Em termos de abrangência no mercado de entretenimento, as histórias em quadrinhos ficam muito atrás de outras expressões culturais como cinema, teatro, música, artes, etc. Isso falando em termos gerais, pois quando se trata de quadrinhos nacionais o alcance é menor ainda. Apesar disso, houve uma época em que algo completamente inesperado aconteceu: uma editora conseguiu emplacar nas bancas alguns títulos de revistas em quadrinhos totalmente underground! A época foi meados da década de 1980 e o responsável pelo prodígio foi a Circo Editorial encabeçada por Toninho Mendes. Foi daí que surgiram artistas como Laerte, Angeli, Glauco, Chico e Paulo Caruso, Luiz Gê, Fernando Gonsales, entre outros.
Nessa mesma época apareceram outras editoras e revistas alternativas que traduziam muito bem a cultura urbana da juventude. Inclusive a própria Circo teve diversos títulos ao longo de sua existência. Mas o grande marco foi a “Chiclete com Banana”, que obteve excelentes números de vendas, se tornou o carro chefe da editora e teve a maior duração, sendo publicada de novembro de 1985 a novembro de 1990, além das reedições e títulos especiais. Indubitavelmente se tornou o maior fenômeno de vendas de quadrinhos nacionais que não fossem do gênero infantil.
Apesar do imenso respeito que merece a Chiclete com Banana, não é dela que falaremos dessa vez. Mas sim de um projeto com propósitos semelhantes àqueles de 1985 e encabeçados por ninguém menos que Angeli e Laerte! Este projeto tão complexo quanto inovador é a Revista Baiacu.
Justamente estes dois ícones dos quadrinhos nacionais, mais Rafael Coutinho, são os coordenadores do projeto que reúne os artistas Eloar Guazzelli, Fabio Zimbres, Pedro Franz, Juliana Russo, Rafael Sica, Mariana Paraizo, Gabriel Góes, Laura Lannes, Power Paola (Colômbia) e Ilan Manouachse (Grécia), além dos escritores Bruna Beber, André Sant’Anna e Daniel Galera. O lançamento se deu no SESC Ipiranga-SP no mês de julho dando início a uma residência artística de duas semanas na “Casa do Sol”, mantida pelo Instituto Hilda Hilst. Simultaneamente à residência, a unidade do SESC conta ainda com ocupação visual, bate-papos, material digital e a futura publicação de uma revista/livro em novembro pela Editora Todavia.
O principal objetivo da Baiacu é criar uma releitura para aquela fase produtiva de quadrinhos brasileiros na década de 1980. O projeto investiga o atual cenário editorial dos quadrinhos, busca as referências do passado e especula sobre o futuro da linguagem ao brincar com experimentação, troca, quebra de regras e cânones editoriais e mistura de linguagens, em ambiente criativo inédito tanto em seu formato como na dinâmica de produção. Aproveitando a dinâmica dos canais digitais, o projeto também pode ser conferido por uma revista online que será alimentada por diversos conteúdos audiovisuais, possibilitando ao público ampliar a compreensão e vivência do projeto, seja consultando parte do acervo digitalizado da revista Chiclete com Banana ou acompanhando detalhes de bastidores da residência artística.
Segundo Angeli, apesar do editorial da Baiacu continuar voltado ao humor, a proposta é aprofundar-se nas vertentes dele e não repetir o que tinha espaço há 30 anos atrás, já que muitos dos gostos e comportamentos dos jovens mudaram.
Após o período de oficinas e palestras no SESC Ipiranga, a Exposição e a Ocupação Visual se estendem até o dia 09 de setembro e podem ser visitados nos horários de funcionamento da unidade. Lá o Projeto Baiacu ocupa diversos espaços. Logo na entrada, o mural “Bem-vindos à Baiacu” recepciona os visitantes com a apresentação gráfica do projeto. Já no piso superior, acontece uma exposição que explora a livre apropriação de personagens da cultura pop, como o boneco da marca Michelin e a sexy Betty Boop. “Quadrinhofagia”, no muro do deck, é o painel de maior destaque, que apresenta o futuro da linguagem e fará também uma ponte com o Movimento Antropofágico do modernismo brasileiro.
Quem é da cidade de São Paulo pode conferir a exposição ao vivo. Fora da capital existe a revista digital citada no site do SESC. E fora isso tudo nos resta aguardar até novembro para apreciar o resultado dessa experiência inovadora que será a revista Baiacu.
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