Em 22 de agosto, estreia em todo país o novo filme brasileiro do diretor e roteirista Karim Aïnouz, Motel Destino, filmado em Beberibe, no litoral cearense.
Radicado há anos em Berlim, Karim tem relatado em entrevistas e na pré-estreia, que a Woomagazine acompanhou em São Paulo, que Motel Destino foi a chance de voltar a filmar no país desde de 2018, quando realizou “A Vida Invisível”, por conta do momento turbulento e da falta do apoio à Cultura e ao desmanche dos órgãos de apoio à cinematografia brasileira.
Um filme solar e quente em diversos sentidos: traz a história do jovem Heraldo, vivido pelo carismático estreante Iago Xavier, que ao ter que fugir por conta de uma dívida e um trabalho criminoso que não deu certo, com uma consequência fatal a alguém de sua convivência, tem que se esconder no local-título para sobreviver.
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Eis aqui um exemplar cinematográfico do que se convencionou a chamar de Neo Noir, mas num registro nordestino e muito brasileiro por excelência, que evoca os ritos do protagonista em perigo, e a femme fatale num triângulo amoroso volátil e sensual.
O roteirista e diretor Aïnouz, diferentemente do puritanismo de um filme americano, não nos priva da sensualidade, uma de suas marcas autorais como realizador, com cenas naturais de desejo e volúpia como aconteceria normalmente em uma história com contornos noir.
Com uma fotografia quente, marcadas por cores fortes e berrantes, uma trilha sonora dissonante e marcada por batidas sonoras características de um bate estaca, o filme nos transporta pelos corredores do motel e da vida de Dayana, vivida por Nataly Rocha, esposa de Elias, personagem de Fábio Assunção.
Casal em crise, a adição de Heraldo pelas circunstâncias de sua fuga vai incendiar as relações que envolve, um outro funcionário que pouco fala, mas muito observa nos corredores do motel.
Karim, pincela a situação de jovens vivendo à margem da lei, pelos locais que parecem longe do alcance da lei e enaltece a catarse dos personagens pela sexualidade e pelo desejo.
Algumas dessas cenas são filmadas de forma muito estilizada e, por algumas vezes, esvazia-se o propósito narrativo do filme.
De qualquer forma, há de se enaltecer a composição imprevisível de Nataly Rocha, com sua Dayana, uma mulher muito esperta e que consegue nos convencer de todas as suas motivações, atuação sólida e interessantíssima.
O ator Fábio Assunção tem aquele carisma e senso de perigo eminente, onde nunca se sabe como ele vai tratar a pessoa a sua frente. Pode ser charmoso, asqueroso ou perigoso, numa atuação competente e que se presta a tudo que o filme necessita.
Já Iago Xavier, também é cheio de carisma, mas falta muito alcance dramático e sobra marra em sua estreia no cinema…
Até por ser o personagem que inicia e conduz toda a narrativa, falta mais sensibilidade e nuances que comprovam todo sentimento que está pronto a explodir dentro dele e com os outros personagens ao redor.
Ademais, a metáfora do motel que é muito bem utilizada, em que sons de prazer ao redor são anônimos e na maioria das vezes, serve de escudo para o personagem de Heraldo, que se esconde exatamente onde as pessoas fazem tudo escondido; trouxe frescor à narrativa, pelo trabalho de som que é muito bom, mas não tanto o som direto, pois infelizmente alguns diálogos não estavam inteligíveis.
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Porém, trata-se de mais uma obra necessária de um grande realizador como Karim Aïnouz, que vale a pena ser assistida, pois mostra o Brasil, é sobre o país em que vivemos, as lutas que travamos no dia a dia, que é a de principalmente sobreviver, seja qual personagem interpretamos na vida real.
Imagem Destacada: Divulgação/Pandora Filmes
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