Jornalista, escritor, editor, sonhador. José Eduardo Agualusa é um dos mais importantes escritores lusos contemporâneos e, em seu livro mais recente, entrega uma obra onírica que tem muito a nos ensinar.
Em “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários” encontramos quatro personagens que se veem unidos a partir dos sonhos. Daniel, que sonha com pessoas que não conhece. Moira, artista que encena e fotografa seus sonhos. Hélio, neurocientista brasileiro que cria uma máquina capaz de filmar os sonhos. E Hossi, capaz de visitar os sonhos dos outros, mesmo que não perceba isso.
A partir dessas personagens, Agualusa nos oferece uma trama de caminhar delicado que percorre uma corda bamba entre realismo e idealismo, realidade e sonhos. Em uma Angola sofrida com os efeitos da guerra que o país enfrentou, e alguns outros países, vemos os personagens lutando por si mesmos, seus entes queridos e por suas escolhas.
“É como se não pudesse haver realidade onde existes tu. Assim como a natureza tem horror ao vácuo, a realidade tem horror a ti. És uma espécie de orquídea com forma humana.”
Um ponto bem interessante desta publicação é a adaptação ao português brasileiro que preservou palavras e termos do português dos diferentes países. Em nada isso prejudica a compreensão, mas, pelo contrário, contribui para criar a atmosfera, nos passando a certeza de que essas personagens realmente respiram.
E esse respirar faz com que nos importemos com eles e suas lutas. Nos importemos com a Angola que Agualusa nos mostra e nos perguntemos como estão essas pessoas que partilham conosco a língua.
“…cresci estrangeira ao meu próprio país. Primeiro, achei que Angola era o nome que se dava à rede de condomínios onde vivem a mamã, os tios, os avós e todos os amigos deles.”
Garanto que, durante e após a leitura desta obra, você se perguntará sempre que acordar o que significa isto que acabou de sonhar. Se as pessoas realmente existem, se há alguma mensagem por trás dos acontecimentos, se aquela frase, aquela palavra, não foi dita só para que você a lembrasse neste momento em que o sono se dissipa.
Mesmo com toda essa realidade dos personagens e esse clima onírico que o texto transpira, ainda encontramos uma bela prosa poética que nos encanta. Encanta e nos lembra que sonhos têm um preço e, quando este for pago, pode dobrar até a mais cruel das realidades.
“Como todos os bons contadores de histórias deixou-se ficar em silêncio, um largo momento, sorrindo docemente, saboreando o triunfo.”
Por Pedro Soler
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