A influência de Hollywood nos filmes considerados comerciais ao redor do mundo é notável, mesmo na Rússia, adversária histórica dos EUA na política e na cultura. No entanto, é curioso observar um filme da terra de Putin que remete tanto às sessões da tarde dos anos 90, ainda mais sendo um romance repleto de situações dignas dos roteiristas estadunidenses mais tradicionais. Isso resume a proposta de “Pochemu ty?” (“Por que você?”, na tradução do Google Tradutor), que no Brasil é intitulado “Sugar Baby”. Este anglicismo já é universal, mas revela que, até mesmo quem teve a responsabilidade de criar um título para nosso país, percebeu a influência americana na história conduzida pelo diretor e roteirista Aleksandr Prost.
Na trama, a jovem Alla (Angelina Zagrebina) decide tornar-se a sugar baby do título para angariar fundos para uma viagem. Contudo, ela não esperava apaixonar-se por seu primeiro cliente, o abastado empresário Andrey (Daniil Vorobyov). Alla é extremamente americanizada, desde seu quarto adornado com pôsteres de bandas até o estilo de suas roupas. Além disso, é a típica garota rebelde de classe média: em conflito constante com a mãe e desejando abandonar a universidade para se tornar artista. Quantas vezes já nos deparamos com personagens assim, não é verdade?
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No entanto, para o bem do filme de Prost e também do espectador, que não suportaria testemunhar mais um romance desprovido de inovação, há elementos que diferenciam “Sugar Baby” de outras produções recentes: o relacionamento entre um homem mais velho e uma jovem mulher, além das tórridas cenas de sexo.
O primeiro aspecto é um grande tabu nas sociedades “civilizadas” europeia e americana; por isso, os roteiristas desses locais evitam o tema como se suas vidas dependessem disso. Mesmo quando o abordam, é para enfatizar o quão sujo e imoral é um homem que se relaciona com alguém que tem metade de sua idade ou para retratar a mulher como uma criminosa, que entra no relacionamento exclusivamente por interesses escusos.
Nem é preciso discutir muito sobre as cenas de conotação sexual no cinema puritano que hoje impera em Hollywood, no qual as pessoas parecem sofrer de alguma condição que gera precocidade de orgasmo, já que o ato em si dura meros segundos. No longa russo, isso não ocorre, pois seus realizadores não hesitam em mostrar corpos nus e em alongar as sequências nos quais eles são mostrados. Certamente, muitos desses momentos são cômicos, especialmente no primeiro encontro do casal, mas, de modo geral, exprimem de forma eficaz os desejos de ambos.
Assim, pode-se afirmar que “Sugar Baby” é narrativamente construído como uma mistura de “Uma Linda Mulher”, que é referenciado em certo momento, com “Cinquenta Tons de Cinza”, apesar de não apresentar elementos tão destacados de soft porn do filme americano. Além disso, aborda a descoberta do amor, que pode acontecer em diferentes idades, e as agruras de um relacionamento a dois.
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O roteiro de Prost estabelece obstáculos para o casal, mas, mais uma vez, não inclui a diferença de idade como um deles. Na verdade, essa questão nem chega a ser mencionada. Evidentemente, na Rússia, relacionamentos desse tipo podem ser mais comuns, o que facilita o trabalho do roteirista, mas para um filme destinado ao mercado internacional, isso é, sem dúvida, corajoso.
De resto, não se trata de uma obra que revolucionará o gênero, e talvez nem tenha essa pretensão. O que se busca aqui é a realização de um filme mais leve e descompromissado, e isso, infelizmente, o coloca em uma posição aquém do primeiro escalão da produção cinematográfica russa.
Em breve, o filme estará disponível na plataforma de streaming Adrenalina Pura.
Imagem Destacada: Divulgação/Adrenalina Pura
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