A luta de um artista para o espaço de outros
A cada dia que passa mais cineastas surgem no mundo! Faculdades, escolas técnicas e, até mesmo, auto-ditadas que sonham com o mundo mágico do cinema, entram de cabeça, criando as mais diferentes histórias para serem contadas a partir de um ponto de vista bem peculiar.
Para dar ênfase a essa carreira, são elaborados em diversas cidades, espalhadas por todos os continentes, festivais de cinema com o propósito de reconhecer e premiar jovens e experientes profissionais do ramo, que pretendem levar ao conhecimento do público o seu filme.
Para falar um pouco sobre esse assunto, a PULP! dessa semana conversou com o diretor geral de um dos festivais de curta-metragem mais importantes do Brasil. Ailton Franco Jr., é o responsável, juntamente com sua equipe, por dar vida ao CURTA CINEMA – Festival Internacional de curtas do Rio de Janeiro, que existe há mais de 20 anos.
Ailton, que é formado em Economia e Cinema, trabalha como produtor cultural desde 1992 e já se envolveu em produções de longas, curtas, documentário, televisão, eventos nacionais e internacionais. Além do CURTA CINEMA, também é co-produtor do RIOFAN – Festival Fantástico do Rio.
PULP! por DANIEL GRAVELLI – Muita gente acha que trabalhar com cinema é fácil. Contudo exige grande responsabilidade e, muitas vezes, uma infinidade de outras pessoas envolvidas no mesmo projeto. Várias que começam, acabam largando em pouco tempo. Em relação a você, como surgiu esse seu interesse em trabalhar com produção? Como foi a transição de economista para produtor?
AILTON FRANCO JR. – Este interesse surgiu naturalmente, e também depois de experimentar algumas outras funções em uma equipe. Quando estudei economia tinha outros objetivos profissionais. Almejava a diplomacia, mas razões particulares me levaram a buscar outro desejo profissional. Eu gostava de ir ao cinema quase todos os dias. Então pensei, por que não tentar estudar cinema?! Durante o curso de Cinema, que na época era vinculado diretamente ao curso de comunicação, tive várias oportunidades de trabalhar em equipes dos filmes da escola, em funções diferentes, além das disciplinas técnicas. Vi que naturalmente era mais apto para a produção, e gosto de fazer isso. Com o festival, tenho a oportunidade de conhecer outras culturas e países, porque sou convidado para festivais internacionais. No final, consegui trabalhar com produção e “diplomacia”. O mais importante é fazer aquilo que te realiza. É difícil, mas temos que perseguir nossos objetivos.
P! – Desde de 1992 você trabalha na área. Durante esse tempo você vivenciou algumas fases importantes do nosso cinema. Na sua opinião: Qual foi a mais fácil e a mais difícil para a arte?
AFJ – Nestes 25 anos do Festival Curta Cinema já passamos por várias fases, pois tudo são ciclos normais, ou imprevisíveis. Os momentos mais difíceis foram o início, que foi o final do governo Collor e início de uma normalização democrática do país quando as políticas culturais que tinham sido extintas e se começava uma nova fase. E agora estes últimos 4 anos, que também têm sido bem difíceis, com a redução dos aportes de patrocínio. Os melhores momentos foram após 2003 até 2008.
P! – Como surgiu o CURTA CINEMA na sua vida? E como você o conseguiu manter ativo até hoje?
AIJ – O festival surgiu da necessidade de mostrar ao público carioca uma premiada produção no formato, que estava tendo um reconhecimento nacional e internacional, mas que tinha sido banido das telas dos cinemas. Conseguimos manter nossa ação em prol da difusão do formato curta metragem pela ação dos patrocinadores e apoiadores, e principalmente do público.
P! – Eu também sou produtor e, ultimamente, estou vendo uma diminuição na quantidade de festivais. Alguns, principalmente de curta-metragem, estão deixando de existir. Quais motivos você acha que podem estar relacionados a esse acontecimento?
AFJ – A falta de uma política mais perene e o reconhecimento da importância do formato na renovação da linguagem audiovisual e o surgimento de novos profissionais. O curta metragem não deve ser encarado apenas com um “trampolim” para o longa, mas um formato em si de exercício do audiovisual. E a importância dos festivais é essencial na sua difusão. Festivais não devem ser considerados “eventos”, mas sim ações continuadas de formação cultural.
P! – Na minha opinião, os festivais de cinema, em grande parte os de curta, são essenciais para a formação e crescimento de todos os profissionais envolvidos no projeto. É uma forma de avaliação justa e, praticamente, direta sobre o produto final. O próprio processo de seleção já é uma prévia definição de que algo está certo ou errado. Para que os leitores, principalmente cineastas, saibam: dentro do CURTA CINEMA, quais são os fatores considerados mais importantes na hora de selecionar um filme?
AFJ – Os fatores que determinam uma seleção não seguem um padrão, um método. Selecionamos filmes que mostram a diversidade, a inovação, novas histórias, novos olhares. Com isso, procuramos mostrar um variado e diversificado panorama nacional e internacional no formato.
P! – Um dos pontos que acho mais interessantes no Festival Internacional de curtas do Rio é que vocês aceitam um projeto com até 30 minutos de duração. Fato esse, não mais liberado por muitos outros festivais no Brasil e no mundo. O que atrapalha bastante pois, às vezes, o curta produzido passa desse limite de 15’ e, com isso, acaba perdendo a oportunidade de disputar o festival. Você concorda com essa atitude?
AFJ – O curta metragem não deve se resumir a uma duração. Antes de mais nada, o filme deve apresentar uma história, dentro da duração que tiver. Por isso, aceitamos curtas com até 30 min. Mas cada festival tem seu critério, que deve ser respeitado, pois têm regulamentos próprios.
P! – Fale um pouco mais sobre RIOFAN. Quando acontece e qual é o quesito principal para participar desse festival?
AFJ – O RIOFAN foi um festival que realizamos durante 3 edições. Mas não o realizamos mais, e por isso não tenho nada a declarar. Mas acreditamos na sua importância.
P! – Há um tempo atrás, li duas entrevistas: uma com um diretor de cinema americano (não me recordo agora o seu nome) e outra com o professor de cinema Dov Siemens, e ambos diziam que fazer curta-metragem é uma grande perda de tempo. Pelo simples fato do curta não ser financeiramente rentável, vale mais a pena gastar energia criando um longa com baixo orçamento. Como você vê a função do curta-metragem atualmente e quais são os benefícios e prejuízos que esse pode trazer?
ADJ – Bem, não concordo com a declaração deste professor! Se pensarmos que o cinema começou no formato curta, porque afirmar que não tem importância. E também não concordo que melhor é fazer longa de baixo orçamento que, normalmente, é muito maior que de muitos curtas. Então seria melhor gastar muito por nada, ou gastar pouco por muito. E se ter retorno comercial é o mais importante, porque fazer um longa que será um grande fracasso?! E além disso tudo, com a produção de curtas aprendemos muito, principalmente como utilizar orçamento e recursos incentivados, dentro da lei. A comprovação disso tudo é que, como produtor, já realizei alguns curtas que me dão retorno financeiro até hoje, e me ajudam muito na minha carreira de produtor de longas e curtas.
P! – A internet é um espaço que vem tomando conta do mercado. Muitos filmes estão sendo produzidos com a ajuda de plataformas de incentivo e lançados através de serviços de streaming como o Youtube. Você enxerga o mundo virtual como o futuro das produções?
AFJ – Sim, é mais uma “tela” para a produção e difusão do cinema de curta metragem. Mas podemos e devemos agregar todas as telas. O próprio logotipo do Festival Curta Cinema traduz as várias telas para o formato curta.
P! – Qual é o próximo projeto que você estará envolvido?
AFJ – São vários projetos, tanto de eventos, festivais, como de longas. Temos que continuar a acreditar no que realizamos e sua importância para todos.
P! – Qual o conselho você deixaria para os jovens cineastas que desejam ter seus filmes selecionados pelos festivais de cinema no mundo?
AFJ – Que façam o filme que querem realizar e mostrar ao público. A participação destes em festivais será uma consequência natural para quem realiza com profissionalismo e ética.
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