Uma família americana composta por um casal de agentes de viagem com seus dois filhos, Paige e Henry e sua rotina. Poderia ser o cenário de um sitcom americano, se não estivéssemos falando de uma das melhores séries dramáticas da última década. Parece ousado colocar espiões russos como protagonistas de uma trama em solo americano, mas é isso que “The Americans” faz. E o faz com maestria.
No período da Guerra Fria era comum que espiões russos assumissem identidades novas nos Estados Unidos. Eles executavam algumas missões e passavam informações para a base mother russia, antiga União Soviética. Elizabeth e Philip (Keri Russell e Matthew Rhys, respectivamente) fazem os papéis dos espiões russos que querem se misturar à multidão como americanos comuns. E de certa forma eles acabam sendo.
Na trama, Elizabeth e Philip vivem as tensões de morarem ao lado de um vizinho agente do FBI, e o equilíbrio entre a vida de fachada e a *vida missionária*. Colocar russos como personagens principais confere humanidade ao outro, essa figura historicamente tão assustadora para a cultura de massa americana.
A série vai além do suspense típico de séries do gênero: muitos embates corpo a corpo, carros queimando e dias sendo ganhos. A série se propõe algo muito mais ousado; ela mergulha na vida desses personagens de tal forma que em alguns momentos você os vê apenas como familiares vivendo seus dramas. “The Americans” mantém um fio muito sutil e elegante em termos de condução narrativa, que nos faz entender os dilemas de tais personagens, sem cairmos nos julgamentos morais, “olha, eles matam gente com facilidade”.
Elizabeth e Philip, os americanos
Quem nos mostra um pouco da consciência culpada é o personagem Philip. Contrastando com Elizabeth, sempre segura de suas ações e leal ao seu objetivo e pátria. Outra ousadia da série é colocar a personagem feminina dividindo 50% da ação e diálogo com seu par masculino, sem que ela ocupe o lugar da frágil, indefesa, mãe cheia de culpa. O vacilante é sempre o Philip.
Quando o corpo da Elizabeth entra em cena ele está muito distante das construções repetidas às quais estamos acostumados. A dinâmica que aparece nas missões é certeira e pouco sensual, sempre encontrando um equivalente no outro lado do casamento, no par masculino, que precisa fazer as mesmas coisas no fim do dia.
“The Americans” é uma série aclamada pela crítica e não tão aclamada pelas premiações, o que já foi questionado por diversos jornalistas. Talvez Hollywood não esteja preparada para uma série em que a força motora, pasmem, é uma ideologia socialista, e em que a mulher ocupa o lugar mais austero e menos sensível. Mas são esses desassombros que a fazem ser uma obra bem fora da curva e indispensável na lista de quem curte o gênero dramático. Até os personagens secundários aparecem brilhantes; com destaque para a Nina Sergeevna Krilova, interpretada pela atriz Annet Mahendru.
A série está indo para a sua quinta temporada e merece ser vista em boa qualidade e com calma. Aqui no Brasil você a encontra no canal FX, na Netflix e em dvds.
Por Érika Nunes
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