Nada melhor do que o retorno de uma franquia de sucesso para tirar do marasmo a carreira de Will Smith e para resgatar Martin Lawrence dos insignificantes projetos com os quais se envolveu nos últimos anos. Dito isso, realmente foi uma boa pedida voltar a interpretar os detetives Mike e Marcus, respectivamente. Já para o estúdio, foi como abrir um baú cheio de ouro, levando em conta a vultosa bilheteria que “Bad Boys para Sempre” havia atingido nos EUA no momento da escrita deste texto. Foram dezessete anos desde o último longa, e toda saudade que o público tinha das aventuras cômicas dos Bad Boys reverteu-se em dinheiro no caixa da Sony Pictures.
Mas, fazer bom cinema não significa conseguir fortunas em ingressos, do contrário todos os produtos das séries “Transformers” e “Velozes e Furiosos” ganhariam retrospectivas na Cinemateca Francesa. O que se espera, mesmo em uma produção comercial de ação, é um bom roteiro sendo filmado por um diretor competente, que comanda um elenco inspirado. Não precisa ser genial, apenas algo que não afronte a inteligência do espectador, como faz “Missão Impossível”. Bom, considerações à parte, para começar a falar de “Bad Boys para Sempre”, é possível afirmar que ele não é execrável quanto “Velozes Furiosos”, no entanto não chega aos pés das histórias protagonizadas por Tom Cruise e seu Ethan Hunt.
Claro que são diferentes: um é sobre dois policiais combatendo o crime em Miami e o outro é sobre um agente ao estilo 007, porém o que se discute é a capacidade que cada produção possui em criar cenas de ação dentro de um bom roteiro, e o filme de Adil El Arbi e Bilall Fallah não consegue grandes resultados. O texto é simplório e repetido: Marcus quer se aposentar e curtir o neto, enquanto Mike continua com a mesma paixão de ser policial e não pretende se envolver emocionalmente, mesmo tendo um relacionamento com a sargento Rita (Paola Nuñez) líder de um esquadrão hightech do qual fazem parte Kelly (Vanessa Hudgens), Dorn (Alexander Ludwig) e Rafe (Charles Melton). A situação piora quando um assassino misterioso começa a matar integrantes da justiça e da polícia envolvidos em um caso antigo, e Mike é um deles.
Com essa ameaça, a dupla de detetives vai ter que trabalhar com o esquadrão de novatos, o que poderia gerar boas cenas de tensão e comédia se as pretensões com a trama principal, que envolve o passado de Mike, não atropelassem qualquer tentativa – quando Mike conhece Rafe há um início de conflito de egos, mas ele é logo deixado de lado. O tom novelesco também atrapalha, já que o cruel vilão se torna menos perigoso e mais um misero obstáculo. Afinal, em uma novela, na maior parte das vezes, tudo acaba bem para os heróis. Sim, até dá para citar momentos pesados, como a os ataques a alguns personagens em cenas bastante gráficas, contudo nada que estrague o humor rasteiro.
Passando para a direção, é notória sua competência em deixar o espectador confuso com sua falta de capacidade de organizar a geografia da ação. Muitos diretores sofrem com isso quando usam uma montagem picotada, aqui, El Arbi e Fallah preferem alguns planos mais longos, mas exageram nas panorâmicas e nas gruas em alta velocidade, tirando de quem assiste a chance de acompanhar o que de fato está acontecendo na tela. Torna-se até um contraste comparando com as “câmeras lentas” que Michael Bay usava para enfatizar o poder dos protagonistas, e que é vítima de uma piada durante o primeiro ato.
Outra diferença entre Bay e os cineastas Belgas, é a questão da exposição gratuita do corpo feminino. Em “Bad Boys para Sempre” há mulheres lindas em vestidos sexys, porém a câmera não as segue em planos da cintura para baixo ou as mostra de costas em contra-plongée. São menos machistas também em colocar mulheres em personagens que possuem cargos superiores, ou que partem para a ação sem a necessidade dos homens para salvá-las em situações adversas. Talvez, para os próximos filmes, poderiam matar os dois protagonistas, mudar o título para Bad Girls, e dar um sopro de originalidade no roteiro. Só assim para evitar as piadas e as caras sem graça de Martin Lawrence e a preguiça de atuar de Will Smith.
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