Sem dúvidas um dos acontecimentos mais comentados na semana — não necessariamente num bom sentido — entre alguns acertos, mas muitos erros, a Ucconx deixa lições importantes para organizadores e fãs. Meio a exageros, especulações e problemas que não te contaram, o que de fato aconteceu com a promessa de maior evento geek do Brasil?
Parte um: a ambição, delírio de grandeza
O que é necessário para organizar um grande evento geek? Divulgação? Patrocínio? Atrações? Experiência? Em cada um dos aspectos que se pode pensar, há uma falha primal, porém, todas parecem estar ligadas à algo maior: a megalomania.
Superando em duração mesmo eventos consolidados no ramo, como o Anime Friends e a própria CCXP, o que se espera de uma convenção de cinco dias é preparo e conteúdo; e, dadas as proporções, não seria exagero enxugar a Ucconx para um ou dois dias – um fim de semana bastava.
Após uma volta rápida no Pavilhão, em torno de dez minutos, o público já tem uma noção panorâmica das atrações, majoritariamente composta por lojas de temática nerd. Por causa disso, o pensamento mais imediato é que poderiam contar com uma promoção mais modesta, sem promessas que não pode cumprir.
Parte dois: atrações, quer dizer…

Não fosse a divulgação (negativa) boca a boca, o evento não teria tomado proporções de escândalo, figurando nos trending topics e veículos de informação como um completo fracasso – afinal, a maioria das pessoas mal sabia da existência da Ucconx até quarta feira, primeiro dia.
Não à toa, uma das piadas mais recorrentes foi a dos espaços vazios. Alugando um espaço tão grande como o Anhembi, mal se podia perceber aglomerações relevantes em quaisquer stands e atrações, salvo quando uma celebridade estava no palco principal. Como uma bola de neve, a campanha negativa levava ao cancelamento de participações especiais e, por sua vez, esses cancelamentos levavam à mais burburinho contrário ao evento — e com razão.
Em um primeiro ano de evento, considerando a dificuldade de se estabelecer contratos e presença de grandes empresas, como Panini, JBC, Marvel e DC, não seria de todo mal alugar um espaço menor para que investisse melhor na distribuição e qualidade dos eventos internos — não haveria o fator de decepção, ainda maior no público pagante — o que retoma ao ponto um.
Valeria fazer algum comentário a respeito de atrações de esportes radicais no “Espaço Urban”, que não poderia parecer mais deslocado. Apesar de relativamente interessante, entre o ambiente (e público!) havia um claro abismo — ao passo que a “Área Asian” estava claramente negligenciada. Comentário pessoal? Essa ideia só pode ter partido de algum executivo que não tem ideia do que está fazendo.

Parte três: Convidados — Augúrio
Através de uma campanha de marketing que apostou com tanta credulidade no sucesso sustentado pelas presenças VIP, deixando de lado concursos de cosplay, karaokê, etc. em último plano, não se podia esperar uma resposta muito diferente quando a maior atração cancelasse sua participação. Nesse caso, não se pode nem falar em hate quando a organização fez pouco caso a respeito de política de devolução – levando ao acionamento do PROCON – e de uma contenção de crise veloz e transparente.
Vale lembrar que a Ucconx, embora seja um evento em um dos mercados mais quentes dentro do entretenimento, é realizada em um momento de crise econômica e não oferece uma opção de meia-entrada social, como o Lollapalooza — o que torna o evento ainda menos acessível.
Nesse sentido, a vinda de Rupert Grint e Ian Somerhalder, focos da promoção da Con, acaba ficando abreviada para uma minoria nos painéis, restritos até mesmo à imprensa. No Palco X, a mediação também ficou prejudicada com cancelamentos de última hora, como o de Caco Cardassi, do canal Caldeirão Furado, como mediador do painel de Grint, bem como um espaço com ares de planejamento tardio.
Parte quatro: Os expositores
Poderia ser apenas uma piada de mau gosto, mas o tratamento com os artistas foi um dos pilares para demolir o evento de dentro para fora. As exigências absurdas em um evento principiante, como a vedação de canetas, câmeras e notebooks — inclusive para artistas e imprensa, fizeram parte do marketing autodestrutivo da Ucconx. Para piorar, a cobrança de 5% sobre os produtos vendidos, algo que não ocorre mesmo na CCXP, revoltou os expositores.
Organizados, com as denúncias envolvendo a staff e a cobrança, houve um boicote por parte dos artistas. Vazia na quarta, na quinta contando em dado momento com quatro mesas ocupadas, a diversidade no Artists Alley não melhorou muito no fim de semana, quando o evento ficou mais cheio — mesmo que de gente com curiosos mórbida. Após a repercussão, as políticas relaxaram “em off”, contudo, o estrago já estava feito.
Parte cinco: a organização
Novamente, a internet foi essencial para expor denúncias de desrespeito a direitos trabalhistas, o que contribuiu para dar mais pano para comentários ora especulando, ora afirmando a existência de um esquema de lavagem de dinheiro, má fé. Apesar de questões legais circularem em relativo segredo, a imagem do evento já estava a sete palmos.
Começando na retirada de ingressos, o público poderia retirar as credenciais na semana do evento das 10 às 12h, ao menos em teoria. O que se viu foi uma mudança de horário (e local de distribuição) não anunciada, deixando jornalistas, pais e crianças, fãs no geral, na fila sob o sol por mais de duas horas.
Já na sala de imprensa, com a proibição de canetas, notebooks e tablets, o que se vê é um ambiente de happy hour, pois, diferente da Bienal do Livro e outros eventos, não há suporte para o lançamento de notas.
Ao conversar com uma pessoa da staff, a Woo foi informada sobre a situação de estresse que a equipe era exposta. A despeito de serem contratados para uma função e receberem uma orientação de cima para baixo, tão logo recebiam uma ordem de serviço que contradizia a anterior, pois são várias as empresas coordenando a Ucconx e não há uma central de comando.
Parte seis: não é esse desastre todo

Levando em conta o descontentamento nas redes sociais, felizmente não houve nenhum tumulto ou problema de segurança até o término do quarto dia. Os cancelamentos de Millie e Takei, bem como o erro de Ian Somerhalder em seu vídeo de anúncio — em que afirma que viria em junho (e não julho) ao Brasil — deixaram os fãs na expectativa, receosos em terem sido vítimas um golpe. O evento seguiu normalmente, e os demais artistas cumpriram com suas agendas.
O espaço gamer é um ótimo investimento, com pequenas filas em apenas alguns horários. Nele, os visitantes podem jogar em grandes monitores jogos de Xbox, Playstation, Nintendo Switch e Computador, tudo sem lag e com amigos. É certo que isso por si só não sustenta evento, mas dá para se ver uma boa ideia ali.
Caso o evento ocorra em outros anos, alugar um espaço menor, investir em atrações mais interativas e cuidar bem de sua staff — incluindo os artistas expositores — vai ser preciso para conquistar aos poucos a confiança do público. A palavra chave aqui é organização, afinal, muita gente — e não os executivos — estava envolvida no projeto e se viu prejudicada pelos entraves e más decisões da administração.
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Excelente matéria. Conseguiu passar para o leitor de forma leve e sincera como foi da estrutura e desenvolvimento do evento
“Nada de canetas ou aparelhos que voçe possa anotar nada ein” ja deve ter dado uma sensaçao errada nessa hora.