Resenha: Graças de Deus: um gato

O livro “Graças de Deus : um gato” narra a vida e os momentos de um gato chamado Deus. No Egito os gatos eram adorados como deuses é a referência utilizada pela poética de Guinho Frazão, que também escreveu O livro das Figuras.

De forma bem-humorada, os poemas aprofundam um olhar sobre a natureza, uma cosmovisão que apresenta a reflexão sobre a integração entre nós humanos, o criador e a natureza. São 39 poemas que contam as histórias de Deus.

Na apresentação o autor reitera que nós animais bípedes possuímos a soberba de acreditar em nossa superioridade na criação, no entanto, os egípcios se rendiam a inteligência dos gatos. Muitas vezes, na crença que somos o centro do mundo, produzimos malefícios a natureza e todos somos essenciais no cuidado do planeta e da sociedade. Uma proposta a reflexão sobre a nossa interação e intervenção sobre a natureza e a importância da integração entre todas as criaturas que existem no planeta.

O poema “Beleza“, por exemplo, ressalta o efeito terapêutico da relação do homem com os animais de estimação, que com seu olhar “limpam os nossos problemas”, fazendo referências a relação entre os diferentes povos que com eles , os gatos , se relacionaram: os egípcios, persas, árabes.

A construção poética é repleta de metáforas, algumas brincam com o nome do gato “Deus” e a relação com o texto bíblico, além de ressaltar os conhecimentos a cerca do animal. No poema “Moderno” o gato que teclou no computador e fez diferentes peripécias descansou no sétimo dia após a desconstrução do espaço que estava. Além da compreensão do texto carecer da compreensão metafórica repleta de ironia e leveza, há a constituição imagética dos poemas visuais, herança do modernismo. O poema presença de Deus apresenta através da disposição gráfica das palavras a imagem da chuva. A leitura é emocionante e leve além de promover o entendimento sobre o respeito à natureza.