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Literatura

Resenha: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector

O ano termina e não podemos deixar de lembrar de uma leitura encantadora que completou, juntamente com o falecimento de sua escritora, seus quarenta anos de publicação. A Hora da Estrela” é um romance da terceira fase do Modernismo brasileiro, escrito pela tão aclamada escritora, Clarice Lispector, sendo este, o seu último romance, publicado em 1977.

Clarice Lispector - A Hora da Estrela
Imagem: Divulgação/Editora Rocco

Um grande clássico, obrigatório para quem vai prestar vestibular, e recomendado em grande parte das universidades, não deixa de ser atual por seu conteúdo que trata sobre o grande conflito humano em busca do seu eu.

O livro conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina, mais especificamente alagoana, órfã de pai e mãe, que teve uma rígida criação por sua tia beata, e que após a perda desta, vai para o Rio de Janeiro viver em uma pensão com mais outras quatro mulheres.

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Apesar de sua pouca instrução, trabalha como datilógrafa ao lado de Glória e seu patrão, que só não a despede por dó, e é neste cenário que se desenrola a narrativa da pacata, rotineira e entediante vida da moça, sem luz e brilho, vivendo apagada em meio à grande cidade, com sua aparência e aspecto quase invisível e desnecessário em meio a multidão.

O mais interessante nesta narrativa é que, o personagem principal apresentado não é somente Macabéa, mas também o seu narrador, escritor da história (fictício) Rodrigo S.M., que ao longo do enredo vai mostrando ao leitor, quase que em uma conversa íntima, seus sentimentos, aflições e ansiedades em relação ao seu eu, sua forma de escrever e a sua intimidade, transformando-se bem próximo à alagoana, e sua criação torna-se um reflexo, espelho de seu íntimo.

E é no meio desta trama que percebemos que há um conflito entre a jovem e o escritor, seu criador, que se enxerga nesta busca e descoberta de seu eu/identidade, e desta forma, percebemos que ele tenta dar uma justificativa para sua necessidade de escrever sobre Macabéa, quase como uma obrigação sua parte.

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Imagem: Reprodução/Manuscrito original do livro

Clarice Lispector em suas poucas, mas incríveis páginas, faz uma análise psicológica, sociológica e principalmente filosófica sobre a arte de viver, mesmo em sua simplicidade e rotina, mesmo que não haja novidade, e tudo isto com uma linguagem poética e agradável, toda metafórica, que prende o leitor de tal forma que torna possível a conclusão da leitura em poucas horas, deixando um misto de tristeza e saudades ao chegar ao final em quem desfruta de sua obra.

Com características marcantes da terceira fase do Modernismo, a autora consegue traçar um perfil psicológico muito profundo de seus personagens, e isto não só dos principais, mas inclusive dos secundários, como o estranho namorado da moça, Olímpico, sua “amiga” e companheira de trabalho, Glória, e até mesmo da cartomante, que aparece por pouco tempo, já quase no final da história, mas o suficiente para conhecermos também seu íntimo.

Se analisarmos bem as características da protagonista da história e seu escritor/criador, que é o seu reflexo, perceberemos que há em cada um de nós um pouco (ou muito) desta figura, que vive acomodada com o seu eu desconhecido, sem ambições futuras e arrastando-se em seu presente, afundada em uma vida vazia, mas aparentemente suficiente; a diferença é que, quando nos damos conta disto, tentamos disfarçar com falsas alegrias para não vermos em nós o rosto pálido e sem vida de Macabéa.

E é por este motivo que esta leitura, apesar de ser dos anos 70, é tão apreciada ainda depois de quarenta anos de sua publicação, pois retrata com detalhes de mais pura poesia o grande vazio existencial que tem assolado tantas pessoas das quais ainda não encontraram seu verdadeiro ser, não descobriram a estrela protagonista de suas próprias vidas que são.

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Uma história que teve uma bela adaptação para o cinema em 1985, sob direção de Suzana Amaral, mas que só é possível mesmo desfrutá-la em toda a sua inteireza com a leitura de suas 87 páginas, para quem ainda não a conhecia, vale a pena dedicar-se à sua narrativa, e para quem já a conhece, é merecida a releitura!

Sinopse
Prós
Contras
10
Nota
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Written By

Ela é jornalista, mãe, esposa e muito feliz, ama ler, escrever e aprender cada vez mais, além de ser apaixonada pela Língua Portuguesa. Já fez e faz de tudo um pouco nesta vida, por isso mesmo, ela diz: "tamuaí" pra tudo!

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