Nos anos 60 o Brasil e o mundo passavam por fortes conturbações. Lá fora, tudo estava bipolar com a divisão entre capitalistas e comunistas. Por aqui, o presidente João Goulart governava por trás dos mais diversos atos constitucionais. E saindo dos embalos da bossa nova, o universo musical brasileiro entre em um movimento cultural contestador e vanguardistas: a Tropicália.
Foram as impactantes apresentações de Caetano Veloso defendendo a música “Alegria, alegria”, e de Gilberto Gil com “Domingo no Parque” no Festival de Música Populas Record de 1967, em plena ditadura militar, romperam com os padrões da época que, oficialmente, deram inicio ao movimento.
Confira a versão da música “Alegria, Alegria” apresentada por Caetano no festival:
https://www.youtube.com/watch?v=wWhnq5YcBfk
O Tropicalismo foi inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas como, por exemplo, a pop art. Inovou, também, em possibilitar um sincretismo entre vários estilos musicais como, por exemplo, rock, bossa nova, baião, samba, bolero, entre outros.
A Tropicália não era exatamente uma nova modalidade musical, mas uma nova forma de agir e participar do cenário cultural. As letras das músicas possuíam um tom poético, elaborando críticas sociais e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora e criativa.
Os idealizadores do movimento foram os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, com participações de Gal Costa, do cantor da banda Mutantes, Tom Zé, Rogério Duprat, Nara Leão, Rita Lee e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto. Contou, também, com artistas gráficos, poetas e maestros.
Carmem Miranda, a pequena notável, com suas vestes de baiana estilizada e o arranjo de frutas tropicais que carregava sobre a cabeça – marcas definitivas de sua imagem – acabou por expor ao mundo uma visão caricata e estereotipada do Brasil. Sua figura volta no movimento tropicalista mais pela sua vinculação a uma imagem estereotipada e “tropical” do Brasil do que por sua música.
O Tropicalismo durou pouco mais de um ano, mas acabou sendo reprimido pelo governo militar. O incidente da bandeira nacional, que, no entender dos militares governantes do Brasil, foi desrespeitada, – bandeira nacional foi pendurada no cenário, com a descrição “Seja Marginal, Seja Herói”- . Os militares alegaram ainda que Caetano Veloso teria cantado o Hino Nacional com versos ofensivos às Forças Armadas. O movimento chegou ao fim em dezembro de 1968, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos.
Em entrevista para o site G1, o cantor Gilberto Gil lembrou que a guitarra era um marco do imperialismo americano e não vista com bons olhos, e, ainda, afirmou a presença do movimento até os dias de hoje:
– “Naquela época, os tradicionalistas torceram o nariz, tiveram muitos problemas, mas a enxurrada da história, do tempo, e a revolução dos costumes, natural na vida moderna, foi mais forte do que tudo isso. E hoje, nós temos um panorama musical do Brasil…música de origem africana, música de origem latina, caribenha, mas também com elementos fortes da música europeia. Tropicalismo foi para isso. É como eu disse, Tropicalismo veio para ficar, ficou e vai continuar. (…) Hoje eu sou um artista mais maduro e sem dúvida alguma a Tropicália foi fundamental para isso. Uma vez tropicalista, tropicalista até morrer”, defende Gil.
Em comemoração aos 50 anos do movimento, a cantora Zélia Duncan estrelou o musical “Alegria, Alegria”, agora sendo substituída pelo atriz Laila Garin, que foi Elis Regina na peça “Elis, a musical”, que conta com canções de Caetano Veloso como eixo da encenação, consideradas pelo diretor, Moacyr Góes, “a tradução mais fiel do movimento”, mas também contará com composições de Gilberto Gil, Roberto Carlos, Luiz Gonzaga e Vicente Celestino, entre outros. A peça está em cartaz no teatro Santander em São Paulo.
Por Carolina Gomes
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