A “conquista do Oeste” é um capítulo importante para a história dos Estados Unidos, pois se refere a um período em que a colonização iniciada pelos ingleses se expande por todo o imenso continente da América do Norte. Além da enorme distância a ser percorrida pelos “conquistadores”, havia ainda as dificuldades geográficas da região desértica e repleta de cânions e a hostilização das tribos indígenas que não aceitavam o invasor branco. Todos estes ingredientes somados ao gigantesco orgulho estadunidense levaram à criação de um gênero literário que misturou fatos históricos com fantasias megalomaníacas de conquista: o Western (ou faroeste).
As primeiras obras literárias desse novo gênero datam do final do século XIX. Com o surgimento de novas mídias como o cinema e as histórias em quadrinhos, não tardou para que o faroeste também as alcançasse. O gênero que conquistou os norte americanos graças à sua exaltação nacionalista de poder possui personagens bastante estereotipados caracterizados por cowboys ou pistoleiros armados com revólveres e rifles da época, além de índios, bandidos, xerifes, caçadores de recompensas, cavalaria montada, colonos e moradores da cidade. A ambientação recorrente se dá em paisagens desérticas e territórios inexplorados. No cinema o gênero se tornou popular em meados da década de 1930 e posteriormente foi renovado pelo italiano Sergio Leone seu ator preferido Clint Eastwood, dando origem ao subgênero Spaghetti Western.
Já nos quadrinhos o gênero ganhou notoriedade com Tex, da editora Bonelli, publicado a partir de 1951, e com Blueberry, do francês Moebius, a partir da década de 1960. Estes dois títulos não só mantiveram os estereótipos e ambientações criados pelo cinema como também definiram um estilo visual para as histórias em quadrinho desse gênero. Os traços em Preto e Branco praticamente se tornaram um padrão com hachuras carregadas e uso recorrente de alto-contraste. Os quadros com planos bem abertos intercalados por supercloses e planos de detalhe também foram reaproveitados da linguagem cinematográfica para consolidar este tipo de HQs.
Embora o gênero tenha perdido sua popularidade de outrora, vez por outra ainda vemos surgir boas histórias nas diversas mídias. Esse é o caso de ‘Gatilho’, com roteiro de Carlos Estefan e arte de Pedro Mauro, cuja sinopse já diz muita coisa do que vem pela frente: “Um caçador de recompensas chega numa cidade abandonada em busca de justiça. Mas, para conseguir o que quer, ele precisará enfrentar muito mais do que o homem que procura… Terá que exorcizar fantasmas do passado.”
A história em si é um grande compilado de situações típicas de faroeste, inclusive o primeiro nó de ação do roteiro é basicamente uma homenagem aos grandes filmes de gênero. O roteiro não linear vai aos poucos ligando os acontecimentos do passado com os eventos presentes, ambos sempre envoltos numa densa atmosfera de suspense e muita tensão. O aprofundamento emocional do personagem, que explora suas angústias e medos, ainda dá um tom de thriller psicológico à trama. Embora não tenha nada de muito ousado, o roteiro de Carlos Estefan é consistente e bem elaborado, contando com um plot twist criativo do desfecho da história.
Pedro Mauro já é um nome consagrado no universo dos quadrinhos. Veterano nessa área, ele iniciou sua atuação na década de 1970 desenhando para a Taika Editora. Devido ao seu grande talento, em 2014 foi convidado para desenhar pela Bonelli, a famosa editora de Tex. Com toda essa experiência já é de esperar que as artes de Gatilho sejam um espetáculo. Muito fiel às HQs tradicionais do gênero, Pedro usa e abusa dos alto contrastes, enquanto as hachuras funcionam muito mais para criar um desenho “sujo” do que para marcar volumes e profundidades. A diagramação das páginas tem uma sintonia perfeita com o ritmo do roteiro e valoriza ainda mais a arte com quadros grandes e páginas duplas.
Além da HQ em si, o algum ainda conta com um prefácio de Sidney Gusman e textos sobre o processo e criação e produção da graphic novel. Certamente é uma obra significativa entre os quadrinhos nacionais!
Editora: Independente
Autores: Carlos Estefan (roteiro) e Pedro Mauro (desenhos).
Preço: R$ 35,00
Formato Magazine (21 x 28cm)
Capa: cartonada
Número de páginas: 64
Data de lançamento: Dezembro de 2017
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