É sempre gratificante quando, em meio ao mar de comédias mequetrefes que são lançadas por ano, um filme do gênero consegue se destacar pela sua inventividade e competência. O mais recente exemplo disso é “A Noite do Jogo”, a nova comédia blockbuster produzida pela Warner Bros., que mesmo não sendo muito inovadora, é uma mistura engenhosa de humor pastelão com thriller criminal que funciona bastante e não só isso: é realmente engraçada.
Escrito por Mark Perez, o roteiro trata de Max (Jason Bateman) e Anne (Rachel McAdams), um casal extremamente competitivo e apaixonado por jogos que gosta de reunir seu grupo de amigos de tempos em tempos para uma noite de jogos, desde mímicas a jogos de tabuleiro. Essa rotina é interrompida quando Brooks (Kyle Chandler), irmão mais velho de Max – com quem tem uma relação perturbada –, retorna para a cidade após um período ausente e decide fazer uma jogatina em sua casa, na qual ele contrata uma empresa que encena mistérios e assassinatos para os jogadores resolverem. A reunião é interrompida quando Brooks é, de fato, sequestrado, mas os demais acham que é apenas parte da encenação, e continuam investigando como se fosse um jogo.
O modelo de história cômica que consiste em um evento inicial dando errado, seguido de diversos acontecimentos que vão se tornando progressivamente mais absurdos, já foi estabelecido e refeito diversas vezes, mas o roteiro de Perez consegue se diferenciar por sua sagacidade. A história já entretém o suficiente pelo seu aspecto de mistério, mas se destaca mesmo pelo seu humor negro, seus momentos galhofas e pelo tom debochado das piadas autoconscientes que os seguem.
Além da trama principal, o script também tem algumas subtramas, a maioria focada nos personagens secundários, que são bem utilizados ao longo do filme, mas que também podem parecer um pouco rasos, já que não possuem muita caracterização além das piadas que fazem. Todos esses acontecimentos simultâneos no roteiro são administrados de maneira compreensível, mas o enredo fica confuso no final quando é iniciada uma sequência de reviravoltas que, na hora são divertidas, mas em retrospectiva tem vários detalhes que não fazem sentido.
O principal motivo pelo qual a história funciona na telona, porém, é o seu elenco carismático e com um humor afiado. Rachel McAdams e Jason Bateman funcionam bastante como o casal principal e os dois tem um timing cômico perfeito e uma química crível, com McAdams fazendo a mulher animada ao lado do marido cínico de Bateman. Outros destaques incluem Billy Magnussem, que encarna Ryan, o “amigo burro”, e Jesse Plemons, que também demonstra seu talento para momentos humorísticos interpretando Gary, o vizinho estranho que ninguém gosta. Atores mais conhecidos, como Jeffrey Wright, Michael C. Hall e Chelsea Peretti, aparecem na produção em papéis menores, mas que são memoráveis o suficiente e não parecem ser apenas um desperdício de talento, como geralmente é o caso com essas “pontas” em comédias blockbuster.
A direção da dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley também é repleta de elementos cômicos, como o uso de trilhas sonoras destoantes e cenas exageradas que parodiam os clichês de comédias românticas. O equilíbrio que os diretores alcançam entre o grotesco e o engraçado também é notável, particularmente em momentos mais tenebrosos, como quando um personagem tem que remover uma bala do braço de outro, que se tornam divertidos pelo modo casual e cínico que são abordados.
A técnica da dupla também não deixa a desejar, com um trabalho de câmera inventivo e diferente, se aproximando às vezes do estilo de Edgar Wright, como visto pelas séries rápidas, planos detalhe que são geralmente usadas para estabelecer uma cena. São comuns também alguns enquadramentos mais inusitados, como a câmera que gira junto com a tranca de uma porta, ou a que se mantém fixa em cima de um carro durante uma perseguição, quase como um vídeo game. De longe, o mais impressionante desses é uma cena que simula um plano sequência no qual os protagonistas correm por uma mansão, jogando um objeto roubado uns para os outros, ao mesmo tempo em que desviam de inúmeros seguranças.
“A Noite do Jogo” é uma comédia que surpreende em todos os seus aspectos: as atuações inspiradas, a direção criativa e a história louca, porém, o seu melhor ponto é realmente o seu humor. Enquanto outros caem na mesmice de piadas escatológicas e referências forçadas, o filme consegue ser engraçado sem ser apelativo, e isso o torna uma das produções do gênero mais interessantes a sair no últimos anos.
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