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Literatura

O mulato: as origens do preconceito racial

A obra de Aluísio de Azevedo exemplifica o preconceito estrutural no século XIX no Brasil e suas consequências.

Imagem/Fotografia: Jandiara Paiva.

Atualmente muito se discute o preconceito racial, mas poucos sabem as suas origens e que teorias racistas eram ensinadas nas escolas e difundidas pelas artes. Um exemplo claro são as obras naturalistas que afirmavam que o ser humano agia pelas leis naturais como hereditariedade e o meio em que nasceu em oposição ao livre arbítrio tão prezado nos dias de hoje. Uma referência sobre o racismo estrutural e suas consequências no século XIX é a obra “O mulato“.

O mulato foi escrito pelo Maranhense Aluísio de Azevedo em 1881, obra que motivou a ida de Azevedo para o Rio de Janeiro e o tornou um autor aclamado.O romance, ambientado no Maranhão, retrata a paixão de Ana Rosa por Raimundo, protagonista da história. Raimundo retornou de Portugal formado por uma excelente universidade. O rapaz era fruto de um romance entre uma escrava e o seu senhor, mas desconhecia o fato e não compreendia o tratamento que lhe era ofertado na alta sociedade de São Luís.

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Ana Rosa era filha de Manuel Pescada criada por ele e a avó. A jovem, Ana Rosa, vivia em um sobrado no Maranhão com vista para um rio e com três pitangueiras no quintal. O local é descrito pelo autor como um ambiente pitoresco.

A mãe deu a Ana Rosa lhe deu um conselho: só se casar se estiver apaixonada. Fato que parte de sua experiência de se apaixonar aos quinze anos por um homem com o qual gostaria de viver toda a sua vida, no entanto, devido aos ideais políticos do rapaz a família não apoia o relacionamento. O narrador ao descrever o fato revela uma das teorias difundidas pelos deterministas sobre a inferioridade feminina frente ao homem. “Quem diria que aquela pobre moça, nascida e criada nos sertões do Norte, sentiria, como qualquer filha das grandes capitais, a mágica influência que os homens superiores exercem sobre o espírito feminino? Amou-o, sem saber por quê.”

A incessante busca de Ana Rosa pelo amor se encerra com a chegada de Raimundo um rapaz de vinte e seis anos que seria um brasileiro sem grandes atributos se não tivesse grandes olhos azuis, afirma o narrador. Raimundo era mulato sobrinho de Pescada, pai de Ana Rosa,fruto de uma união com a escrava Domingas.

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O primo de Ana Rosa era culto e foi educado em Portugal. Ele foi para a Europa após a morte de seu pai, morou durante um tempo como os tios (a mãe e o pai de Ana Rosa). Embora fosse culto, refinado e possuísse a herança de seu pai, o rapaz não era aceito pela sociedade do Maranhão por ser um mulato. Naquela época acreditava-se que o negro e os mestiços fossem inferiores.

O fim do mulato foi ser assassinado por recomendação do padre a seu rival, um empregado do pai, afinal Raimundo cometera, segundo a visão da época, a audácia de ser um homem de origem negra a enamorar-se e engravidar uma branca cujos filhos carregariam o desgosto de serem mal vistos como mulatos. Observa-se na presente narrativa a visão de tamanha violência praticada aos afrodescendentes.

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Jandiara Paiva é professora, escritora e estudante de jornalismo.Escreveu livros sobre educação antirracista,antibullying e poesia. Apresentadora do Programa culturas e colaboradora da revista woo.

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