Sucesso absoluto do gênero do terror chega aos cinemas brasileiros no dia 1° de fevereiro
Trabalhar dentro de uma temática já mais do que reciclada dentro do cinema é extremamente perigoso. Clichês já estão muito bem estabelecidos e fugir do óbvio se torna extremamente árduo. Por vezes, surgem produções com total consciência disso, e fazem muito bom uso dessas estruturas, ainda que injetam uma dose de originalidade ao projeto, como acontece no recente “Anatomia de Uma Queda”, que possui total consciência das inúmeras obras jurídicas. “O Mal que Nos Habita” enfrenta o mesmo desafio com os milhares filmes de possessão já lançados, desde “O Exorcista” até “A morte do demônio”, mas será que ele consegue fazer um bom papel?
No filme, dois irmãos de um pequeno vilarejo argentino escutam disparos a noite. Indo atrás da fonte do barulho, eles encontram metade de um corpo, dilacerado. Em seguida, eles descobrem que o homem morto estava encarregado de exorcizar Uriel, o filho mais velho de uma senhora que morava na vizinhança. Desesperados com a situação, os dois irmãos junto do senhor de terras cometem um erro fatal, e espalham o mal por todo o vilarejo.

Seguindo à risca a estrutura de filmes de terror, a narrativa estabelece algumas regras para sobreviver aos ataques dos demônios. Só que aqui, Demián Rugna, diretor e roteirista do filme, se demonstra muito perspicaz ao primeiro demonstrar as regras e depois explica-las de forma direta. Gerando assim um primeiro ato incrível e extremamente desconfortável. A sucessão de eventos e de erros bem intencionados dos protagonistas aumenta a tensão ao extremo, a ponto de quando o caos está instaurado em tela, você só fica estático diante do horror.
Mas nem tudo são flores, a partir do momento em que as regras são verbalmente estabelecidas, as ações seguintes dos personagens, que antes eram resultado de altruísmo mal executado, agora se traduzem somente em burrice. O quê não seria problema se bem dosado, afinal, estão abalados com tantas catástrofes em um único dia, exigir que todas as decisões tomadas sejam boas é delírio…, mas não acertar nada sabendo o que é pra fazer já é demais.

Uma das regras é a ordem na qual o espírito se manifesta, enlouquecendo primeiro os animais, depois os mortos, e então as crianças. Aqui, você já entende que estamos lidando realmente com algo extremamente maligno, que busca atingir os mais frágeis e enlouquecer os outros. E funciona perfeitamente bem, o filme é chocante por fazer algo que os terrores hollywoodianos não conseguem: não ter pena. O sentimento de que “ninguém está a salvo” é aterrador.
Com uma introdução que beira a perfeição, “O Mal que Nos Habita” perde força no seu segundo ato
Ainda que entendendo a intenção, é impossível não comentar quanto ao sub-plot do filme que, somado a repetição assídua das regras e das péssimas ações dos personagens, me tirou completamente da imersão do longa. Um dos irmãos possui um filho autista, e o arco que se desenrola com ele é de extremo mal gosto. Utilizando da neuro divergência do personagem, o filme possui uma sequência totalmente desnecessária, onde todos eles questionam se o rapaz está possuído, ou somente tendo uma crise. Um completo desserviço para o filme.
Mais tarde, no meio do segundo ato do filme, uma nova personagem é introduzida, e ela é extremamente insuportável, e também não serve para nada no filme a não ser criar uma pequena barriga e, advinha, repetir ainda mais quais são as regras a serem seguidas, as mesmas regras que foram mostradas explicitamente no primeiro ato. “O Mal Que Nos Habita” parece questionar a inteligência do seu público a todo momento.
A narrativa perdendo a força ao longo da sua duração, mas o que é extremamente consistente é a sua fotografia. Criando imagens de forte impacto, e utilizando de muitos poucos jumpscares, o filme consegue te deixar aterrorizado até o último segundo, e a sensação de assolamento após a sessão é absurda. Mas de antemão, comparando a outros filmes de terror recentes, “Speak No Evil” consegue ser bem melhor nesse quesito, e te deixa ainda mais impactado.
Em resumo, “O Mal Que Nos Habita” é ótimo dentro do gênero de terror, fugindo do convencional enquanto utiliza de uma temática já batida, mas possui erros grotescos que poderiam ser facilmente evitados, vetando o ótimo potencial do projeto.

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