Savedra
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