Que Stephen King é um dos maiores escritores dos tempos atuais, é fato. Independente disso, há de se reparar que poucos são os autores que são populares como ele em termos de adaptação de livros para o cinema. Do enorme conjunto de sua obra, que cresce cada vez mais, há de tudo. Desde estrondosos sucessos que despontam em bilheteria, a exemplo de “It-A Coisa”, passando por clássicos como “O Iluminado” e até mesmo contando com filmes praticamente trash,como são “O Cemitério Maldito” e “Christine – O Carro Assassino”. Tal variedade também se reflete nos gêneros por quais King passeia, mas sem nunca perder sua característica qualidade. Talvez seja a forma com que constrói os personagens e a atmosfera de suas histórias que o torne tão atrativo para que tenha sua arte adaptada para diversas mídias. Seja num drama familiar ou num terror mais clássico, os elementos principais estão todos ali. Não é raro, inclusive, que esse escritor misture gêneros diferentes com domínio tão pleno da escrita.
“1922” nomeia o mais recente longa que se origina dessa série de adaptações literárias. Como indica o próprio título, assistimos um enredo referente a um fazendeiro que, em 1922, conspira matar sua esposa por interesses financeiros. É um ato que acaba envolvendo também seu filho, e que traz drásticas consequências. O fio condutor da história é, então, o próprio autor do crime, que ao escrever sua confissão, no presente, leva o espectador ao passado, funcionando como um longo flashback. Dada a força da premissa, é natural que haja uma tensão crescente até que as coisas enfim aconteçam, o que inclui o estabelecimento da monotonia da vida na fazenda e seu cotidiano. Não é uma ideia que funciona com totalidade, já que é possível se questionar se um filho decidiria ser cúmplice no assassinato da mãe com tanta facilidade, ou também por alguns conflitos que não parecem plenamente construídos. Ademais, o restante do desenrolar do longa parece se afastar da ideia de que elementos mais sinistros, até sobrenaturais, são de natureza mais metafórica, ao menos na obra de Stephen King. Não é uma ideia que é jogada fora por completo, mas que faz diferença no trabalho final. O que importa é que a jornada de degradação mental de um homem a partir de um ato que comete está aqui, e isso dá o a essência necessária para o filme.
Por outro lado, a direção e a fotografia realizam trabalhos particularmente competentes na criação da atmosfera de “1922”. É possível notar o clima bucólico dos locais em que a narrativa se passa e como isso é fortalecido pela paleta de cores que se faz presente aqui. Juntamente a isso, os figurinos, maquiagem e direção de arte também são bem sucedidos nessa tarefa, sobretudo quando em espaços pequenos. Talvez por ser uma produção diretamente para a televisão, esse tipo de questão fique melhor quando em cenas minimalistas, onde o diretor aproveita e posiciona a câmera bastante perto de seus personagens. Quando vemos ambientes urbanos, a computação gráfica fica bem evidente e é consideravelmente artificial.
“1922” pode não ser tão bom quanto algumas adaptações de Stephen King, mas não chega a ser ruim. Tem méritos inegáveis e consegue manter aquilo que há de fundamental em seu livro originário, mantendo uma aura minimalista e auto-contida a maior parte do tempo. Seus defeitos, de toda forma, não passam despercebidos, e não tem como não imaginar que poderíamos ter tido uma produção com mais potencial caso não fossem eles. Isso pode nem vir a ser grande problema, na realidade, já que a proposta desse filme pode ser mais modesta, mesmo, sem necessidade de se tornar um grande nome ou de revolucionar o cinema.
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