― Você foi o mais perto que eu já cheguei de amar alguém – ela assumiu, com uma voz fraca em meio a chuva torrencial que caia do lado de fora.
De costas para sala, contemplava o gotejar frenético dos céus. Ele parecia triste, como ela. Só que ela não queria chorar e sua garganta já até doía por conta do nó de lágrimas que prendia.
― Às vezes eu me pego pensando que a nossa história poderia ter sido tão diferente… Poderia ter dado certo desde o princípio – constatou, meio sonhadora. – Só que por algum motivo que eu nunca vou entender uma quantidade absurda de razões protelaram nossa possível felicidade juntos. Então, às vezes, eu também penso que não era pra ser.
O vento forte levantava as folhas do chão e as fazia rodar em círculos pelo ar, misturadas com as secas que caíam das árvores e os frutos ainda não maduros que despencavam ao chão pela impiedade da ventania.
― Mas em dias como esse me dá uma saudade absurda de você. De estar apaixonada por você, tão alucinadamente, mesmo que não necessariamente de forma correspondida. E você me dói, sabe? Lá no fundo. E de certa forma eu sei que qualquer um que venha agora, eu vou comparar com o que eu senti por você.
O vidro da janela já estava ficando turvo por conta das gotas que respingavam incessantemente, assim como a visão dela estava ficando cada vez pior a cada nova lembrança que sua mente trazia à tona.
― E, até agora, eu nunca senti nada tão forte. Juro que tentei. Já chorei por outros, já namorei com outros, já me embebedei e gritei por outros. Mas olha, no fundo eu sempre volto a pensar em você. Sei lá, sempre que me bate a ressaca moral eu penso em você. Me vejo sozinha, penso em você. Tá frio e toca John Mayer, eu penso em você.
A lareira no canto oposto da janela crepitava. Estava tanto frio que não havia uma alma viva na rua. O cachorro da casa estava enrolada na frente da lareira, bem perto do quentinho, enquanto sua dona tremia um pouco mais a distância. Não é possível assegurar se era de frio, ou de saudade.
― Acho que pensar em você significa que eu não te superei totalmente e às vezes tenho duvidas se algum dia vou superar. Ou, de repente, significa que eu tenho tanto medo dessa minha solidão de ultimamente que penso em você para me reconfortar.
Não era mais possível controlar suas lágrimas. As lágrimas subiram de sua garganta para seus olhos e ela sentiu um filete gelado escorrer pela sua bochecha. Outro. Mais um. Incontroláveis.
― E eu só queria que você soubesse que eu acho que se você estalasse os dedos dando a entender que me queria, nem que fosse só por uma noite, eu iria – conseguiu dizer, entre soluços. Certa de que aquilo era péssimo, mas incapaz de mudar seu destino.
Então, virou-se. Para encarar o nada. Ele não estava ali para ouvi-la, nem nunca esteve. Seu cachorro soltou um suspiro profundo, lá de perto da lareira e ela sorriu torto, limpando suas lágrimas. Até quando precisaria ter esses diálogos consigo mesma? Ela só queria que ele soubesse – mas tinha uma forte certeza interior que ele nunca saberia.
Por Clara Savelli
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