A atriz Fernanda Torres chega ao mercado com seu terceiro livro: “A glória e seu cortejo de horrores”. Esse título tem uma grande curiosidade: é uma frase dita muitas vezes por sua mãe, Fernanda Montenegro. Em uma entrevista a atriz disse:
“Essa frase resume a danação e a maravilha que se conhece na profissão de ator, de escritor, nas artes”.
A atriz, que tem mais de 35 anos de carreira, revela que ainda não consegue se chamar de escritora e não sabe se algum dia vai conseguir. E talvez, nem queira para não perder a liberdade de escrever quando quiser.
Nesse romance, o leitor pode acompanhar as desventuras de Mário Cardoso, um ator de meia idade, a partir dos dias de sucesso como astro de telenovela. A narrativa é uma mescla de comédia de erros e retrato do artista. O livro atravessa diversas fases da carreira de Mário, suas lembranças de juventude no teatro político, a incursão pelo Cinema Novo dos anos 1960, a efervescência hippie do Verão do Desbunde, o encontro com o teatro de Tchékhov, a glória como um dos atores mais famosos de uma época em que a televisão dava as cartas no país.
Logo no início, o personagem conta sobre o fiasco de uma estreia. Como um painel corrosivo, nos é apresentada a derrocada de Mário Cardoso. Ele fala sobre a crítica que um jornalista fez de atores consumidos pela vontade de serem maiores do que de fato são. E o que deveria ser uma super produção de Rei Lear e que ele achava que lhe renderia prêmios, foi na verdade um grande fracasso.
Como a escrita de um diário, Mário Cardoso conta como vai do luxo ao lixo, desde o auge da fama como galã de telenovela, até chegar ao fracasso no teatro. Além disso, é um verdadeiro retrato de grandes nomes da nossa dramaturgia.
“Fui feliz quando comecei, aos vinte, e depois também aos trinta, quando larguei o teatro e emendei em um sucesso atrás do outro na TV”
Ao longo das 211 páginas, o leitor faz um passeio pela história do teatro no Brasil. Começando com a influência exercida pela política, passando pelos períodos de chegada de outras formas de entretenimento, como o Cinema Novo, e isso tudo sem se esquecer da fase bem louca de uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado.
O livro trata ainda de uma grande discussão no meio artístico: A arte sendo vista como mercadoria. No Brasil, um país onde se produz muita cultura, existe uma economia criativa no qual a música e a literatura são refinadas e potentes. Além disso, as pessoas consomem muita novela e, nesse sentido, a arte como mercado é algo a ser explorado, pois gera empregos e movimenta a economia. Por outro lado, a arte também é uma ferramenta para a diminuição da desigualdade social, que é um grande problema do país. A arte educa e possibilita a integração social.
Fernanda, que é expert em interpretar a vida como ela é, deposita isso na forma como escreve. Com sarcasmo e ironia, alegrias e tristezas, frustrações e euforia. Com glória e muitos, muitos horrores. Ela vai direto ao ponto e com poucas palavras, sempre intercalando passado e presente, nos apresenta um personagem masculino muitas vezes meio malandro e que até nos faz esquecer que é uma mulher que escreve.
Mário Cardoso poderia ser qualquer um de vários atores da vida real que vemos na TV. Mas o restante da história, vamos deixar que você acompanhe pelo livro para não darmos nenhum spoiler.
“Na fama, eu vivi o auge da minha arrogância. Comi muita gente, gastei mais do que devia, humilhei subalternos. Agora, não mais. O contrato me transformou num ator preguiçoso. Com o passar dos anos, cansei da rotina das gravações e aceitei papéis periféricos”.
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