O ano era 1985. Após 21 anos de ditadura militar, o Brasil caminhava para a redemocratização. A juventude, que tomou as ruas 1984 por eleições diretas para presidente, jamais imaginaria um festival ao grande estilo de Woodstock, que marcou a geração hippie de 1960-70. Apesar de em 1975 ter ocorrido o Hollywood Rock, que foi um fenômeno carioca, não era nem de longe a imensidão colorida que marcou os dez dias da primeira edição do Rock in Rio.
Na época, Roberto Medina bateu o pé para que pudesse apresentar seu projeto e conquistar as bandas internacionais que marcaram a primeira edição. Pouco se acreditava sobre o sucesso dos shows, considerando a baixa infraestrutura do Rio de Janeiro para receber um evento daquele porte. Segundo o criador, em uma entrevista de 2011, foram dois meses até que os artistas assinassem o contrato, nos Estados Unidos. O primeiro foi Ozzy Osbourne, proibido pelo documento de não comer morcegos no palco (graças ao incidente ocorrido em Iowa, três anos antes). AC/DC, Iron Maiden, James Taylor e Yes foram alguns dos nomes estrangeiros que por aqui estiveram. Já no time nacional, Barão Vermelho, Gilberto Gil, Ivan Lins, Kid Abelha e outros bateram ponto no RiR.
A emblemática “Cidade do Rock” foi elaborada sob um terreno próximo ao Riocentro, na Barra da Tijuca, que também abrigou a terceira edição, ocorrida em 2001. Lá foram construídos um palco com 5 mil metros quadrados – o maior do mundo, até então, além de dois shoppings center com 50 lojas, dois fast-foods, dois postos de atendimento médico e todo um aparato para atender a cerca de 1,5 milhão de pessoas nos dez dias de evento. Atualmente, um condomínio de prédios que abrigou atletas na Rio 2016 está no local.
Mostrando a que veio
O primeiro a pisar no palco, no dia 11 de janeiro, foi Ney Matogrosso – que fez história com “América do Sul” ao abrir a primeira noite de shows. O hino marcou a concretização de um sonho, tido como impossível, que revolucionou a indústria musical brasileira e que se mantém até hoje em crescimento. Erasmo Carlos, Pepeu Gomes e Baby do Brasil, Whitesnake, Iron Maiden também inauguraram o festival. Fechando a noite com chave de ouro, o Queen emocionou as 300 mil pessoas com “Love Of My Life” à capella. Foi a segunda e última vez que a banda passou pelo país com Freddie Mercury vivo (o cantor faleceu em 1991, vítima de AIDS). O primeiro show foi em 1981, no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
O segundo dia, bem mais calmo – mas jamais, desanimado, começou com Ivan Lins. O pianista voltaria horas depois para cantar com George Benson, que encerraria o dia 12 em alto astral. Elba Ramalho, Gilberto Gil, Al Jarreau e James Taylor também marcaram presença, estampando as capas de jornais da época na manhã seguinte.
No dia 13, os novatos do Paralamas do Sucesso animaram o público, apesar da simplicidade do palco e dos próprios integrantes. A apresentação consagrou Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna à nível nacional. Lulu Santos e a Blitz deram fecharam a tríade carioca, antecedendo as atrações internacionais. Nina Hagen arrasou com seu visual excêntrico e um grave inconfundível, antecedendo a pop The Go-Go’s e a estrela da noite, Rod Stewart.
Faltando pouco para a eleição de Tancredo Neves, o quarto dia foi cheio de emoções. De Alceu Valença cantando “Anunciação” – um presságio da liberdade tão sonhada desde 1964 no país, a James Taylor retornando à Cidade do Rock e cantando “You’ve Got A Friend” junto com o coro do público. Moraes Moreira e George Benson, que também já havia cantado no festival, não fizeram feio. Enquanto o primeiro transformou a Barra da Tijuca num verdadeiro carnaval, Benson trouxe os ritmos das pistas de dança da época. E claro, não pode faltar “On Broadway”.
O dia 15 de janeiro ficou marcado no coração dos brasileiros com o grito de vitória de Cazuza e o Barão Vermelho, com “Pro Dia Nascer Feliz”. O fim do militarismo era uma realidade. A festa, agora, tinha mais motivos para continuar a todo vapor. Porém, Kid Abelha e Eduardo Dusek sofreram com as vaias, daqueles que esperavam a “pauleira” do fim da noite, apesar dos shows animados. Quando Klaus Meine, vocalista dos Scorpions saudou o público, o “rockódromo” tremeu. Foram 1h20 de puro heavy metal. E, encerrando o quinto dia, o AC/DC não decepcionou. “Back in Black”, “Bad Boy Boogie” e “Hell’s Bells” foram alguns dos sucessos do grupo de Brian Johnson que impactaram os roqueiros. Uma curiosidade é que o sino de bronze, utilizado na performance, foi trazido de navio do exterior e deu uma baita dor de cabeça para Roberto Medina. Por ser muito pesado, a estrutura do palco não suportou e a cenografia do RiR precisou correr para produzir um sino de gesso.
E por hoje, a gente se despede com a primeira parte da história do Rock in Rio I. Amanhã, no mesmo horário, contaremos a segunda parte de todas as curiosidades da edição mais queridinha do público. Confira abaixo, os melhores momentos selecionados pela Woo! Magazine:
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