Primeira semana de “Vale Tudo” foi, digamos, surpreendente!
Vista com grande expectativa pela emissora como o salvaguarda que tirará a Globo de uma maré de queda de audiência — afinal, audiência se conquista (e perde) com tempo e hábito, “Vale Tudo” estreou esta semana, em comemoração aos 60 anos da teledramaturgia global, e gostaríamos de deixar nossas primeiras impressões sobre o folhetim.
Um breve histórico sobre o remake
Remakes não são nenhuma novidade e estão presentes no audiovisual praticamente desde que ele se consolidou enquanto formato de entretenimento: se “Nosferatu” (2024) e “Branca de Neve” (2025) são exemplos mais recentes, há exemplos numerosos da Era de Ouro de Hollywood como “Os Dez Mandamentos” (1956) — por si só um remake de 1923.
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Ao que o mesmo possa se dizer das novelas da Globo, o que sempre também foi motivo de controvérsia, além de títulos recentes como “Pantanal” (2022/1990) e “Renascer” (2024/1993), algumas refilmagens ficaram mais famosas na mente do brasileiro que as originais, como é o caso de “Éramos Seis” (1994, original de 1977, e outra versão em 2019), e “A Viagem” (1994/1975).
Isto porque, destarte a oportunidade de recontar a história adicionando camadas e temas contemporâneos, essa pode ser uma desculpa para ganhar dinheiro com uma suposta promessa de sucesso garantido, sem precisar inovar. Atravessando uma má fase — atribuída por alguns à direção, desde 2020, de Amauri Soares — essas críticas têm ficado mais acentuadas, sobretudo com “Vale Tudo” sendo uma novela tão querida e tida como atemporal, mas é preciso separar o que procede e o que não.
Ao contrário do reforço positivo que a emissora recebeu com “Pantanal”, refilmagens não são uma garantia de sucesso, e por uma miríade de razões (como com “Renascer” e “O Rei Leão”), podem dar muito errado. No atual contexto, o investimento no “seguro” é visto pelo público como uma tentativa de reduzir custos e sintomático de uma fase de falta de criatividade nas tramas — o que, cumulativamente, tem aumentado uma recusa pelas novelas da casa.
Enfrentando cortes maciços no orçameto — matando contratos fixos, cenas e fases inteiras gravadas no exterior, limitando a liberdade criativa da produção — concorrendo com a internet e suas tecnologias — tendo que disputar estrelas que hoje preferem trabalhar no streaming, ou perdendo prestígio frente a novelas do streaming (“Pedaço de Mim”, “Beleza Fatal”) — e com inúmeros cortes, censuras, e interferências na trama que picotam a novela, podam os autores, e tornam as tramas cada vez mais identidade e sem vida, façamos questão que estamos todos na mesma página e não nos deixemos levar pelo zeitgeist sombrio que vivemos, isto é, de associar avanços como mais negros em novelas como sinônimo de fracasso — quando a própria emissora tem vetado tramas de casais gays.
Nessa receita maluca, a Globo tem tentado de tudo para fazer o público aceitar a nova produção, inclusive durante um tempo evitado usar o termo remake, crendo que ele afastaria o público. Em alguma medida, contudo, o marketing feito tem valido a pena, com divulgação em todos os principais programas da casa e campanha massiva nas redes, emplacar a novela e reverter a audiência em queda livre.
Com média animadora de 24 pontos para o primeiro capítulo, mas abaixo das expectativas explosivas da emissora, “Vale Tudo” encerra a primeira semana com queda aos 19 pontos — também estando no top 2 do Globoplay, apenas atrás do principal produto, o “Big Brother Brasil”, e com a original de 1988 figurando no top 6. Uma queda, sobretudo aos sábados, é até esperada, mas acende um alerta na direção.
Escolhas

Apesar da Globo tem que tentar conter os danos, toda a pré-divulgação fora bem caótica, e ainda estamos em contexto porque a autora, Manuela Dias, fez, obviamente, escolhas. Inimiga do silêncio quando ele é a melhor opção, declarações suas preocuparam os noveleiros sobre os rumos que a novela tomará, já que ela deu uma série de entrevistas sobre interpretações suas sobre a trama original, como possíveis necessidades de suavizar Odete Roitman para atualizar a trama.
Não nos ateremos a comparações 1:1 sobre a trama das duas versões porque pretendemos criticar especificamente a qualidade desta como uma mídia independente, e acreditamos que assim seja mais produtivo direcionar as críticas.
Atuações
Tirando logo o elefante da sala, a atuação está — modo geral — indo bem. A estrela inquestionável é Taís Araújo que traz um frescor a parte quando entra em cena: é convincente sem ser pedantemente chata como mocinha, o que não é nada fácil, e haja jogo de cintura para segurar o tanto de drama que vem por aí.
Destaques positivos para Alice Wegman como Solange Duprat — e que é questão de tempo para que roube a cena — e Caroline Dieckmann como Leila, que não seria nossa primeira escalação à personagem, mas que prova como pagar a língua às vezes é ótimo.
Será que gostamos de Paolla Oliveira como Heleninha Roitman? Ainda é cedo pra saber, mas do que vimos até aqui o saldo é positivo; são abordagens e tons claramente distintos para a personagem, e que podem depender de como ela será escrita (já que Dias confirmou que pretende dar a ela outra leitura). Se conseguir segurar até o fim, será com certeza o papel de sua carreira.
Já que a Odete Roitman de Debora Bloch chega apenas no capítulo 24 (26 de abril), falemos de Alexandre Nero como Marco Aurélio. Até tínhamos muita fé de que seria uma das escalações seguras, mas até então o tom do personagem parece muito descompassado, de se perder a verossimilhança, mas ele segue odioso (felizmente). Como excelente ator, é possível que isso mude.
Não temos ainda comentários extensivos para o Ivan de Renato Góes ou o Afonso de Humberto Carrão, esse último que parece ter caído como uma luva, no entanto. O desempenho entre os rapazes que queremos elogiar mesmo é o de Júlio Andrade como Rubinho Acioli — o homem é uma máquina; grande ator.
Já entre os vigaristas, ao contrário das más línguas, estamos gostando da canalhice de César Ribeiro por Cauã Reymond — que felizmente não exige uma grande carga dramática — e da Maria de Fátima de Bella Campos. Bella foi muito criticada até então pela mídia e público como uma escalação questionável para viver uma protagonista, dado o histórico de canastrice. Não ajudaram em nada que os teasers liberados pela emissora pareciam jogar contra ela.
No entanto, Bella está indo razoavelmente bem, claro que há momentos — como no incêndio falso do capítulo de quarta-feira (2) — em que ela não parece dar conta do recado, mas não está uma atuação insofrível como tanto fora comentado. Sendo realista, não é provável que melhore muito daqui — embora rezamos para isso. É uma Maria de Fátima diferente, estejamos de braços abertos à proposta.
Muitos elogios, como podem ver, mas isso é apenas a primeira semana. O avançar da trama torna mais difícil escrever personagens interessantes e que atores segurem o registro; é quando talvez fale a voz da experiência e, se depender disso para certas atuações, será um Deus nos acuda.
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Trilha sonora e fotografia
Com direção artística por Paulo Silvestrini (“Vai na Fé”, “Avenida Brasil”), não temos do que criticar por enquanto. A edição entendeu o recado da novela e não tem cometido erros grosseiros como tornar a novela excessivamente escura ou piruetas argumentativas na construção de cenas, com jogos de câmera rebuscados e vazios de linguagem — alô, Amora Mautner.
A trilha também está divertida e tem escolhas inteligentes, como “Isto Aqui O Que é” (Caetano Veloso) e “Faz Parte do Meu Show” (Cazuza), manutenções da trilha de 1988, e escolhas moderninhas como Chappell Roan, Shakira, e Hozier.
Já a abertura felizmente ficou mesmo na voz de Gal Costa, apresentada ao fim do vídeo; belíssima homenagem. Somos partidários de que uma boa abertura deve contar a história da novela e essa nova versão elevou o conceito para outro sarrafo. As colagens, críticas, e timing ritmado ficaram um espetáculo a parte; uma das melhores aberturas da década — que tem sofrido com algumas bem preguiçosas, aliás.
“Vale Tudo” (2025) .Imagem Destacada: Divulgação/Globoplay

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