Recorde da vida de Maria Schneider precisa se visto pela nova geração de mulheres; veja nossa crítica de “Meu Nome é Maria”
O filme “Meu Nome é Maria” não foi concebido para chocar, tampouco para impressionar narrativamente. A intenção do roteiro, escrito por Laurette Polmanss e Jessica Palud (que também dirige), é simplesmente direcionar as lentes para a personagem Maria Schneider, tal como ocorreu ao longo da conturbada vida da atriz francesa, falecida em 2011. A diferença reside no fato de que a obra cinematográfica busca conceder-lhe voz, em contraste com sua existência, na qual muitos tentaram silenciá-la. Trata-se, portanto, de uma maneira de iluminá-la e apresentá-la à nova geração de mulheres que talvez não a conheçam, especialmente àquelas que não são aficionadas pelo cinema clássico europeu.

Baseado no livro escrito por Vanessa Schneider, prima de Maria, o longa-metragem é uma espécie de montanha-russa emocional da protagonista, que abrange os períodos anterior, durante e posterior às filmagens de “O Último Tango em Paris”, obra que lançou a jovem atriz ao estrelato ao mesmo tempo que devastou sua sanidade e a dilacerou emocionalmente.
Os responsáveis por tal situação? Dois dos mais renomados nomes da história do cinema: Marlon Brando e Bernardo Bertolucci. Ambos, valendo-se de justificativas pseudo artísticas, coagem-na a realizar a conhecida cena em que o personagem de Brando utiliza manteiga para penetrá-la com os dedos. O estupro é capturado com fervor por Bertolucci, que em nenhum momento intervém para interromper o ato, visando obter o máximo de realismo possível de seus intérpretes.
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Na época do lançamento do filme, Maria denuncia o ocorrido em entrevistas promocionais, mas acaba sendo ela, a vítima, a única a ser marginalizada em uma sociedade ainda mais machista do que a atual. Nem Brando nem Bertolucci pedem desculpas; este último chega a ser condenado à prisão na Itália, não pelo crime ocorrido sob sua direção, mas pelo teor pornográfico de sua obra. Uma condenação que também recai sobre Maria.

Assim, “Meu Nome é Maria” comove ao retratar, em tons sombrios, a história de superação de sua protagonista. Palud seleciona fragmentos da vida de Maria para contextualizar o todo e, embora exponha todo o sofrimento da atriz em sua luta contra o vício em heroína e contra uma indústria dominada por homens, evita construir cenas sensacionalistas ou melodramáticas. Nada é exagerado. Esses fragmentos de vida frequentemente culminam em fade-outs, como se um capítulo fosse encerrado e outro surgisse no horizonte.
As imagens que sucedem o escurecimento da tela são close-ups do rosto da personagem, com seus olhos tristes, porém determinados, interpretados pela magnífica Anamaria Vartolomei, que alterna momentos de fúria e sensibilidade para construir sua representação com extrema fidelidade. A atriz franco-romena compreende a relevância de seu papel e o honra ao demonstrar profunda preparação, captando as nuances da personalidade de Schneider e entregando uma atuação convincente, ainda que não seja fisicamente idêntica à atriz original.
“Meu Nome é Maria” narra, portanto, uma história de extrema importância, especialmente em um contexto no qual as mulheres ainda lutam por maior espaço na indústria cinematográfica. É evidente que muitos avanços ocorreram desde a época de Maria Schneider até os dias atuais, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Talvez este filme sirva tanto como um alerta para diretores voyeuristas quanto como uma fonte de inspiração e resiliência para outras mulheres.
“Meu nome é Maria”. Imagem Destacada: Divulgação/Imovision

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