A atual guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe o sentimento de impotência em todo o cidadão consciente do planeta, isso porque parece impossível para quem não tem um fuzil, um jato ou um tanque lutar pelas frágeis vidas de mulheres, crianças e idosos que estão em meio aos tiros e explosões. Essa sensação de impotência é a mesma que assolou aqueles que presenciaram conflitos no passado, como a guerra entre Líbano e Israel ocorrida em 1982. O ano em questão serve como título para o longa de Oualid Mouaness, que conta a história de professores e alunos em uma escola libanesa durante a invasão israelense que desencadeou a guerra citada acima.
“1982”, portanto, fala sobre a guerra, mas ao mesmo tempo sobre esperança, amor e inocência. O choque entre os sentimentos nobres e a violência, inclusive, proporciona uma boa reflexão sobre o estado humano, e o faz com um crescente clima de tensão que permeia o filme do início ao fim. O garoto apaixonado pela garota, e que tenta por meio de desenhos e cartas declarar seu amor, é constantemente atrapalhado pelas bombas. O professor ama a professora (Nadine Labaki), mas o rádio com as notícias da guerra traz outras prioridades que o fazem deixar de lado seu relacionamento. A direção de Mouaness constrói essas situações através de vários takes que mostram um lindo céu azul que esconde em seu infinito a constante ameaça de bombardeios inimigos. A professora, em certo momento, até abre as janelas para encher de luz a sua sala e absorver toda essa beleza que, mesmo com a ameaça opressora vinda do inimigo, ainda traz a esperança de liberdade e vida para aquela escola. Outro interesse do diretor é as cenas de transição que mostram a escola rodeada por uma floresta, como se essa fosse o último bastião civilizatório frente a barbárie.
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As explosões, no entanto, vão chegando cada vez mais perto da escola, e os personagens tentam manter um status de normalidade até o momento em que uma bomba cai próxima o bastante para que se comece a evacuação. As trevas vencem a luz, e os personagens se dão conta de que não há mais nada a se fazer além de fugir. Mas, fugir para onde, já que o conflito está em todas as partes? Os ônibus então são aleatoriamente enchidos de crianças, e o congestionamento de carros dos pais faz da fuga algo ainda mais desesperador e impotente. Mais uma vez, as trevas vencem.
No entanto, o garoto não desiste da vida normal que ele pretende para seu futuro, e é aí que “1982″ ganha contornos de fábula e faz da imaginação infantil uma fuga da barbárie. É importante que o roteiro tenha essa mudança de direção e faça do otimismo sua bandeira, porque, depois disso, qualquer espectador fica convencido de que ainda há uma maneira de sermos felizes como irmãos, mesmo que tenhamos nacionalidades e religiões diferentes. A dúvida que fica é: será que a realidade imitará a ficção de “1982” algum dia? Não dá para saber, o que nos resta é esperar e esperar…
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