Todos se recordam de um livro que marcou a sua infância. Certo? Às vezes pode ser pela capa, por uma memória afetiva, decorrente de algum acontecimento em que a Literatura adentrou pelos dias felizes da época em que fomos crianças.
Sem dúvida alguma, o famoso “Era uma vez…” contribui de forma fenomenal na formação de um ser pequeno, desperta a criatividade e ajuda na aprendizagem. O próprio ato de folhear faz parte do processo de alfabetização, assim como decifrar as ilustra coes ou mesmo colori las. Além do mais, o ouvido atento do pequeno leitor aos contadores de história é uma preparação para o incrível mundo da leitura.
É bem verdade que a maior parte das histórias infantis possuem cunho moralista, o que na realidade até facilita para os pais e educadores. Mas o público não se restringe as crianças, já que atualmente os que andam necessitando de urgentemente da ética e noção são exatamente os grandes. Quem sabe não fique evidente aos adultos, quando ao relerem ou mesmo no ato da contação de histórias, essa antiga formação? Aliás, a maior parte dos contos para crianças foram inventados por adultos e para adultos. Lembrem, de Esopo, por exemplo, que criava fábulas como “A raposa e as uvas” para ajudar os advogados na argumentação de defesa na antiga Grécia. Isto se ele não fora um deles também. Somente aos poucos, quando a criança começava a ser vista como tal, é que as linguagens foram realmente se modificando.
A tradição da oralidade também não pode ser descartada desse mundo, já que a narrativa infantil deve ser movimentada para prender a atenção dos pequenos com maior facilidade. Como a Literatura africana já possui essa tradição, aqui vai a dica de um livro que ajudará aos pais, as mães e aos interessados e afins, na transmissão do conhecimento para todas essas pessoinhas ainda em formação de caráter
“Contos das Crianças do Amanhã. Fábulas Tradicionais de Moçambique” é um livro escrito e ilustrado por esses pequenos seres moçambicanos de Pemba, na província de Cabo Delgado, ilustrado pelos próprios, e publicado e difundido através de uma associação espanhola, a AHUIM e coordenado por uma professora que já vive em Moçambique há alguns anos. Imperdível!
Aqui no Brasil temos a grande Ruth Rocha, que formou muitos leitores nas décadas passadas e seus livros ainda encontram se entre os mais requisitados nos catálogos escolares. Uma ótima sugestão é o livro “O papel roxo da maca”.
Os clássicos de Monteiro Lobato também são uma boa pedida, a personagem Dona Benta, arquétipo da avó para outras gerações, hoje talvez seja somente um instrumento para trabalharmos a reflexão da fala e dos pensamentos.
Os escritores conhecidos mundialmente, Perrault e Lewis Carrol não podem deixar de serem citados, já que são autores de obras que hoje, como domínio público ainda são revisitados mediante as linguagens teatrais e cinematográficas. “Alice no país das maravilhas”, “Alice através do espelho”, “O Gato de Botas” e “Cinderela” são preciosidades que o tempo não deixa enganar, por isso são merecidamente considerados clássicos.
Para os leitores infanto juvenis, Clarice Lispector e Cecilia Meirelles são a melhor introdução com seus contos feitos especialmente para eles.
“Dom Quixote não é somente o tipo do maníaco, do
louco. É o tipo do sonhador, do homem que vê as coisas
erradas, ou que não existem. É também o tipo do
homem generoso, leal, honesto, que quer o bem da
humanidade, que vinga os fracos e inocentes — e acaba
sempre levando na cabeça, porque a humanidade, que
é ruim inteirada, não compreende certas
generosidades.
Pois é isso. De tanto ler aqueles livros de cavalaria, o
pobre fidalgo da Mancha ficou com o miolo mole;
entendeu de virar também cavaleiro andante e sair
com a velha armadura herdada de seus avós, mais a
lança e o escudo, a correr mundo atrás de aventuras,
isto é, atrás de outros cavaleiros andantes com quem se
bater, e de maus a quem castigar. No delírio do seu
sonho imaginava até a conquista de um grande reino lá
pelo Oriente.”
Monteiro Lobato (Don Quixote das crianças)
Por Susana Savedra