Será que a história que conquistou as redes sociais justifica seu hype?
Com o advento das redes sociais, a capacidade de um indivíduo influenciar pessoas vem crescendo cada vez mais, principalmente quando se trata de comportamento e produtos. A palavra “influência”, geralmente é associada a uma conotação pejorativa, como se estivesse se referindo a “efeito manada” ou ainda a “Maria vai com as outras”, mas isso não é necessariamente verdade.
Nesse ponto é preciso reconhecer que nem toda influência é ruim. De fato existem muitas pessoas que compartilham suas experiências e/ou conhecimentos a fim de beneficiar o máximo de pessoas e com a melhor qualidade possível, e isso justifica sua popularidade.
Dentro do nicho literário de influência, há muitos livros “queridinhos” do público e dos criadores de conteúdo, como os livros da Colleen Hoover, “Amor, branco e sangue azul”, “Cleópatra e Frankenstein”, “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, entre muito outros. Existem livros realmente bons nessa lista quase infinita de recomendações, mas também temos “Pessoas normais”, de Sally Rooney.
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A autora irlandesa publicou “Pessoas normais” e, desde seu lançamento, o livro foi muito abraçado pelo público e pela crítica, chegando inclusive a ganhar dois prêmios entre 2018 e 2019, e virar série da BBC em 2020. No Brasil, foi publicado em 2019 pela editora Companhia das Letras e o sucesso foi similar.
O livro gira em torno do relacionamento de Marianne e Connell, dois adolescentes que estudam na mesma escola, onde performam papéis completamente diferentes dentro daquele microverso. Marianne é uma garota rica e excêntrica, vista como “a esquisita” por seus colegas de escola; já Connell é um garoto bonito, atlético e popular, mesmo não tendo muito poder aquisitivo. Apesar dessas personas pré-definidas, ambos conseguem se livrar delas durante a faculdade, quando mudam de cidade e, felizmente ou infelizmente, os papéis se invertem: Marianne passa a ser a figura popular e Connell, insignificante. Juntos, eles tentam descobrir como ser e existir no mundo, desencadeando os traumas e inseguranças duramente reprimidos pelos dois.
Esse pequeno resumo sugere uma história interessante de superação que provavelmente gerará identificação com o leitor, e isso está correto. Existem milhares de pessoas parecidas com esses personagens, com os mesmos problemas, traumas e incertezas, e por isso o título do livro se justifica: são pessoas normais como quaisquer outras (mas se identificar com os protagonistas da trama pode ser potencialmente perigoso).
A realidade é que Marianne é a típica “garota problemática que só quer ser livre e aceita” e o Connell é o típico “homem hétero que tem o emocional de uma batata”. Mesmo ambos sendo genéricos, é preciso dar créditos a Connell, que possui um nível de profundidade um pouco mais interessante do que Marianne: é um jovem adulto com dificuldade de se encaixar, com muitos arrependimentos e palavras entaladas na garganta, é extremamente covarde e a única pessoa com quem manter uma relação decente é a sua mãe.
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A personagem feminina, infelizmente, tem toda sua subjetividade resumida a problemas familiares que constantemente tentam justificar todas as suas péssimas escolhas. Marianne passa o livro todo se odiando, essa é a maior parte da sua personalidade, e mesmo que esse seja um dos claros indícios de que ela passa por um quadro de depressão, o que, na teoria, explicaria as suas ações, essa “carta” seria simplória demais para compor a personalidade inteira da personagem.
Marianne apenas se envolve com pessoas que a desvalorizam, chegando a “descobrir” um fetiche sexual por… situações degradantes, inclusive com Connell, que apenas demonstra consideração por ela quando convém. Em nenhum momento do livro a “mocinha” acerta, em nenhum momento ela evolui, o que é no mínimo frustrante, principalmente porque presenciamos o processo inverso com nosso “galã”.
Connell entra na terapia para superar seus traumas, se relaciona com pessoas decentes e consegue fazer amigos; Marianne, por outro lado, continua a mesma pessoa do Ensino Médio, mas agora mais bonita e popular: segue cultivando amigos falsos, depois se encontra solitária, não traça qualquer desfecho na sua relação familiar e permanece disponível para Connell mesmo ele tendo cometido péssimos atos sendo seu “ficante” e namorado.
Há quem diga que essa é uma história de falta de comunicação, e de certa forma é mesmo, mas essa é apenas uma pequena parte da relação dos dois, pois ambos são inteiramente quebrados, e ainda pior: rasos. “Pessoas normais” é uma aula de como não se relacionar com as pessoas e consigo mesmo, mas isso não é criticado em nenhum momento da narrativa, o que sugere uma normalização de comportamentos destrutivos, visto que muitos também não são superados ao longo do livro.
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Mais ainda do que acontecimentos, essa história é feita de personagens, e não se afeiçoar a eles é um obstáculo considerável na leitura, pois não ter empatia para relevar tantas situações descabidas ou, no mínimo, duvidosas fica mais difícil.
“Pessoas normais” pode ser um hype mundial por abordar relações românticas conturbadas (que estão muito na moda hoje em dia), mas não é necessariamente bom. O fato dos personagens serem quase intragáveis é o ponto mais baixo da leitura, já que a fluidez da escrita de Sally Rooney é de fato boa. Numa escala de 1-5, esse livro fica com 2,5 pelo esforço.
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