“Rota 66, A História da Polícia que Mata” é obra do jornalista Cláudio Barcellos de Barcellos, ou Caco Barcellos, como também é conhecido. O livro tem cerca de 352 páginas e é fruto de uma investigação que durou cinco anos sobre o esquadrão da morte que age na cidade de São Paulo, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
O jornalista reúne uma série de informações quanto ao sistema de extermínio da Rota e seus métodos de atuação, além de demonstrar como a própria sociedade incentiva esse tipo de ação.
Caco Barcellos desde muito jovem trabalhou com pautas de denúncias e ao longo dos anos se especializou em jornalismo investigativo, investigações, documentários e grandes reportagens sobre injustiça social e violência. Por isso, é natural que desse interesse surgisse “Rota 66”.
O livro é uma espécie de pesquisa compilada com dados e estatísticas reunidos ao longo de cinco anos e que nos são apresentados ao longo da narrativa. Para quem gosta de jornalismo investigativo, vai com certeza amar “Rota 66”. Como ponto de partida, Barcellos reuniu diversas matérias sobre tiroteios, rondas policiais e entrevistas feitas em necrotérios ou em áreas onde a polícia mais costumava frequentar.
Composto por três partes, no primeiro capítulo, o jornalista relata a perseguição a um fusca azul em um bairro nobre de São Paulo. Policiais da Rota fuzilam três jovens estudantes, sem antecedentes criminais e de classe média alta, pois os confundiram com ladrões que haviam roubado o carro. Ao fim da perseguição um dos policiais apenas diz: “(…) grasnavam como patos, voavam como patos, fomos ver eram perus”.
No entanto, ao longo dos anos em que Barcellos apurou, esse foi o único caso em que jovens da classe alta foram mortos. A maioria das vítimas eram rapazes pobres, pardos e da população de baixa renda.
A Rota, teoricamente, havia sido criada para combater guerrilheiros, porém com o passar dos anos, os guerrilheiros deixaram de existir e a Rota permaneceu operante. Daí você pensa, é realmente necessário uma força armada criada para combater guerrilheiros andando pelas ruas da cidade? Desse questionamento e de outros pontos que chamavam a atenção de Barcellos é que ele decide relatar em detalhes a violência e os crimes policiais na cidade de São Paulo, citando nomes e desmascarando os policiais corruptos.
A Rota é composta por um exército de matadores, que espancavam e matavam os suspeitos em supostos tiroteios, sendo que, na maioria das vezes as vítimas estavam desarmadas e sem nenhuma possibilidade de defesa. Após executarem as vítimas, ao invés de levarem os corpos para o (IML) Instituto Médico Legal, os corpos eram levados para o hospital, assim os PMs fingiam prestar socorro aos cadáveres. O local do crime era alterado para dificultar o trabalho da perícia.
Como o próprio autor é jornalista, ninguém melhor para explicar um pouco como funciona uma redação. Muitas pessoas pensam que o repórter ESCOLHESSE não divulgar determinada matéria ou pauta, quando na verdade, o buraco é muito mais embaixo. Em “Rota 66” é apresentado o outro lado da moeda da realidade que muitas vezes os profissionais da área não conseguem publicar nos jornais. Barcellos comprova com dados o que todo mundo já está careca de saber, mas não custa nada lembrar: não confiar em tudo aquilo que a grande mídia diz. Nem tudo é o que parece ser.
Gostamos muito do jeito que Barcellos nos conduziu ao longo das páginas nos chamando a atenção para um detalhe ou outro. Nos lembrou um pouco os textos encontrados na Revista Piauí. “Rota 66” foi um trabalho árduo e que mostrou uma realidade assustadora sobre o trabalho da polícia nas cidades.
Ao começar a escrever, Barcellos tinha o objetivo de denunciar os matadores oficiais contra os civis envolvidos em crimes na cidade, mas o balanço final da investigação, em junho de 1992, acabou surpreendendo a si mesmo. O autor conseguiu traçar um perfil criterioso das vítimas e dos assassinos, descobrindo que os criminosos não representavam a maioria entre as pessoas mortas pelos policias militares de São Paulo. Há cerca de quatro mil e duzentas das 12 mil vítimas da PM entre 1970 e 1992. Os números são espantosos, podendo ser comparados aos de uma guerra. Desse total, 65% eram pessoas inocentes, ou seja, pessoas que nunca havia praticado um crime.
O livro hoje tem quase 15 anos, mas tudo nele, infelizmente, continua muito atual. Não há exatamente uma forma de descrevermos a sensação experimentada ao terminar o livro, é realmente como se faltassem páginas.
Para quem ficou interessado e quer saber um pouco mais sobre cada capítulo o jornal Estadão fez uma reportagem que resume bem cada um. Você pode conferir clicando aqui.
Por Paula Arbex
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