Se os britânicos são os melhores em séries de espionagem, os americanos são especialistas em séries de teorias da conspiração; temos então “Irracional”
Quando se acompanha nos streamings séries que mexem com a imaginação da audiência e trazem cenas de suspense, alguma ação e tensão, o pensamento que me vem a mente são histórias de espiões, policiais ou daqueles de uma pessoa errada (que ao final do filme ou série ironicamente descobre-se que era a certa), no lugar errado.
E se nos últimos anos os ingleses tem criado séries imperdíveis de espionagem, que além de inteligentes são no mínimo divertidas — “Black Doves” na Netflix, “Slow Horses” na Apple Tv+, “The Night Manager (O Gerente Noturno)” na Prime Video, “O Dia do Chacal” no Disney+ — os americanos são especialistas desde sempre em séries que privilegiam teorias de conspiração, com ótimos exemplos como “A Diplomata”, “Segurança em Jogo”, e agora temos “Irracional” com o ator Colman Domingo que vem se juntar a essas duas obras no streaming da própria Netflix.
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Quando a premissa é muito interessante e temos um ator da categoria e alcance de Domingo em jogo, está garantida, no mínimo, a diversão, pois, vejamos, o protagonista é um repórter substituto da CNN, Muncie Daniels, negro, elegante, com seu sobretudo que lembra o do personagem Shaft, militante da causa dos seus pares que, agora, após anos afastado da família, está se divorciando pela segunda vez e tentando escrever um livro para pagar as contas. Ele vai para uma área rural da Pensilvânia e acaba encontrando um vizinho muito solícito, que oferece ajuda caso ele tenha algum problema em sua cabana alugada.
E são nessas jogadas do destino que, justamente ao ter um problema elétrico e ao dar uma passada na cabana vizinha, encontra o proprietário esquartejado na sauna, além de dar de cara com os dois assassinos que acabaram de cometer o crime e o perseguem pela floresta!
Como se não bastasse essa cilada, ainda descobre-se que o morto é um dos maiores e mais proeminentes supremacistas brancos dos Estados Unidos e contumaz espalhador de fake news.
Daí temos aquela velha, confortável e vertiginosa caçada de gato e rato ao qual Muncie terá que se livrar de seus captores, com sua própria intransigência, teimosia e até burrice em algumas situações, pois, afinal, ele é um ser humano.
Na rede de apoio pessoal do herói estão os filhos — inclusive a mais velha é vítima de abandono parental pelo próprio Muncie — o filho mais novo que está tentando se encontrar, sua paciente e inteligente segunda esposa e, por último, um homem que o conhece desde a infância e foi amigo do pai do herói que o criou de uma forma, no mínimo, controversa.
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Tudo isso enquanto tem que fugir da imprensa — já o acusando — da polícia, de um insistente e bonachão agente latino do FBI (interpretado pelo sempre competente John Ortiz) e, claro, pelos responsáveis pelo assassinato em que a pessoa que comanda e ordena as mortes é de uma frieza e eficiência mortal poucas vezes vista em obras desse tipo.
Essa série traz sim uma série de clichês, mas também algumas novidades, como o protagonista negro que tem um rosto conhecido na tv e, para desvendar todo o mistério, tem que se aliar à ex-esposa do supremacista branco e montar um quebra-cabeça que leva a pessoas muito poderosas em lugares chaves da política e indústria americana, o que demonstra o tamanho da confusão que o jornalista se meteu.
O crescimento da trama traz mais estofo e conhecimento do que o protagonista foi, de como precisa ser para sobreviver e, se for bem sucedido, e o que terá pela frente. Para ter algo no mínimo satisfatório, a série de oito episódios criada por Stephen Belber tem seu maior trunfo na escalação de Colman Domingo, um ator de primeira grandeza que se impõe nas cenas, se frusta, fragiliza e tenta se reerguer à medida em que a trama vai se desenrolando e permite à serie um bom estudo de personagem mais do que satisfatório e melhor do que geralmente temos acesso em tramas tão similares.
Realmente há redundâncias na trama, explicações didáticas para situações simples, armadilhas e comportamentos repetitivos que poderiam reduzir os episódios, mas que faz parte do que geralmente ocorre em obras de streaming.
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Se há alguns percalços na odisseia serial e particular do jornalista Muncie Daniels, o final é previsível como em séries recorrentes e de sucesso na tv aberta, pelo menos o ponto de chegada vale a pena pela diversão, a descoberta de um novo talento e mais uma vez, um retrato do estado das coisas onde bilionários se acham no direito de incriminar um homem inocente, fazendo dele um guerreiro pela sua vida e a segurança dos seus.
“Irracional”. Imagem Destacada: Divulgação/Netflix
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