As séries médicas costumam fazer sucesso no meio do público, algumas se eternizando e sendo assistidas ao redor do mundo, como “Grey’s Anatomy”, “E.R”. e “House”, e outras que surgem para tentar quebrar com a medicina moderna. É o caso de “The Knick”, criação de Jack Amiel e Michael Begler, protagonizada por Clive Owen.
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!
Na trama, o hospital Knickerboxer é referência na Nova York do século 20, com inovações médicas e bons profissionais. Entre eles, se destaca o cirurgião chefe John Thackery (Owen), que além de ser um tanto inerente, luta contra o vício em cocaína e ópio, na época utilizados como sedativos de uso legal. No mesmo hospital está o doutor Algernon Edwards (Andre Holland), um jovem negro graduado em Harvard que tenta conseguir seu espaço entre médicos brancos e de maioria racista.
Na época, certas discussões não eram tão abrangentes quanto são hoje. Não se falava de racismo, feminismo e lutas minoritárias. E havia quem tivesse pensamentos bárbaros, mas era protegido pela impunidade da época. É o caso do doutor Everett Gallinger (Eric Johnson), que não só era racista como cometia insultos gravíssimos ao doutor Edwards. Porém, protegido pela supremacia masculina branca do período, o antagonista conseguia sair como certo perante aos outros médicos da trama.
Um dos grandes absurdos que a série retrata é a esterilização de jovens, nos auge dos seus 18 anos, que eram delinquentes e haviam saído do reformatório. Em sua maioria negros, esses rapazes eram esterilizados pelo doutor Gallinger, sobre o argumento de que a raça, de negros e marginais, não traria nada de útil ou correto caso fosse reproduzida. Gallinger não trabalhava sozinho, e sua atitude era vista como correta, ainda que fosse um absurdo.
As mulheres da época serviam ao sistema patriarcal de casar e ter filhos, mas nunca trabalhar, o que “The Knick” mostrou corretamente com três personagens femininas que dariam início a pequenas revoluções feministas. Na trama, a Irmã Harriet (Cara Seymour), uma freira católica e que auxilia o orfanato vinculado ao hospital, sofre sanções no âmbito religioso por realizar abortos em mulheres.
Uma dessas mulheres é a diretora do Knickerboxer, Cornelia Robertson (Juliet Rylance), que além do machismo que sofre por parte de seu marido e sua família, acaba tendo uma gravidez fora do casamento. O que na época era um escândalo, piora com a possibilidade dessa criança não ser branca, além de que possivelmente afetaria no papel de Cornelia como diretora, pois muitos ali não a consideravam própria para a função.
Além delas, uma figura importante para a trama é a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson), que foi criada numa família religiosa – não aceitam qualquer tipo de promiscuidade antes do casamento – e sofre constantes assédios por parte dos médicos do The Knick. Elkins é constantemente criticada por trabalhar e ser solteira.
Outro ponto mostrado na série é como as burocracias sociais só afetam mulheres e não homens, pois muitos ali são casados e possuem relacionamentos extraconjugais, mas em nenhum momento são julgados por isso. Outra crítica pertinente é como o racismo da época não permitia a presença de negros em um hospital do nível do Knickerboxer, fazendo com que o doutor Edwards criasse, no porão do hospital, um atendimento para todos aqueles que eram impossibilitados de serem atendidos no The Knick.
No fim, a trama era uma grande crítica ao racismo da época, principalmente no âmbito médico, que não deveria fazer distinções de sexo ou raça. As grandes doenças da época, como a peste negra, afetavam a todos independentemente de suas características e o que deveria ser lidado como uma maneira de erradicar essas doenças, era deixado de lado por questões pessoais de preconceito e intolerância.
“The Knick” foi cancelada após duas temporadas. Talvez pela sua baixa audiência, pois não era tão conhecida, ou pela narrativa lenta que não conseguia prender o espectador nos momentos necessários, ainda que tenha sido bem avaliada pela crítica. As duas temporadas podem ser assistidas em serviços de streaming.
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