No Brasil de 1960 o avanço dos estudos sociais, políticos e econômicos era muito grande e revelava um país subdesenvolvido, onde a maior parte da população vivia em miséria e à margem dos processos de produção das grandes capitais.
O neorrealismo italiano deixara por todo mundo suas sementes. Na parte subdesenvolvida surgiram jovens que se aventuraram a manejar uma câmera em busca de uma nova forma de expressão de si próprios e de seu meio. É então que, no Brasil, cria-se a fase que tem como lema a célebre frase “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.
Orientados por uma nova geração de críticos de São Paulo, Salvador e Rio (Paulo Emilio Salles Gomes, Walter da Silveira, Alex Viany), jovens cineastas subiam os morrors cariocas e filmavam as favelas, iam às comunidades de pescadores e mostravam seu modo de viver, adentravam o sertão nordestino para explanar a vida de miséria vivida por muitos e as histórias do cangaço.
Formou-se então o núcleo formado por Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Paulo César Saraceni, Leon Hirszman, David Neves e Luiz Carlos Barreto.
Em 1962, “Arraial do cabo” (Saraceni) e “Barravento” (Glauber Rocha) recebem prêmios da críticia europeia em festivais, dando-lhes certeza de que, abandonando a luz artificial dos estúdios para filmar a realidade sem maquiagem, caminhavam na direção certa.
Grande sucesso dessa época, “Vidas Secas” (Nelson Pereira dos Santo, 1963), adaptado da obra de Graciliano Ramos, foi um duro relato da pobreza rural na paisagem desolada do nordeste. E em 1964, Glauber Rocha apresenta o seu “Deus e o diabo na terra do sol”, libertando a linguagem cinematográfica de seus antigos entraves, deu espaço para que o próprio instinto da cultura brasileira entrasse em choque com o cinema estrangeiro. Estes filmes instalam ainda tradições com seus planos finais, que tornam-se símbolo do cinema novo: os personagens sumindo por largos horizontes, exprimindo a amplidão das perspectivas que se abriam.
A intenção era fazer filmes extremamente brasileiros, abandonando as escolas hollywoodianas e parisienses, buscando a independência cultural. As técnicas de filmagem eram inquietantes e transpareciam a “agressividade” da mesma realidade que retratavam.
A liberdade e a escravidão, sertão, favelas, subúrbios, vilas do interior, litoral, gafieira, terreiros de macumba e estádios de futebol explodem nas telas com filmes como “Maioria absoluta” (1964,Leon Hirszman), “Os cafajestes” ( 1962) e “Os fuzis” (1964) de Ruy Guerra, “Porto das caixas” (1962, Paulo César Saraceni), “Ganga Zumba” (1964, Carlos Diegues) e “Garrincha: alegria do povo” (1968, Joaquim Pedro de Andrade).
O cinema brasileiro sai da posição de marginalidade que permanecera por tantos anos e volta a ser termômetro efetivo de sua realidade.
Em 1965, Glauber Rocha escreve seu manifesto “Uma estética da fome”, onde escancara a realidade brasileira e apresenta a teoria de que as imagens da realidade brasileira de pobreza, injustiça social e alienação – ou seja, a “fome” presente não só aqui, mas na América Latina como um todo – estariam sendo representadas e discutidas pelo Cinema Novo.
O golpe do regime militar imposto em 1964 faz com que os cinemanovistas sejam impedidos de discutir o Brasil abertamente, como era seu objetivo inicial; assim como aconteceu com os demais segmentos artísticos e culturais da sociedade brasileira.
Em 1968, a instauração do AI-5 afirma a ditadura militar no Brasil e afasta ainda mais os cineastas de sua temática política e social.
Agora, a liberdade do artista é o objetivo mais almejado. Ainda há algumas tentativas, que já não seguiam regras nenhuma no geral, de filmagens. Mas categorizam o filme “Macunaíma” (1969, Joaquim Pedro de Andrade) como o ponto de encerramento do Cinema Novo brasileiro.
Recentemente foi lançado o filme “Cinema Novo” de Eryk Rocha (filho de Galuber Rocha) onde a história desse cinema é contada de forma íntima em um ensaio poético.
Por Letícia Vilela
(Referência bibliográfica: CARVALHO, Maria do Socorro. Cinema Novo brasileiro. In: MASCARELLO, Fernando (org.). História do Cinema Mundial. Campinas, São Paulo: Papirus, 2006.)
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