Você conhece todos os países que falam a Língua Portuguesa? Pois bem, vamos explanar aqui, talvez, os que tenham passado despercebido no seu mundo do conhecimento ou talvez você mesmo não tenha ouvido falar. O grupo de palavras (ou para os puristas, acrônimo), PALOP é designado para denominar as nações africanas que têm no português a sua língua materna. São eles: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde e a Guiné-Equatorial. E fazem parte da CPLP, que abrangem os demais que também falam a mesma língua que nós, os brasileiros, como Portugal e Timor-Leste.
Por muito tempo, a Literatura Africana foi negada e pouquíssimo divulgada, porém, o Pan-africanismo, que ganhou força no início do século XX, reforçou os laços da africanidade dentro de um contexto mais internacionalizado. Daí nasceu também o conceito da negritude, onde todos os povos de ascendência negra estreitaram laços em busca de um ponto em comum. Esses movimentos foram extremamente importantes na divulgação da arte literária africana juntamente com as lutas anti-coloniais que aconteceriam anos depois em várias colônias europeias na África.
Foi em Angola que a primeira produção escrita, com jornais sendo lançados ainda no período da colonização, aconteceu. A verdade é que as sociedades africanas possuem um enraizamento na tradição oral, onde o embasamento histórico e a religiosidade eram transmitidos através da fala. À substituição dos contos falados pela palavra escrita, enquanto método discursivo foi ganhando forma até o século XX, mas ficou. Não obstante as histórias escritas, a marca do cantar e da oralidade em si foi absorvida como característica tradicional. Ainda hoje, na contemporaneidade ou no período pós-digital como alguns preferem chamar, pode-se encontrar traços dessa tradição nos contos do moçambicano bastante conhecido e conceituado Mia Couto, ainda em atividade. Ou nos romances da escritora Paulina Chiziane, também na ativa e conterrânea do autor. Seu livro “Balada de Amor ao Vento”, editado em 1990 lhe deu o título de primeira romancista moçambicana. Todavia, a autora não descarta o processo construtivo ao qual está inserida, ou seja: a oralidade; declarando-se mais como uma contadora de histórias que propriamente romancista. Esse caráter que traz na fala uma grande importância, faz com que a palavra dita ganhe um sentido tão importante quanto o da escrita. O que se diz, não necessariamente precisa-se escrever, o que é anunciado possui realmente valor.
São inúmeros os escritores e escritoras que podemos citar, mas o impressionante é que inúmeros deles estiveram presentes em algum tipo de resistência pela independência de seus países. A história literária africana não pode de forma alguma ser separada da luta política. Grandes nomes como o da já citada Paulina, fizeram parte de um destes movimentos. Não podemos esquecer também de Agostinho Neto, poeta e médico angolano, líder do Movimento Popular de Libertação pela Angola, o famoso MPLA, tornando-se o primeiro presidente (1975+1979) de seu país em uma Angola já descolonizada de Portugal, pelo menos politicamente. Nos anos 60, com exceção de São Tomé e Príncipe além de Cabo Verde, todos os outros países se aliaram aos estudantes portugueses contrários ao regime fascista salazarista e todas essas forças contrárias a ditadura de Salazar ajudou muito para derrubá-lo (Revolução dos Cravos).
Um excelente poeta lendário para conhecer chama-se Amílcar Cabral (1924+1973), elogiado e reverenciado por nosso renomado pedagogo Paulo Freire, Amílcar foi guerrilheiro da Guiné-Bissau, quando esta ainda se chamava Guiné portuguesa: “Eu sou tudo e sou nada… Eu sou tudo e sou nada,
Mas busco-me incessantemente, – Não me encontro! Oh farrapos de nuvens, passarões não alados, levai-me convosco! Já não quero esta vida, quero ir nos espaços para onde não sei.”
Outra excelente indicação de uma poeta pós-independência, que é bem verdade não está distante dos tempos coloniais, já que praticamente todos eles conseguiram a liberdade somente nos anos 70, é a angolana Ana Paula Tavares com seu livro de poemas “Dizes-me coisas amargas como os frutos” (2001).
Realmente vale (e muito) a pena conhecer essa riquíssima literatura que está bem próxima da nossa cultura brasileira. Busquem, leiam, conheçam! Se encontrarem mais, voltem e indiquem porque também queremos saber!
Por Susana Savedra
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cultura… isso de cultura é muito estranho, pois a mesma buchada de bode do Ceará existe também em Goa, e por outro lado a língua ioruba tão cantada nos terreiros baianos não encontra paralelo na Nigéria, que seria natural… Enfim, se agarrar ao que temos, com a facilidade da internet, e conhecer essas outras vozes _axé!