Ilustrada por Leon de Camargo e escrita por Marcos T. Nogueira, “Sacramento”, uma HQ de terror brasileira, é uma história que adentra um universo perverso de maldades em uma pequena cidade, homônima ao título. Com personagens problemáticos e uma abordagem que vai do sobrenatural ao fanatismo religioso, essa não é uma história para estômagos fracos ou para pessoas que se impressionam fácil. Demônios, violência explícita e passagens chocantes são levadas às páginas desse Graphic Novel independente. E não à toa que a classificação é para maiores.
Já no prefácio, Marcos deixa claro que Sacramento é uma cidade utópica, e que sua história gira em torno do universo desse lugar abandonado em algum canto do mundo. O mesmo também ressalta que a trama possui algumas passagens pouco desenvolvidas. Enquanto isso, também nos é revelado sobre como a história foi criada e se transformou na trama que temos hoje.
Ao adentrar as primeiras páginas, já nos deparamos com o horror e o sobrenatural. Algo que também impacta nesse primeiro momento é a imensa qualidade do trabalho ilustrativo que cria, em comunhão com o texto direto e sem pudor de Marcos, uma atmosfera obscura e totalmente hostil. Com isso, a intensão de passar o clima demoníaco da cidade e as problemáticas relações entre personagens é atendida nos primeiros capítulos de história. Dessa forma, a trama começa o dissecar os personagens (que não são muitos) e nos apresenta o protagonista, André. O mesmo é um homem amargurado pela vida e vive um inferno astral em seu casamento com Isabel, uma fanática religiosa. Agora, com seu filho desaparecido, André mergulha em toda podridão que envolve a cidade e acaba descobrindo que existem coisas muito piores acontecendo, e que nem todas elas pertencem ao nosso mundo.
“Eles não estão sozinhos, o mal os observa, e quando quer se faz presente oferecendo aquilo que mais desejam, mas não tem coragem de admitir.”
As imagens formam tanto diálogo quanto a própria escrita durante toda a Graphic Novel. Para acompanhar a história é imprescindível se ater as ilustrações. E vale ressaltar que não é tão fácil assim perceber todos os detalhes ou entender toda a trama se não houver atenção, vale inclusive voltar e rever o que já foi lido e visto. Ainda assim não é possível evitar que algumas passagens soem confusas, pois alguns trechos são de difícil compreensão.
Um ponto que o prefácio já nos avisa, e que realmente sentimos, é que a história acaba não desenvolvendo os arcos de seus personagens. Pouco sabemos das coisas que ocorrem longe dos olhos de André, a não se que estas sejam indispensáveis para trama. Há também uma sensação de que a história acelera em alguns momentos, dessa forma, alguns passagens são muito rápidas para serem degustadas e fica a sensação que falta algo mais para preencher as lacunas.
Todavia, mesmo que deixe a desejar em desenvolver alguns personagens, “Sacramento” ainda assim é ousada e não tem medo de levar para sua trama tudo o que é proposto em sua sinopse. Então, essa é sim uma história que fala abertamente sobre esses termos diabólicos e as mais malignas das perversões, ao tempo que adentra a psiquê de um homem repleto de problemas.
Por fim, vale ressaltar que “Sacramento” é um produto independente nacional de extrema qualidade, ainda que não seja para todos os gostos. Ao mesmo tempo que tem alguns problemas de desenvolvimento de história, nos oferece um rico universo para ser explorado, bem como um protagonistas com nuances que podem ser bastante utilizadas – visto que sua história não foi encerrada.
No mais, a Graphic Novel tem capa dura, possui 200 páginas e apresenta ao fim da história uma maravilhosa galeria com artes de Leon de Camargo.
Atualmente a HQ está novamente em financiamento via Catarse.
Imagens e vídeo: Divulgação/Sacramento (Créditos: Marcos T. Nogueira e Leon de Camargo)
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