Em 2020 foi lançado “Bad Boys para Sempre”, a sequência da saga dos policiais de Miami, Mike Lowrey e Marcus Burnett (Will Smith e Martin Lawrence), após um hiato de dezessete anos desde o segundo filme da série, até então dirigida por Michael Bay. O filme, como destacado na crítica escrita à época, apresentou certas falhas de roteiro e direção que o colocaram significativamente abaixo de seus predecessores. Surpreendentemente, em 2024, surge “Bad Boys: Até o Fim”, e todos esses problemas se repetem, evidenciando que os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah não absorveram as lições de suas experiências anteriores, ou talvez relutem em progredir como cineastas a fim de melhorar a qualidade de suas sequências de ação.

Entretanto, antes de abordar a forma do filme, é necessário discorrer brevemente sobre sua estrutura: o roteiro, elaborado por Chris Bremner e Will Beall. O texto da dupla de roteiristas foi concebido para proporcionar aos protagonistas seu já reconhecido desempenho carismático e cômico, relegando tudo o mais a segundo plano. Assim, aparentemente, os demais elementos carecem de relevância, e o espectador é compelido a aceitar um vilão pouco desenvolvido ou uma trama carente de sentido, ao recorrer a um personagem já falecido, cuja inclusão pareceu motivada unicamente pelo apelo aos fãs da franquia. O aspecto mais criticável no trabalho de Bremner e Beall, todavia, é sua incapacidade de conceber algo simples e funcional. Não seria necessário recorrer novamente ao passado dos personagens, saturando o filme com flashbacks que apenas interrompem o fluxo narrativo. Talvez fosse mais proveitoso avançar, deixar o passado para trás e trazer nova vitalidade à franquia. Aparentemente, essa não é a intenção dos envolvidos, visto que o filho de Mike é novamente explorado, repetindo a mesma dinâmica que não obteve êxito no filme anterior. Além da falta de inventividade do roteiro, há ainda alguns furos em sua concepção, como em uma sequência na qual os policiais fogem de uma perseguição que envolve a polícia e os criminosos de toda a cidade, e, para obter documentos falsos, refúgio e recursos financeiros, recorrem a uma antiga aliada que trabalha em um clube de striptease. Ou seja, quando alguém deseja se esconder, basta procurar um local repleto de pessoas e câmeras de segurança que tudo dará certo.
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Essas falhas do roteiro poderiam ser ignoradas se as cenas de ação fossem imaginativas e mantivessem um ritmo envolvente, mas El Arbi e Fallah parecem incapazes de se desvencilhar dos clichês do videoclipe. É notável que mesmo em cenas simples de diálogos, os cineastas movimentam a câmera como se estivessem capturando ação. Assim, entre uma fala e outra, surgem gruas, drones, travellings, plongée e contra-plongée… o que, de fato, é extremamente irritante e prejudicial à experiência do espectador, que, ao sair da sala de exibição, estará com uma dor de cabeça insuportável.

Curiosamente, esse estilo de direção, quando aplicado nas sequências de fato de ação, torna-se confuso e não contribui para conferir urgência ou tensão. Nessas ocasiões, sente-se ainda mais a falta de Michael Bay, que, embora apareça no filme, tem apenas uma divertida participação como ator. Contudo, para não dizer que tudo é desprovido de mérito em termos de direção de ação, destaca-se uma sequência envolvendo uma luta dentro de um elevador de vidro, que é habilmente capturada pela câmera do lado de fora. Nesse momento, a tão necessária tensão é palpável, embora seja evidente que essa é apenas uma exceção acidental, ou que foi planejada com mais esmero do que as demais cenas que compõem o restante do filme.
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Dessa forma, é possível concluir que “Bad Boys: Até o Fim” é mal dirigido, apresenta um roteiro repleto de falhas, mas possui um par de protagonistas que cativa a audiência, independentemente do restante ser completamente esquecível.
Michael Bay, por favor, retorne à direção de “Bad Boys”.
Imagem em Destaque: Divulgação/Sony Pictures Brasil

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