“Há silêncios que parecem chumbo. ”
O já conhecido e aclamado detetive Remo Bellini está de volta. E nesse novo mistério, além de lidar com os clientes esquisitões e cheios de pompas, o detetive tem que defrontar a si mesmo em questões que mais ninguém pode entender. “Bellini e o Demônio” é a nossa resenha de hoje. Tupiniquim até não acabar mais!
Já mencionamos nessa coluna, mais de uma vez por sinal, que quando se trata de consumir literatura feita no Brasil, parece que não obtemos muito sucesso. Compramos e usamos com louvor a síndrome do primo pobre, e com isso, o que é feito aqui dentro é quase sempre descartável. O que é uma lástima, visto que temos nomes realmente bons dentro do nosso mercado literário.
Tony Belloto mostra que não é só de música que se faz um titã. E depois de simplesmente fazer com que todos conhecessem o detetive Remo Bellini em “Bellini e a Esfinge”, ele volta com essa dobradinha do investigador que, agora, está na crise da meia idade, e ainda tem de resolver casos que vão muito além da sua alçada.
Nesse novo mistério, BellinI começa uma investigação criteriosa atrás de um manuscrito de um livro raríssimo. Essa investigação o leva ao Rio de Janeiro junto a outro detetive americano. Afinal, achar a obra não era só uma questão de princípios. Havia muito dinheiro envolvido também. No Rio, nosso investigador se coloca em situações bem constrangedoras. Mas o que podemos perceber é que ele está na sua melhor forma e que muita coisa ainda está para acontecer.
A primeira parte de “Bellini e o Demônio” é um pouco arrastada. Afinal, pelo seu título, esperamos crimes realmente estarrecedores. Mas quando nos deparamos com a busca por um manuscrito raro, de um escritor supostamente polêmico, damos uma certa desanimada, já que criamos expectativas em cima do que na verdade está só na nossa cabeça.
No entanto, para quem consegue ir além e chegar na segunda parte, percebe que essa de “procurar um livro raro” serve de plano de fundo para um mistério muito maior. O que, definitivamente, faz com que Tony Bellotto mostre aos descrentes que dizem “que no Brasil só se faz porcaria”, que não é bem assim que a banda toca.
Logo nas primeiras páginas somos apresentados a um crime, aparentemente, passional, estampados nas principais manchetes policiais de São Paulo. Tal crime deixa Bellini um tanto desconfortável, e como um mantra bem mórbido, ele fica passando e repassando mentalmente aquela notícia. Mas aí, como bom escritor de mistérios, Bellotto manda o detetive para o Rio de Janeiro e nós, leitores distraídos esquecemos o que aconteceu no começo.
E são nessas movimentações propositais à memória do leitor, que vamos nos envolvendo mais e mais dentro da obra. E assim, quando retorna a São Paulo, Bellini é procurado por Gala. Uma repórter que quer fazer o seu nome a qualquer custo. E adivinhem qual é o crime que ela quer que o detetive investigue? Pois é… assim começa uma nova e inebriante caçada à verdade.
Viver uma vida dupla não é fácil. Viver das artes, muito menos. Mas mesmo com tantas intempéries, o guitarrista da banda Titãs resolveu encarar mais esse desafio e colocou sua veia artística para voos muito maiores. Apaixonado por gêneros policiais, Tony Bellotto disse a que veio. E Remo Bellini – ele odeia ser chamado de Remo – não só conquistou leitores, como também expectadores, visto que “Bellini e a Esfinge” e “Bellini e o Demônio” foram parar nas telinhas de cinema.
No entanto, atenção (!), para àqueles que preferem ver o filme ao ler o livro, fica um adendo. “Bellini e o Demônio” nos cinemas foi completamente modificado. Ou seja, se você quer saber o que aconteceu no livro, leia o livro (!!!),ou então pode se decepcionar um pouquinho. E nós aqui não gostamos de dizer “nós avisamos”.
Do mais, é uma obra com apenas 264 páginas, o que faz com que seja de leitura rápida e aprazível. Um prato cheio para quem gosta do gênero. E a editora é a Companhia das Letras. Então, para você que estava aí pensando na sua próxima leitura, que tal dar chance a uma vinda da Terra Brasilis?
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